julho 28, 2005

Setenta e dois visitantes ontem, o máximo desde que iniciei este blog, há pouco mais de um ano.
Hoje,a esta hora, exactamente metade.
Número de comentários= zero.
Ou estou a perder o jeito ou...

Is there anybody outhere?... or are you just a bunch of E.T.'s just trying to piss me off?

A partir de agora, por cada entrada é obrigatório um comentário! ;-)

E eu PROMETO que respondo a todos... er.....bem, a QUASE todos.

E mais que uma onda, mais que uma maré...
Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé...
Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade,
Vai quem já nada teme, vai o homem do leme...

julho 27, 2005


Fim de tarde. Deitada em cima da cama, tenta conciliar o sono depois de um dia cansativo.
Os olhos começam a fechar, por fim, no meio de pensamentos conturbados que rapidamente se transformarão em pesadelos.
Antes de se deixar embalar no sono, começa a ouvir um ruído que, apesar de desaparecido há meses, lhe é familiar. Pingos de chuva caem no gradeamento das varandas, dando aquela sensação de conforto e companhia que tanto a consolam.

Abre os olhos. Pela janela, observa a água que começa a cair, primeiro tímida e depois em cascata celeste. Levanta-se e corre para a varanda. Aquele odor da terra seca acabada de molhar, de longe o seu cheiro natural favorito, invade-lhe as narinas juntamente com o calor que sai da terra seca de meses sem uma gota de chuva.

Estica os braços e sente a água fria, gotejante, a escorrer-lhe na pele. Não resiste e vai para a rua, descalça, deixando percorrer na pele os pequenos fios de líquido transparente. Rodopiando e dançando enquanto a chuva cai cada vez com mais intensidade. Ri-se enquanto vira o rosto para o céu e, ensopada, se deita no chão ainda quente.

Finalmente a tempestade passa e ela volta para casa, embrulha-se numa toalha felpuda e cai na cama num sono sem sonhos mas, pela primeira vez hámuitos meses, sem pesadelos.



Sufoco.
Entre estas quatro paredes que teimam em se fechar, mais e mais, deixando-me sem ar. Esta casa vazia, com completa ausência de sons, de emoções, de vivências.
Saio para a rua.
Em vão.
A atmosfera, carregada de electricidade, deixa no ar faíscas que me incendeiam por dentro.
Corro.
Não sei para onde, porque não tenho destino marcado. Ou teremos sempre um destino traçado?
Passo por quem me conhece desde sempre, por quem cumprimento diariamente sem falar, desta vez.
Ser conhecida arrepia-me, agora. Quero anonimato, perder-me no meio de uma multidão que passa, indiferente, às minhas lágrimas. Quero conhecer a sensação de andar na rua sem ser apontada, comparada, analisada.
Quero começar tudo de novo... Dizem que, quando se fazem quarenta anos, se viveu metade da vida.
Mentira!
Posso morrer amanhã, agora, aqui...
Mas, pensar que gastei metade da minha existência, faz-me olhar para trás e não gostar do que vejo.
E quero, antes de morrer, aproveitar para renascer.
Por isso, vou pegar nas minhas duas asas, sem as quais não sobrevivo e vou partir para o desconhecido, saltar no escuro e esperar conseguir voar...

julho 26, 2005


Passeemos por estas margens, de mão dada, ouvindo a água a correr. Sentemo-nos à sombra, com os pés no rio, sentindo a corrente por entre os dedos.
Vamos conversar baixinho, para não assustar os passaritos e porque nos ouvimos melhor quando conversamos baixo. Puxa-me para junto de ti e deita a minha cabeça no teu ombro; aconchega-me num abraço apertado, envolve-me em ti e faz-me sentir que sou única. Beija-me a testa, os olhos, a boca. Deita-me na relva e faz amor comigo, como fazem duas pessoas que se amam. Enxuga-me as lágrimas que verto no fim.
Depois levanta-te e parte. Deixa-me naquele sítio onde fomos felizes os dois; porque há locais especiais onde se é feliz. Nem que seja por breves instantes.

