setembro 24, 2006


Fecha os olhos.
Acerta a respiração com a dele compassada, rítmica, típica de quem dorme calmamente.
Aproxima a mão do corpo dele mas não o toca, percorre-o a milímetros de distância sentindo o calor que dele emana.
Sorri, no escuro do quarto e da noite.
Molda o seu corpo ao dele, finalmente.
Sente-o estremecer com o contacto da sua pele. Estremece também, enquanto o abraça.
Domem na eternidade do tempo ou apenas, quando o hoje será o amanhã

setembro 20, 2006

Já passou a primeira semana de aulas. Aquilo é giro, trocam-nos o horário como quem muda de camisa e passamos todos a vida à nora. E não fica por aqui, ao que parece.
Matéria mais que muita, trabalhos de grupo muitos, também. Fui adoptada pela turma, afinal tenho tantos anos de trabalho como alguns de vida. E agora ando de ténis sempre, que isto de fazer meia hora a pé e em contra relógio todos os dias tem que se lhe diga. Nos meus grupos de trabalho tenho Miriams, Selmas , Biancas e putos de cabelo espetado e madeixas loiras. Depois riem-quando eu pergunto 3 vezes como se chamam. Mas todos têm uma energia que se transmite aos que , como eu, vltaram a estudar.
O M. dize que se soubesse que era assim já tinha voltado há mais tempo.
Ainda ando a planar no meio de tudo, tive que fazer tantas mudanças no meu dia-a-dia que para o se passou há dois meses parece que passaram dois anos. O que não deixa de ser muito bom. É tipo uma cura de sono acordada! E depois há coisas novas muito boas...
Ando cansada, claro. Mas espero que seja apenas por não me ter habituado ainda ao novo ritmo.
Vou espreitando aqui mesmo sem tempo para escrever. Desculpem não responder aos comentários, qualquer coisa mais importante usem e abusem do mail do blog.
Beijos e abraços.

setembro 17, 2006


Olho-me nos teus olhos.
Revejo-me menina, a saltar no jardim sem saber como seria o dia de amanhã, sem me preocupar com ele.
Como agora, nos teus braços. Sem futuro nem passado, os relógios parados para que apenas o presente conte. O tempo não existe, quando estou contigo. Tu és o próprio tempo, eterno,constante.
Fecho-me no teu sorriso e esqueço o mundo lá fora. Esqueço preconceitos, tabus, dogmas e entrego-me sem restrições, porque sou tua no acto de amar.
E, quando os relógios avançarem e eu acordar do sonho, bastará fechar os olhos para te ter de novo comigo...

Até sempre.

Olha em redor pela última vez. Evita os olhares de quem, como ela, está triste pela partida, olhares esses marejados com lágrimas de saudades antecipadas.
As paredes, os cheiros, as mobílias, ganham novas cores na hora da despedida. Há anos que passa por elas, indiferente no seu quotidiano. Repara numa mancha no tecto que nunca tinha visto, um pequeno defeito naquela porta... tudo é visto numa perspectiva diferente naqueles últimos minutos. Não vale a pena falar daquilo, aliás, não consegue falar, de todo.
A próxima vez que ali entrar já não será " da casa" e sentir-se-à como uma estranha, desambientada.
Nunca gostou de despedidas e quer fazer isto de forma rápida.
Uns beijos e umas palavras murmuradas ao ouvido de cada um e vê-se a descer aquelas escadas mais uma vez. Pela última vez.
E entra no carro a chorar.

setembro 12, 2006


Corro.
Em todas as direcções e sentidos. Sei onde vou mesmo sem tempo para pensar porque o faço.
Respiro o ar que desloco à minha passagem, fresco, inovador.
Mudanças, muitas.
E rio enquanto corro, rio sem parar.
Estou feliz.

