março 30, 2005

Depois não digam que eu não avisei

A cama ainda estava revolta, da noite anterior. Lençóis e edredon misturavam-se numa amálgama com os pijamas despidos à pressa. Os dois corpos nús, entrelaçados, dormiam o sono cansado de um amor feito de forma ávida , de quem não se vê mas se deseja durante alguns dias.

Ele acorda primeiro. O cheiro a sexo que paira no quarto invade-lhe as narinas e fá-lo sorrir enquanto olha para ela.O cabelo negro, comprido, cobre na quase totalidade a almofada,deixando-lhe, no entanto, o rosto a descoberto. Destapa-a devagarinho. Dorme de barriga para cima, o peito a descoberto subindo e descendo em respiração compassada, uma perna cruzada por cima das dele tapa-lhe o monte de Vénus.
Toca-lhe nos mamilos muito levemente com a ponta dos dedos, deixando-os entumecidos.
Ela suspira, mexe-se ligeiramente e encosta-se mais a ele, numa oferta inconsciente. O contacto daquele corpo quente aumenta-lhe o desejo e descola-se dela, devagarinho, para logo lhe começar a beijar o corpo; lentamente, para não a acordar, vai roçando os lábios nos ombros, no colo, passando levemente com a língua de vez em quando. Beija-lhe os mamilos, o que a faz gemer baixinho iniciando um movimento ondulante que a percorre de alto a baixo. Ele vai descendo lentamente, abrindo-lhe as pernas com as mãos e ela acorda aos poucos, estando já perfeitamente desperta quando a boca dele começa a explorar o seu sexo.
Os dedos dela entram nos cabelos dele em suaves carícias, cada vez mais rápidas e intensas à medida que se aproxima uma explosão de prazer. E outra. E outra ainda, que a deixa exausta.

_Deita-te,murmura ela...
Ele sorri e brinca com ela,deitando-se de barriga para baixo. Mas ela não desiste e deita-se em cima dele, colada, os mamilos a roçarem nas costas e a língua, ávida, a percorrer o pescoço e a nuca. Ele vira-se rapidamente,o desejo a crescer cada vez mais e ela abocanha-o , brinca, mordisca, lambe, até o sentir louco de desejo. Sai da cama, foge dele. Mostra-se, pavoneia-se à sua frente, mas não o deixa tocá-la.
Ele perde a cabeça, agarra-a e dobra-a pela cintura penetrando-a violentamente por trás e puxando-lhe os cabelos. Ela segura-lhe as nádegas e marca o ritmo, cada vez mais rápido, até soltarem os dois ao mesmo tempo um grito de prazer, ele penetrando-a cada vez mais fundo e ela pedindo mais. Ele explodiu dentro dela, inundando-a, ao mesmo tempo que ela se contraía ritmicamente num orgasmo violento.
Deitaram-se naquela posição, suados, ele em cima das costas dela, beijando-lhe a face de lado e acariciando-lhe o cabelo.

_Bela maneira de começar o dia, disse ele, piscando-lhe o olho.



Acordou, sobressaltada, com umas mãos húmidas e frias que a fizeram arrepiar. Detestava mãos húmidas. Arrepiou-se com desagrado enquando as Mãos lhe diziam: Vamos, levanta-te. Está na hora.
Levantou-se, ainda atordoada e desconheceu o sítio onde estava.Aquele local não era o seu quarto, não estava a sair da sua cama, não tinha o seu pijama vestido.
Estava numa camarata suja, exígua, onde dezenas de pessoas se levantavam de enxergas imundas, fazendo filas indianas com quem saía de outras camaratas iguais. Seriam, agora, umas centenas.
Sentiu cada vez mais que não pertencia ali, que não devia estar ali, que aquele lugar não era o dela mas, estranhamente e à medida que a fila ia avançando não sabia para onde, foi-se sentindo parte daquela engrenagem absurda. A sensação de frio foi aumentando à medida que caminhava e deu consigo a tiritar, coisa que parecia não incomodar os restantes colegas de marcha.
Aliás, olhando-lhes os rostos inexpressivos pareceu-lhe que se tratavam de robots programados com um fim definido.