Driving

Saiu da letargia em que se encontrava e, subitamente, pegou nas chaves do carro e no telemóvel.
Fechou a porta de casa como quem vai voltar no minuto seguinte e, sem olhar para trás, sentou-se ao volante. As bombas, ao pé de casa, encontravam-se vazias àquela hora e atestou o carro rapidamente.

Senta-se ao volante, põe o cinto e ajusta o corpo ao banco enquanto direcciona o espelho retrovisor. Suspirou. Conduzir costumava acalmá-la, reduzir-lhe a ansiedade que, de quando em vez, se instalava dentro de si. Mas hoje sabia que não ia ser tarefa fácil. Os olhos, ainda inchados do choro, estavam escondidos por detrás dos óculos escuros, apesar de ser quase noite. Anoitece cedo no Inverno e um arrepio de frio trespassou-a, levando-a a ligar o aquecimento. Novo suspiro, enquanto roda a chave na ignição e avança lentamente para a estrada. Não faz a menor ideia do percurso que vai fazer. O carro, mais uma vez, vai ter vida própria.

Um turbilhão de imagens percorre-lhe o cérebro à medida que a paisagem da pequena cidade dá lugar à auto-estrada. Sorri quando se lembra dos momentos bons, das cumplicidades, das juras de amor eterno. Estremece quando ainda sente o cheiro dele; o toque dele; o olhar dele, meigo, que se iluminava quando a via chegar.

As lágrimas teimam em cair de novo, toldando-lhe a visão, quando se lembra do telefonema da tarde: _ Não, não quero que venhas. Preciso de estar sozinho para clarificar as ideias. Ainda gosto de ti, mas é por tua causa que estou assim, preciso de um tempo, de espaço para clarificar as ideias. Um dia destes telefono-te.

Juras de amor eterno? Claro! É eterno enquanto dura. Culpabiliza-se mais uma vez sem descobrir, no entanto, onde falhou e, perdida nos pensamentos o carro continua a rodar, sem ela perceber, para a Grande Cidade. Percebe que, não há necessariamente culpa. A chama por vezes extingue-se por motivos tão subtis que nunca se chegam a tornar conscientes.

Encosta o carro e chora. As suas palavras" Ainda gosto de ti " fazem cada vez mais eco dentro do cérebro. Enxuga as lágrimas quando, subitamente, vê onde o instinto a levou. Está na Grande Cidade. Aquelas avenidas que, à custa de as percorrer, se tornaram familiares, estão agora iluminadas enquanto o trânsito, pouco devido à hora, abranda lá ao fundo, sem parar. Avança devagarinho, sem saber o que se passa, mas curiosa e ao mesmo tempo contente por saber que não está sozinha nas ruas. A Grande Cidade tem sempre pessoas a circular. Anónimos, talvez criminosos mas, seguramente, no meio daquelas pessoas, algumas estariam a caminho de casa onde eram esperados.

Casa? Era isso, CASA. Sentia-se em Casa ali, e não na pequena cidade de onde tinha partido há poucas horas. Devagar, foi-se aproximando do local onde os carros quase paravam e descobre, à medida que avança, uma amálgama de luzes. É Natal e nem se tinha apercebido! Uma gigantesca árvore de Natal, multicolor, ilumina a praceta roubando a quem passava um rasgado sorriso.

Estaciona o carro e sai, percebendo que a árvore está colocada na praça onde ele vive. Pega no telemóvel e, sustendo a respiração, marca o número dele.

Ao primeiro toque vira-se para trás e deixa que as luzes da árvore lhe batam em cheio no rosto, enquanto formula o desejo do seu presente de Natal: que ele atenda.

julho 24, 2005

Esperas

_Olá, esperavas-me há muito?
_Sim.
_Ops... muito mesmo?
_Sim... desde sempre.

julho 20, 2005

Novo visual.
Até me fartar deste também :-)

julho 19, 2005


Vai. Segue o teu caminho como sempre fizeste, sem olhares para trás.
Caminhemos em direcções opostas, de costas viradas, como dois estranhos que se cruzaram num acaso.
Deitemos fora os sentimentos, as recordações, os afectos, as juras de amor.
Vamos começar vidas novas, um sem o outro.
E se algum dia, por mero acaso, os nossos olhares se cruzarem numa rua qualquer, finjamos que somos, um para o outro, não mais do que anónimos no meio da multidão.

