março 09, 2005

Labyrinthic Black Hole


Caminhava às cegas no terreno acidentado e na escuridão total. Os restantes sentidos estavam em alerta máximo, numa tentativa de superar a falta da visão. Inutilmente. Apesar de avançar devagarinho, tateando aqui e acolá, deparava-se frequentemente com obstáculos inesperados que impediam a progressão regular do seu caminho. Chegou a magoar-se seriamente, por uma ou duas vezes. Enganou-se frequentemente no trajecto, esbarrando com paredes inamovíveis que faziam com que tivesse que recuar e procurar uma alternativa diferente.
Mas continuava, persistente.Nada iria fazer com que desistisse de encontrar uma saída.

Mas foi a saída que se resolveu mostrar.
Caiu num buraco negro por onde rodopiou tempos que não conseguiu contar. Assustou-se. Gritou. E continuou a cair.
Lembrou-se da Alice no País das Maravilhas e do Chapeleiro Louco; achou que iria finalmente ver a famosa luz branca no fim do túnel, porque enquanto caía a sua vida passava-lhe velozmente em frente dos olhos, numa espécia de ecrã circular, rodopiando durante a queda.
Reviu-se em criança, em adolescente, experimentou de novo os sonhos e as sensações vividas ao longo de todos os anos. Viu passar, subindo, pessoas de quem tinha muitas saudades, bem como outros que já tinha esquecido, porque a memória nos prega destas partidas.

De repente, parou. Ficou como que num estado de levitação ali, no escuro, sem ninguém. Movimentava-se como se não existisse gravidade, mas não tinha a certeza de conseguir sair do mesmo sítio. Até que percebeu que não adiantava fazer qualquer esforço para sair dali. Porque não estava ali, de facto. O preto é a ausência de cor. A ausência de nós mesmos, também.

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