( Ora bem, aqui estou lixada porque na minha cabeça surgem dois finais e não consigo definir qual dos dois encaixa melhor. Escolham vocês aquele que vos apetecer mais).

1- Sentiu que tinha que fazer alguma coisa. Não podia continuar ali, num local que não conhecia, com uma identidade que não era a dela, com um final de viagem desconhecido. Deu um passo para o lado e saiu da fila. Parou, enquanto todos os outros continuaram, imperturbáveis à sua saída durante uns segundos. Mas, de repente, tudo aconteceu. A fila inteira começou a desmoronar-se, a separar-se em fragmentos, as pessoas a caírem com gritos de ajuda que a deixaram em pânico, tentando de novo integrar-se na fila para que tudo voltasse ao estado ordeiro. Em vão. Nada restava senão um amontoado de corpos inertes. Tentou abraçá-los a todos, numa tentativa de desculpa, mas era tarde demais. As Mãos fizeram-se sentir de novo, empurrando-a firmemente para lá da própria memória, onde ainda está até hoje. Ainda aperta as próprias mãos uma na outra, húmidas e frias elas agora, também. Talvez um dia chegue a sua vez de ir acordar alguém.

2- Deixou-se guiar por eles,amedrontada, percebendo que eles sabiam o caminho a seguir. Foi ficando cada vez mais escuro, até que deixou de ver totalmente e se deixou guiar apenas pelos passos de quem seguia imediatamente à sua frente.
Subitamente, o chão desapareceu-lhe debaixo dos pés, caindo num buraco escuro que parecia nunca mais acabar. Tentou gritar, em vão, já que nenhum som lhe saía da garganta, ao mesmo tempo que se debatia na queda numa tentativa infrutífera de contrariar as leis da gravidade.
Estranho era que o que começou a sentir aos poucos lhe começou a agradar. O frio foi sendo substituído por uma agradável sensação de calor, de aconchego, como se uns braços fortes a envolvessem e a protegessem da queda, travando-a progressivamente.
_ Acorda, tontinha... Estás a ter outro pesadelo? Psiu... pronto, já passou. Eu estou aqui.

março 29, 2005

Indecisão

_ Ó mãe, tu pareces um homem a conduzir!

Não sei se tome isto como um elogio ou um insulto sexista...

Acabei de chegar do cinema. Fui ver o Mar Adentro. Ainda sob o efeito do filme, apenas digo que a morte é algo com uma enorme dignidade. Assim nos deixem.

março 27, 2005

Weird

A vida tem destas coisas.
Um dia pensamos que somos dispensáveis para uns, no outro ouvimos entre lágrimas convulsivas de outros que nunca estamos lá, que não damos apoio, que andamos agressivos, que não estamos bem. Quem estará, alguma vez, bem?
A vida é bem lixada.

março 25, 2005

Memórias

Há um poema de Guerra Junqueiro que me é muito querido.
Não tenho noção de quando foi a primeira vez que o ouvi, porque a minha mãe cantava-mo para adormecer, quando eu era bebé.
Nunca mais ouvi falar dele até o meu filho nascer e ela recomeçar a cantar, com aquela voz doce de uma mãe que embala um filho e fazer despertar em mim recordações inconscientes.
Aprendi-o e comecei a cantá-lo também aos meus filhos.
Tenho-o cantado como forma de acalmar bebés e crianças pequeninas que tenho que tratar e começam a chorar por serem tocados por alguém que não conhecem.
Resulta quase sempre. Páram, de olhos muito abertos para mim, enquanto eu , baixinho, lá vou cantarolando os versos e sorrindo para eles enquanto trabalho.

Há uns anos, estava eu no Portugal dos Pequeninos em Coimbra, deparei com este mesmo poema na parede de uma casa. Sorrir com cumplicidade para uma parede é uma coisa perfeitamente idiota, mas foi o que fiz. E segui, com um filho em cada mão, cantando.