Não tinha que ser assim, sabes? Mas partilhar-te era insuportável. Queria-te só para mim e descobrir-te dividido deitou tudo a perder. Porque quando se ama há a necessidade de nos sentirmos únicos, insubstituíveis. Por muito que me desses, o que oferecias à outra parte fazia-me sempre falta. Porque era meu por direito.

Por isso, vai. Segue sempre em frente porque a tua caminhada nunca terá retorno.
E eu vou começar, devagarinho, a escalar esta nova montanha para a qual olho e me parece intransponível. Vou cair algumas vezes, eu sei. Magoar-me. Pensar em desistir e seguir o teu caminho, plano e morno. Mas sei que, ao chegar ao cimo, vislumbrarei uma paisagem de Vida que, de outro modo, nunca teria. Vou encher os pulmões de ar, deixar que o Sol me tome o rosto, que o vento me sacuda os cabelos e, finalmente, perceberei que mesmo por caminhos difíceis se consegue ser feliz.

julho 14, 2005

As maravilhas da Internet

_ ó Dona Clara, mas o acidente do seu filho foi grave?
_ Foi pois, minha senhora. Mas não me fizeram como da outra vez, que lá por ser cigana me queriam enganar.
_Então?
_ Fui lá fazer tamanho barulho, gritei lá tanto que num instante me mandaram as chapas, as análises e o cachopo para Lisboa, tudo pela Internet!!!

Ausências

de coisas que ficam por dizer
de sentimentos reprimidos
de inseguranças
de sonhos bons
do teu corpo
do teu cheiro
de tranquilidade
de vidas por viver

julho 10, 2005

Encontros 4

Quando acordou, Mariana não percebeu logo onde estava. Apenas teve a certeza que aquela não era a sua cama e aquele não era o seu quarto. Tentou mexer-se, mas imediatamente uma dor insuportável no braço a fez parar. Gemeu baixinho e abriu os olhos. Uma voz serena disse-lhe:
"Não se mexa, minha senhora. O escritório foi assaltado e a senhora foi alvejada. O alerta foi dado pelo segurança, que ouviu o tiro. Não se aflija, não parece grave; apenas um rasgão num músculo do braço, mas no hospital tratam disso. Vai ser já transferida para lá. Pode indicar-nos alguém que possa fazer um primeiro inventário do que falta?"
"Sim", "gemeu ela, a minha secretária... Dou-lhe já o número."

Pensou telefonar ao filho mas imediatamente varreu essa ideia. A última coisa que queria era preocupá-lo e estragar-lhe as férias.
Pensando melhor, não tinha a quem telefonar. Uma profunda solidão invadiu-a de repente, doendo mais que tudo. Aninhou-se na maca e deixou-se ir.

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Teresa viu-se pela última vez ao espelho. Estava deslumbrante. O vestido branco, curto, realçava na perfeição o bronzeado perfeito que contrastava com os longos cabelos loiros. Pegou na carteira e saiu de casa a correr tão depressa quanto os saltos, altíssimos, lhe permitiam. Já estava atrasada e não queria causar má impressão a Pedro que, a esta hora, já a devia esperar no restaurante. Chamou um táxi que passava na altura. "Não levando carro, Pedro teria que a trazer a casa", pensou. "Funcionava sempre".

Quando entrou no restaurante, Teresa sentiu todos os olhares pousarem nela. De admiração ou inveja, consoante se tratasse do sector masculino ou feminino. Pedro, numa mesa discreta, levantou-se com um sorriso e recebeu-a com um beijo no canto da boca. " Divina"murmurou-lhe ao ouvido.

Enquanto jantavam iam conversando de tudo e de nada, conversa de circunstância de um primeiro encontro. Quando o telemóvel de Teresa toca, Pedro franziu os lábios. Não gostava de telemóveis em restaurantes daquele tipo, para a próxima iriam a um local mais informal.
Percebendo, Teresa balbuciou uma desculpa enquanto Pedro recordava como, quando saía com Sofia, os telemóveis ficavam em casa. Depressa varreu esses pensamentos, olhando a cara assustada de Teresa.
"É do meu escritório", balbuciou assustada,"parece que houve um assalto e a directora foi baleada. Tenho que ir já para lá!"

julho 08, 2005

Encontros 3

Rosa sorriu quando viu um número desconhecido a fazer tocar o seu telemóvel. Instintivamente, sabia quem era. Não era difícil, sabia a impressão que deixava nos homens e orgulhava-se disso. Os seus 26 anos conferiam-lhe uma juventude que a forma invejável completava, formando uma figura que ao passar na rua, fazia rodar cabeças.