setembro 10, 2006


Sábado, 5 e meia da tarde. Quando, em Setembro, estão dias quentes assim, o sol parece que desce sobre as nossas cabeças de tão baixo que está.
Saio do Instituto cansada mas feliz, a primeira aula correu lindamente.
Decido ir ver o último filme de Pedro Almodovar antes de regressar ao inferno ( leia-se santa terrinha) e vou até ao Marquês apanhar o metro. Já na estação, reparo em tuas mulheres, cada uma com um bebé ao colo. Imigrantes. Romenas, ao que me pareceu. Muito jovens as duas, uma delas não sei se já teria 18 anos, aspecto andrajoso. Sujas, elas e as crianças. Entraram no metro ao mesmo tempo que eu e começaram a pedir esmola. Incomoda-me isto, por muito que tente nunca consigo ficar indiferente quando vejo crianças envolvidas.
Quando passaram por mim, consegui ver o rosto da criança que a mais nova transportava ao colo. Que olhos! Azuis claros, quase transparentes... tão inquiridores. O cabelo loiro quase branco contrastava com as roupas sujas que trazia vestida. Não tinha seguramente 4 meses.
Olhou-me com aqueles olhos lindos e riu-se para mim.
Apeteceu-me levantar, dar àquela mulher todo o dinheiro que tinha e não tinha na carteira e ficar com aquela criança, trazê-la para casa e dar-lhe tudo aquilo a que têm direito as crianças. Cobri-la de mimos.
Sem se aperceber de nada, a mãe (?) beijou-a no rosto e ela sorriu
E eu, ali , percebi que a felicidade tem parâmetros muito diversos.
Afastaram-se as duas carruagem fora.

setembro 08, 2006

Pinta-me...


Pinta-me de mil cores.
Faz do meu corpo nu a tua tela e transforma-me numa obra de arte eterna.
Toca-me com as cerdas macias dos pincéis misturando em mim mil cores e texturas, roçando ao de leve as pontas dos teus dedos num acabar perfeito do quadro que sou.
Quando terminares, olha-me.
Sou a tua sensibilidade, a tua arte, tua criação.
Sou tua.

*Foto de Bernd Mayr

setembro 07, 2006

Nasceu sob o signo da Lua e nunca conheceu outro. Aprendeu a gostar da sua suavidade, da semi escuridão que o envolvia, da fresca aragem da noite.
Descobriu que é possível percorrer com segurança alamedas de sombras difusas com recantos onde, de vez em quando, se ouvem ruídos desconhecidos.

Até que veio o Sol, que primeiro o cegou e depois o consquistou com os seus raios quentes, a sua luz que revelava os mais ínfimos pormenores do que o rodeava. E esqueceu a Lua.

Um dia, o Sol foi-se embora, fugaz.
Ele, triste,resolveu fechar os olhos para sempre e viver em total escuridão, relembrando o tempo do Sol.
Nem viu a Lua que lhe abria os braços, lá no alto, para o consolar.

setembro 06, 2006


Fechou a porta de casa atrás de si, sem a fechar à chave. Nunca fechava a porta à chave.
Mirou-se no espelho do elevador e gostou do que viu. A saia branca, curta, contrastava com o bronzeado de fim de Verão que a sua pele morena ostentava e o cabelo preto, comprido, caía em soltos caracóis sobre a t-shirt rosa choque.
Meteu-se no carro e percorreu a curta distância que a separava do destino em poucos minutos e, entregando o carro ao arrumador, subiu os degraus do velho solar que albergava o restaurante.
Percorreu a sala com os olhos enquanto aguardava que a recebessem.
Ele ainda não tinha chegado. Atrasado, como de costume, pensou, contrariada...
Deu o nome e, qundo se aproximou da mesa, viu um jarro branco depositado na cadeira que o empregado afastou para que se sentasse.
_ Isto deve ser engano, disse-lhe...
_Não, minha senhora, não é_ respondeu ele com um sorriso.
Confusa, pegou na flor e sentou-se. Em cima da mesa estava um bilhete manuscrito. Reconheceu-lhe a letra na curta frase: Casas comigo?
Sorriu e fechou os olhos enquanto, ao ouvido, alguém lhe murmurava baixinho: Casas?

setembro 03, 2006

Olhó blog fresquinhoooo!