Não sei porquê ( ou até sei mas não me apetece expô-lo aqui), hoje apeteceu-me partilhar este poema e o que sinto quando o canto. Tenho pena de não conseguir pôr a música, mas também não seria de todo agradável ouvirem-me a cantar.
É assim:

A Moleirinha

Pela estrada plana, toque, toque, toque
Guia o jumentinho uma velhinha errante
Como vão ligeiros, ambos a reboque,
Antes que anoiteça, toque, toque, toque
A velhinha atrás, o jumentinho adiante!...

Toque, toque, a velha vai para o moinho,
Tem oitenta anos, bem bonito rol!...
E contudo alegre como um passarinho,
Toque, toque, e fresca como o branco linho,
De manhã nas relvas a corar ao sol.

Vai sem cabeçada, em liberdade franca,
O jerico ruço duma linda cor;
Nunca foi ferrado, nunca usou retranca,
Tange-o, toque, toque, moleirinha branca
Com o galho verde duma giesta em flor.

Vendo esta velhita, encarquilhada e benta,
Toque, toque, toque, que recordação!
Minha avó ceguinha se me representa...
Tinha eu seis anos, tinha ela oitenta,
Quem me fez o berço fez-lhe o seu caixão!...

Toque, toque, toque, lindo burriquito,
Para as minhas filhas quem mo dera a mim!
Nada mais gracioso, nada mais bonito!
Quando a virgem pura foi para o Egipto,
Com certeza ia num burrico assim.

Toque, toque, é tarde, moleirinha santa!
Nascem as estrelas, vivas, em cardume...
Toque, toque, toque, e quando o galo canta,
Logo a moleirinha, toque, se levanta,
Pra vestir os netos, pra acender o lume...

Toque, toque, toque, como se espaneja,
Lindo o jumentinho pela estrada chã!
Tão ingénuo e humilde, dá-me, salvo seja,
Dá-me até vontade de o levar à igreja,
Baptizar-lhe a alma, prà fazer cristã!

Toque, toque, toque, e a moleirinha antiga,
Toda, toda branca, vai numa frescata...
Foi enfarinhada, sorridente amiga,
Pela mó da azenha com farinha triga,
Pelos anjos loiros com luar de prata!

Toque, toque, como o burriquito avança!
Que prazer d'outrora para os olhos meus!
Minha avó contou-me quando fui criança,
Que era assim tal qual a jumentinha mansa
Que adorou nas palhas o menino Deus...

Toque, toque, é noite... ouvem-se ao longe os sinos,
Moleirinha branca, branca de luar!...
Toque, toque, e os astros abrem diamantinos,
Como estremunhados querubins divinos,
Os olhitos meigos para a ver passar...

Toque, toque, e vendo sideral tesoiro,
Entre os milhões d'astros o luar sem véu,
O burrico pensa: Quanto milho loiro!
Quem será que mói estas farinhas d'oiro
Com a mó de jaspe que anda além no Céu!

Guerra Junqueiro

Canta para mim, mãe...


Já me tinha esquecido de como é bom o semi acordar de madrugada com o som da chuva a bater nos vidros do quarto e ficar ali ,quietinha na cama, a ouvi-la tentar entrar.
( O fim de semana segue dentro de momentos)

março 24, 2005

A versão do post anterior em bom português

Já vos aconteceu alguma vez acordarem e, depois de olharem à volta, acharem que são perfeitamente dispensáveis às pessoas que vos são importantes?
Garanto-vos que é fodido.

Pode ser que com o fim de semana isto melhore.
Boa Páscoa, seja lá o que isso for. Volto Domingo.

março 23, 2005

Xadrez


Era tudo estranho, visto lá do alto. As pessoas que sempre tinha conhecido, amado, com quem tinha partilhado uma vida, tornavam-se peças autónomas de um tabuleiro de xadrez e ela assistia ao jogo, impotente para lhe mudar o resultado.
Estava habituada a fazer parte de tudo o que via, agora, avançar sem ela. Percebeu então a relatividade de se ser insubstituível. Ninguém o é. Nunca. As engrenagens continuam a girar ,mesmo faltando algumas peças e resultado final é necessariamente diferente, mas não menos eficaz, nalguns casos.