Atendeu o telefonema de Pedro ansiosamente. Tinha-lhe agradado o ar calmo daquele homem, contrastando com o modo ousado com que a olhava. Sentiu desejo quando os seus olhos pousaram nos dela na véspera e isso agradou-lhe. Também gostou do doutor que ouviu quando a empregada da lavandaria lhe entregou a roupa. Ambiciosa, achava que merecia melhor sorte que um emprego de secretária. Queria ter roupa de marca, perfumes caros, passear pelo mundo; e conseguir isso enquanto nova, para poder usufruir de tudo muito tempo.

Mas, mais do que isso, Pedro tinha algo de diferente que a atraía inexplicavelmente. E queria saber o que era...

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João sentou-se ao volante do carro deixando para trás o hospital, a multidão e a cidade. Guiou em direcção ao mar, sem nenhum destino especial. O simples prazer de conduzir e o cheiro do mar faziam com que o stress acumulado durante a semana ficasse para trás.

Preocupado com Pedro, era dele a imagem que via enquanto o carro percorria paralelamente a linha do mar. Aquele tipo não anda nada bem, pensou. Nunca mais foi o mesmo... Quando deu por si, viu que percorria inconscientemente um caminho bem conhecido pelo qual já não passava há alguns anos. Deixou-se ir, até parar à porta de um pequeno bar de praia, encravado entre a rocha e a areia onde as ondas, no Inverno, salpicavam os vidros em dias ventosos. Mas agora era Verão e as janelas apenas reflectiam o azul do mar sempre frio daquela zona.
O bar, antigo refúgio, continuava como dantes; talvez a madeira das paredes estivesse mais fustigada pelo tempo. Frequentado apenas por quem sabia dar com ele, encontrava-se quase deserto àquela hora do dia. Apenas umas costumeiras bicicletas, um jipe coroado com duas pranchas de surf e um carro de matrícula italiana povoavam o exíguo estacionamento. Itália fê-lo pensar de novo em Pedro, contrariado.

Entrou e olhou para a mesa onde, anos antes, se reunia com o grupo de amigos tardes a fio. Estava ocupada por uma mulher sentada de costas para a porta . Fez um esgar de contrariedade (afinal aquela mesa seria sempre deles), imediatamente seguido de um ar de incredulidade. Reconheceria aqueles cabelos onde quer que fosse.
Dirigiu-se para a mesa e olhou a mulher nos olhos: Sofia? Que fazes aqui?



(Continua...)

julho 07, 2005

Encontros 2

Meteu as mãos no cabelo num gesto que, quem a conhecia, sabia de cansaço e stress. Recostou-se na cadeira tentando saborear aquele final de dia, princípio de fim-de-semana, em que a suave luz do pôr do sol lhe invadia o escritório pela janela envidraçada. Estava sozinha, todos os colegas tinham já partido num frenesim próprio de quem tem vontade de chegar a casa, ao restaurante, onde quer que fosse.
Sabia-lhe bem o silêncio e deixou-se ficar mais um pouco, Afinal, os seus planos de fim de semana passavam apenas por eventuais idas à esplanada da praia com uma das suas leituras de momento ou um jornal, filmes em casa e dormir.
Tirou os sapatos e pôs as pernas em cima da secretária, massajando-as lentamente. Aqueles saltos altos davam cabo dela e sentiu um alívio imediato.