Nasceu mais um fotoblog.
A Cristina teve a ideia, o Pêndulo convidou-me e lá estamos no Contador de Viagens. Já lá há fotografias muito bonitas. Enjoy it!
O link vai, como de costume, para a coluna da direita.

Feitiços e feiticeiros

Surgem não se sabe de onde, do nada. Quando nos apercebemos estão ao nosso lado, entranhados na nossa pele, fazem parte de nós.
Suaves.
Podem ser uma leve brisa que nos arrepia, um raio de sol que nos aquece a pele numa fria manhã de Outono, uns salpicos de onda quando passeamos na praia.
Também podem ser uma frase que se ouve de passagem, um sorriso de um desconhecido com quem nos cruzamos na rua, uma pele desconhecida que toca involuntariamente na nossa no meio de uma multidão anónima.

Mas marcam-nos.
Pensamos neles, cada vez mais, de dia para dia.
E o feitiço cresce, hiperboliza-se, toma conta de nós; é uma luz que nos envolve, de noite e de dia, na qual não conseguimos tocas mas sabemos que está lá, porque a vemos e porque a sentimos.

E é então que não resistimos mais, nos deixamos ir e desejamos que este seja um feitiço bom...

Lindo!!

" Não sei qual é a pergunta, mas a resposta é sexo."
Woody Allen

setembro 02, 2006

Acabaram-se as palavras. Ficaram apenas os gestos, numa linguagem secreta que só nós conhecemos. Dos nossos lábios apenas sai o ar que expiramos, num silvo de inexpressivo significado.
Sorrimos.
Um nevoeiro denso abate-se sobre nós e agora apenas nos adivinhamos pelos contornos.
Sem palavras.
Sem gestos.
Unimo-nos num beijo que sela a eternidade , mistura de salivas e cheiros. De corpos húmidos.
Ao longe, nada se percebe, a paisagem continua imutável.
Apenas nós sabemos que estamos ali.

setembro 01, 2006

Blue eyes

Sábado, 5 e meia da tarde. Quando, em Setembro, estão dias quentes assim, o sol parece que desce sobre as nossas cabeças de tão baixo que está.
Saio do Instituto cansada mas feliz, a primeira aula correu lindamente.
Decido ir ver o último filme de Pedro Almodovar antes de regressar ao inferno ( leia-se santa terrinha) e vou até ao Marquês apanhar o metro. Já na estação, reparo em tuas mulheres, cada uma com um bebé ao colo. Imigrantes. Romenas, ao que me pareceu. Muito jovens as duas, uma delas não sei se já teria 18 anos, aspecto andrajoso. Sujas, elas e as crianças. Entraram no metro ao mesmo tempo que eu e começaram a pedir esmola. Incomoda-me isto, por muito que tente nunca consigo ficar indiferente quando vejo crianças envolvidas.
Quando passaram por mim, consegui ver o rosto da criança que a mais nova transportava ao colo. Que olhos! Azuis claros, quase transparentes... tão inquiridores. O cabelo loiro quase branco contrastava com as roupas sujas que trazia vestita. Não tinha seguramente 4 meses.
Olhou-me com aqueles olhos lindos e riu-se para mim.
Apeteceu-me levantar, dar àquela mulher todo o dinheiro que tinha e não tinha na carteira e ficar com aquela criança, trazê-la para casa e dar-lhe tudo aquilo a que têm direito as crianças. Cobri-la de mimos.
Sem se aperceber de nada, a mãe (?) beijou-a no rosto e ela sorriu
E eu, ali , percebi que a felicidade tem parâmetros muito diferentes.
Afastaram-se as duas carruagem fora.