Viu quem conhecia continuar rotinas anteriores, iniciar algumas novas e dar o fim necessário a outras.
Percebeu que quem amava continuava vivo e a levantar-se da cama da mesma forma, a ir trabalhar às mesmas horas e a seguir em frente, dando a sensação quenada tinha mudado. Pelo menos visto lá de cima.

Desceu e misturou-se com eles, tentou mostrar que continuava ali, que ainda amava, que conseguia rir e chorar. Em vão. Ninguém parecia vê-la. Percebeu então que já não pertencia ali. Elevou-se, devagarinho, lançando um último olhar àqueles que tanto amava. Atirou-lhes um beijo e acenou em despedida. E seguiu o seu caminho, chorando. As lágrimas transformaram-se em chuva e ela viu-os a olhar para cima, espantados. Tinha conseguido finalmente mostrar-se?
Logo abriram os guarda chuvas, para se protegerem...

março 22, 2005

Amizade

Isto das amizades é uma coisa estranha. Melhor dizendo, não é nada linear, como afinal nada o é nas relações humanas.
Temos amigos que podemos não ver durante anos mas, quando nos encontramos, parece que apenas algumas horas nos separaram. São aquelas pessoas a quem contamos tudo, sem restrições, mesmo sabendo que cometemos os maiores erros, as maiores asneiras. E temos a certeza que nos dão um abraço apertado e nos emprestam o ombro para chorar; sem recriminações ou conselhos falsamente paternalistas. E que ficam verdadeiramente felizes por nós quando nos sentimos felizes.
Essa relação de confiança demora algum tempo a estabelecer,claro, mas não é gerada necessariamente com os amigos mais antigos. Questão de empatias.
E há sempre o risco de nos enganarmos, de criarmos demasiadas expectativas em relação a algumas Amizades que nunca o chegam a ser. São apenas conhecimentos fortuitos , vidas que, por um ou outro motivo, se cruzaram temporariamente.
Ou então, tudo isto é uma grande treta preciosista e eu é que sou demasiado exigente. Pensando bem, talvez seja isso mesmo. Mas não posso exigir aos outros menos do que a mim. E conhecimentos tenho muitos , mas Amigos muito poucos.

Isto é um teste

É que, quando faço posts mais ou menos sérios, não há comentários.
Se escrevo porcarias fúteis, toda a gente se manifesta. Ora vamos lá a isto:

março 21, 2005


A tarde estava no fim e os corpos contraíram-se uma ultima vez em simultâneo, num terminar de um orgasmo conjunto.
Ficaram abraçados, ofegantes, a cabeça dele poisada no ombro dela enquanto ela lhe afagava ligeiramente o cabelo.
Estavam de olhos fechados, os dois. Ele ainda dentro dela, molhando-a com o sémen que escorria lentamente . Ela gostava do que sentia e ele sabia disso. Cruzou as pernas por cima das costas dele, de modo a encaixá-lo mais ainda no seu corpo. Ele correspondeu, aninhou-se melhor e beijou-a docemente nos lábios. Beijaram-se de novo, desta vez de olhos abertos e sorriram. Um torpor foi-se apoderando deles e adormeceram.

Ela acordou primeiro, horas depois, com ele já deitado a seu lado. Olhou-o, vendo o peito forte subindo e descendo ao ritmo da respiração compassada. Sentiu-se orgulhosa de saber-se desejada por um corpo assim. Enroscou as pernas nele que,sentindo-se tocado, sorriu a dormir procurou-lhe os dedos, que entrelaçou nos seus.

Acordaram já a noite ia alta, perdidos no tempo:
_Que horas são?_perguntou ele.
_Horas de estarmos a dormir_ respondeu ela, a rir.
_ Já dormes..._disse-lhe ele ao ouvido.