Acordou já a noite se tinha instalado; o escritório, completamente às escuras, assumia contornos e sombras assustadoras para quem não conhecesse bem o terreno. Riu-se, imaginando rocambolescas histórias de raptos e assaltos em que seria salva por um herói que, assim que a visse, se apaixonaria imediatamente.
Um ruído estranho no escritório do lado fê-la sobressaltar-se. Afinal, não estava sozinha! Algum colega que se tinha esquecido de algo, claro... Acendeu a luz e calçou-se sem pressas, mas algo a fez parar; o ruído, furtivo, era de alguém que não queria ser ouvido e Mariana sentiu-se assustada.Parou e, no compartimento do lado, o ruído interrompeu-se. Quem quer que fosse, sabia que ela estava ali...
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"Doentes, doentes e mais doentes", pensou Pedro. Devia ter seguido o conselho do pai, médico também, e seguir uma profissão em que não houvesse bancos, nem noites, nem tanto sofrimento à sua volta; para sofrimento bastava o seu, interior, de memórias felizes mas que não passavam disso mesmo: memórias.
"Acorda, pá, estás a dormir?-perguntou o João. "Ultimamente andas sempre na lua."
Pedro sorriu e respondeu à chamada que , insistente, se fazia ouvir no intercomunicador do hospital.

A voz da amiga com quem tinha saído duas vezes na semana fez com que franzisse as sobrancelhas, num gesto de desagrado. Afinal, se tinha desligado o telemóvel era porque não queria ser incomodado, muito menos por tipas que se insinuam a toda a hora. Despachou-a em três tempos, abruptamente. A última coisa que ouviu foi algo como " Não é possível ser tão bruto hoje e tão meio há três dias..."

Desligou-lhe o telefone na cara e foi tomar um café, não pensando mais nela. Era só mais uma e, afinal, tinha conhecido na véspera a Rosa, enquanto esperava pela roupa na lavandaria. Era sexta- feira, fim-de-semana sem bancos , o primeiro de há meses. Ligou o telemóvel e tirou da carteira o papel escrito à pressa que ela, discretamente, lhe tinha metido na mão. 96......


( Continua...)

julho 06, 2005

Encontros

Olhou a imagem reflectida no espelho. 40 anos. Meia idade. Em teoria, ainda viveria outro tanto. Pensou na sua vida até agora e conjecturou como seria o futuro.
Meia idade o caraças, pensou!
Deixou a imagem dos olhos pisados pela noite mal dormida e saiu de casa. O trabalho esperava-a, como sempre. Trabalho, trabalho e mais trabalho. Os últimos anos tinham-se resumido a ser Trabalhadora a tempo inteiro e Mãe nas horas vagas. Por esta ordem; há já muito tempo que não sabia o que era uma sala de cinema, um jantar de amigos, uma conversa sem nexo entre risadas.

Suspirou. O trânsito, caótico como sempre, iria atrasá-la mais uma vez. Nem o mês de Agosto tinha, este ano, diminuído a torrente de carros. Cada vez as pessoas vão menos de férias, pensou. Lembrou-se das contas ainda por pagar e voltou a suspirar. O Bernardo precisava de uns ténis novos e quando voltasse do campo de férias teriam que os ir comprar.

Lembrar-se do filho despertou-lhe a saudade. Quando chegasse ao escritório ia telefonar-lhe. Mas agora, afinal, estava semi de férias por não ter horários de escolas a cumprir. O horário de Mãe estava temporariamente vago e não sabia que fazer ao tempo livre. Praia? Dormir? Ler?
Chegou ao emprego e um " Bom dia, doutora Mariana... tem uma reunião daqui a 5 minutos" despertou-a para a realidade.
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Pedro chegou antes da hora ao hospital, como de costume. A colega que tinha feito o banco durante a noite agradeceu-lhe, com um sorriso mais aberto do que seria necessário. Sorriu-lhe de volta, timidamente. Sabia o efeito que provocava nas mulheres, apesar de não perceber o motivo. Lembrou-se da D. Eugénia, a doente do consultório que, desconfiava ele, apresentava mais queixas que as verdadeiras para lá poder ir mais amiúde.

João, o colega de sempre, ria-se e dizia: Não sei como consegues isso, tens cá uma sorte com as gajas! Mas trabalho é trabalho e Pedro não queria ter casos com colegas de trabalho. Era muito complicado ter que lidar com elas, depois de as coisas acabarem. Porque acabavam sempre.
Para ele, as mulheres eram, depois de Sofia, objectos descartáveis. Usar e deitar fora. Relações sérias e duradoiras não estavam nos seus planos.


( Continua...)