Ela riu de novo e ofereceu-lhe os lábios, abertos, num convite explícito. Possuiram-se de novo num desejo que chegava a queimar, até o fogo adormecer primeiro que eles.

E só então veio o sono tranquilo dos que dormem nos braços de quem amam.

março 20, 2005

Mudanças

Está-me a apetecer mexer no aspecto do blog, pôr um look mais Primavera / Verão. Actualizar os links, etc e tal...
Para quem não percebe um boi de HTML isto vai ser tarefa complicada. Pelo sim pelo não, vou gravar este template, não vá a coisa correr para o torto.

março 19, 2005



Gosto de livros. De me acercar deles e de lhes tocar com as pontas dos dedos , devagarinho. Sentir a textura das capas, observar as cores. Abri-los deixar o cheiro a tinta entranhar-se-me nas narinas, enquanto vejo o tamanho e o tipo de letra em que foram impressos. Sinto-lhes o peso nas mãos, enquanto procuro o resumo e me deixo envolver um bocadinho na história que o percorre.
Leio duas ou três páginas do primeiro capítulo, depois. E, se me agradar, compro.
Nem sempre esta última regra é válida. Às vezes compro sem espreitar primeiro, como aconteceu ontem com Memória das Minhas Putas tristes; García Márquez não precisa de cartão de visita.
Mas quase 14 € por um livro , neste país, parece-me verdadeiramente excessivo. Os livros deviam ser gratuitos, na minha utopia.

E não me respondam com a palavra biblioteca. Não sou capaz, mas juro que já tentei. Só que aquela componente esquizóide que todos nós temos ( ou não ) impede-me de conseguir ler livros já lidos por muita gente. Manuseados. Dobrados. Sublinhados. Violados na essência daquilo que partilham comigo quando os leio. Porque o acto de ler é intimista para mim. Talvez por isso não tolere que estejam a ler por cima do meu ombro. Aquilo é uma relação a dois. Eu e o livro. Sem intrusos.

março 17, 2005

Poste rápido...

Só para dizer que a Primavera anda a dar cabo de mim.
Benditas ferormonas!!

março 16, 2005



Andava publicar esta fotografia há uns meses. Não o fiz ainda porque não fui eu que fotografei, mas a autora também não tem sensibilidade suficiente para perceber o que captou. Que se lixe.

Este lugar cheira a misticismo por todos os lados. Conhecia a vila perto do qual se situa, mas este recanto tinha-me passado ao lado.
Mas eu conto a história: num passeio de grupo, momentos antes de subirmos a um castelo, aconteceu uma situação que me perturbou muito. Subi a colina de cabeça perdida, sem saber sequer para onde estava a ir, tentado disfarçar o que me ia cá dentro. Subi ainda ao ponto mais alto do castelo, curiosamente de costas voltadas para este cenário. Ao chegar lá acima, virei-me e senti um baque. E soube naquele instante que tinha que ir ali. Pus um ar blasé e fiz a proposta ao grupo e lá fomos. Pouco me importava, eu iria sozinha na mesma.
Há medida que me fui aproximando e entrei naquele espaço, senti-me inundada de magia , de regresso a um passado que nunca vivi, de histórias de cavaleiros e donzelas, amores e desamores, espiritualismos, vivências, histórias em tempos paralelos. E senti que, algures no tempo, já ali tinha pertencido.
Vou lá voltar brevemente. Mas sozinha . Com chuva. E deixar-me fundir com os sentimentos enquanto a água cai do céu para me lavar de todas as coisas más.
É o "meu refúgio".

Mano a mano II

Pronto, já está.
Finalmente ganhei coragem e pus a tua fotografia na moldura. Mas isto só depois de hoje ter estado aqui no pc a enviar umas outras fotos prometidas há muito e ainda em falta; estavam ao lado daquela pasta que tem as fotografias dos anos da tua filha. Aquelas que tiraste para experimentar a minha nova máquina digital, lembras-te? Não acreditei, quando olhei para elas, como é possível um grupo de pessoas envelhecer assim tão depressa, tão de repente. Afinal, a miúda fez anos em Setembro... Estávamos todos a rir muito, não me lembro porquê. Nem importa. Ríamos, apenas. A Terezinha já estava grávida, mas nem vocês sabiam ainda. Gosto de uma fotografia dela , com os dois ( três) miúdos ao colo, com um ar cansado mas feliz.

Claro que chorei,nem preciso de to dizer. E foi quando consegui secar as lágrimas que fui pôr a tua fotografia na moldura. Tenho que me habituar a olhar para ela, não posso continuar a fugir. Não quero. Estás ao pé da moldura ainda vazia onde tinha a fotografia dos teus filhos, aquela que te pus dentro do casaco quando te dei um beijo de despedida. Vou escolher uma recente para lá pôr e depois vou mudando, para tu veres como eles crescem.

Os próximos dias vão ser difíceis: faz amanhã dois meses que foste embora e sábado é o Dia do Pai. A professora das nossas filhas não queria que a turma fizesse prenda por causa da Catarina, mas a catraia decidiu que toda a gente fazia, ela incluída; e que sábado ta vai levar ao cemitério. É uma valente, a tua filhota! E vais ter uma pedra pisa papéis pintada por ela ao pé de ti. Tem andado bem disposta, apesar de às vezes a Terezinha a apanhar a chorar às escondidas ao pé da tua fotografia. Levei-a a ver a Disney on Ice com a Inês e ela adorou.

Eu vou-me aguentando, sabes como sou. Mas com as emoções alteradas sinto que alguns valores também se alteram. Problemas que noutra altura seriam dolorosos mas ultrapassáveis tornam-se verdadeiras catástrofes. Pequenas quezílias que deveriam estar esquecidas porque foram esclarecidas voltam-me à memória e magoam-me tanto como se tivessem acabado de acontecer. Ou então nada disto está a acontecer e eu estou a ser mais complacente que o costume com medo de que, com a minha instabilidade emocional e hábito de estar sozinha, me esteja a tornar injusta.
E aprendi a calar-me. É verdade, mano, a maior refilona das redondezas,que não guardava nada cá dentro, aprendeu a calar-se. Pelo menos até arrumar o meu interior e conseguir voltar a ser a pessoa lúcida que sempre me considerei. E sei que vou conseguir. Um dia.

março 11, 2005

Mais um fim de semana...

... e este é dos bons.
Vou juntar aqui em casa algumas pessoas de quem gosto muito. Nada como conversar e rir olhos nos olhos.
Por isso, até domingo à noite não há blog para ninguém.

Até lá, divirtam-se e façam muitos bebés. Ou , pelo menos, treinem.

Bom fim de semana.

março 10, 2005

Conversa no MSN

"Sonhei contigo, esta noite, mas zanguei-me contigo. Apareceste-me com uma barriguinha tão linda e tão grande. E amuei por não me teres dito nada antes. "

Minha querida amiga, fica aqui a promessa de que, se algum dia esse precalço me acontecer, serás a segunda pessoa a saber. LOL

Vade Retro, sua desgraçada!

Notas mentais:

1. Não tentar mais adormecer com fome, só por ter preguiça de levantar e ter que lavar os dentes de novo.
2. Não ir para a cama sem tomar metade do comprimido para dormir se, conhecendo-nos como ninguém, sabemos que por diversos motivos a noite vai ser de insónia.
3. Deixar as angústias ao pé do creme de noite e não as meter no bolso do pijama.


Bom dia.

março 09, 2005

Labyrinthic Black Hole


Caminhava às cegas no terreno acidentado e na escuridão total. Os restantes sentidos estavam em alerta máximo, numa tentativa de superar a falta da visão. Inutilmente. Apesar de avançar devagarinho, tateando aqui e acolá, deparava-se frequentemente com obstáculos inesperados que impediam a progressão regular do seu caminho. Chegou a magoar-se seriamente, por uma ou duas vezes. Enganou-se frequentemente no trajecto, esbarrando com paredes inamovíveis que faziam com que tivesse que recuar e procurar uma alternativa diferente.
Mas continuava, persistente.Nada iria fazer com que desistisse de encontrar uma saída.

Mas foi a saída que se resolveu mostrar.
Caiu num buraco negro por onde rodopiou tempos que não conseguiu contar. Assustou-se. Gritou. E continuou a cair.
Lembrou-se da Alice no País das Maravilhas e do Chapeleiro Louco; achou que iria finalmente ver a famosa luz branca no fim do túnel, porque enquanto caía a sua vida passava-lhe velozmente em frente dos olhos, numa espécia de ecrã circular, rodopiando durante a queda.
Reviu-se em criança, em adolescente, experimentou de novo os sonhos e as sensações vividas ao longo de todos os anos. Viu passar, subindo, pessoas de quem tinha muitas saudades, bem como outros que já tinha esquecido, porque a memória nos prega destas partidas.

De repente, parou. Ficou como que num estado de levitação ali, no escuro, sem ninguém. Movimentava-se como se não existisse gravidade, mas não tinha a certeza de conseguir sair do mesmo sítio. Até que percebeu que não adiantava fazer qualquer esforço para sair dali. Porque não estava ali, de facto. O preto é a ausência de cor. A ausência de nós mesmos, também.

março 08, 2005

Dia Internacional da Mulher

Ai, que bom.
Ai, que estou tão contente.
Ai, é óptimo ter um dia para mim.

Pardon my french, mas puta que pariu quem inventou esta idiotice. Os dias são meus, todos, sem excepção.

março 06, 2005

Freitas do Amaral

Deviam ter deixado o retrato lá na sede do CDS, mas assim:

Futuro

O futuro é perfeito. Justamente por isso, por ser futuro; por não ter ainda acontecido. E, quando mergulhamos nele, filtramos as coisas más , inevitáveis, que virão a acontecer e demoramo-nos pelas boas, de forma a sentir quão felizes poderemos ser.
Pena é que Vida não possa ser vivida neste futuro.
O tempo assumiria, assim, proporções diferentes: no passado ficariam enterrados, bem fundo, os acontecimentos maus, que magoam, que marcam, que nos deixam tristes. E viveríamos felizes.
O presente? Pura e simplesmente não existiria, por não fazer falta.
Tenho saudades do futuro.

março 04, 2005

Não escrevo porque não me apetece e porque se não me apetece e não tenho assunto para escrever não tenho nada que andar a inventar inutilidades e coisas ainda mais chatas e por isso até me apetecer este blog fica assim e mais nada.

Safa! Saramago, como consegues?

março 01, 2005

Gentes e climas incongruentes

Andou a protecção civil a anunciar vagas de frio o mês passado. Compreensível, apesar de o frio não ter sido mais do que o habitual para a época. Apesar disso, montaram-se abrigos, abriram-se as portas do metro, serviram-se refeições quentes a quem necessitava. Continuo a achar tudo muito bem, mais vale prevenir...

No Domingo, ouvi anunciar ventos de origem polar para Espanha, que iriam originar temperaturas muito baixas naquele país. De Portugal, nem se falou; tivemos (e temos ainda), no entanto, um frio do qual não tenho memória. Onde estão as medidas que foram tomadas o mês passado?

Os senhores da protecção civil onde estão, para não terem feito o alardo do costume? A passar férias no Brasil, quentinhos?

Ó vida...

Ser Mulher é, a cada dia que passa, mais complicado.
Estive há pouco a fazer o jantar e, simultaneamente, a instalar a rede wireless cá de casa no portátil novo do teenager inconsciente cá do sítio.
Entre uma volta no rolo de carne, uma mexidela no arroz e um Enter no pc, lá fui resolvendo o asunto.
Até onde irá a polivalência feminina no séc. 21?