março 16, 2005

Mano a mano II

Pronto, já está.
Finalmente ganhei coragem e pus a tua fotografia na moldura. Mas isto só depois de hoje ter estado aqui no pc a enviar umas outras fotos prometidas há muito e ainda em falta; estavam ao lado daquela pasta que tem as fotografias dos anos da tua filha. Aquelas que tiraste para experimentar a minha nova máquina digital, lembras-te? Não acreditei, quando olhei para elas, como é possível um grupo de pessoas envelhecer assim tão depressa, tão de repente. Afinal, a miúda fez anos em Setembro... Estávamos todos a rir muito, não me lembro porquê. Nem importa. Ríamos, apenas. A Terezinha já estava grávida, mas nem vocês sabiam ainda. Gosto de uma fotografia dela , com os dois ( três) miúdos ao colo, com um ar cansado mas feliz.

Claro que chorei,nem preciso de to dizer. E foi quando consegui secar as lágrimas que fui pôr a tua fotografia na moldura. Tenho que me habituar a olhar para ela, não posso continuar a fugir. Não quero. Estás ao pé da moldura ainda vazia onde tinha a fotografia dos teus filhos, aquela que te pus dentro do casaco quando te dei um beijo de despedida. Vou escolher uma recente para lá pôr e depois vou mudando, para tu veres como eles crescem.

Os próximos dias vão ser difíceis: faz amanhã dois meses que foste embora e sábado é o Dia do Pai. A professora das nossas filhas não queria que a turma fizesse prenda por causa da Catarina, mas a catraia decidiu que toda a gente fazia, ela incluída; e que sábado ta vai levar ao cemitério. É uma valente, a tua filhota! E vais ter uma pedra pisa papéis pintada por ela ao pé de ti. Tem andado bem disposta, apesar de às vezes a Terezinha a apanhar a chorar às escondidas ao pé da tua fotografia. Levei-a a ver a Disney on Ice com a Inês e ela adorou.

Eu vou-me aguentando, sabes como sou. Mas com as emoções alteradas sinto que alguns valores também se alteram. Problemas que noutra altura seriam dolorosos mas ultrapassáveis tornam-se verdadeiras catástrofes. Pequenas quezílias que deveriam estar esquecidas porque foram esclarecidas voltam-me à memória e magoam-me tanto como se tivessem acabado de acontecer. Ou então nada disto está a acontecer e eu estou a ser mais complacente que o costume com medo de que, com a minha instabilidade emocional e hábito de estar sozinha, me esteja a tornar injusta.
E aprendi a calar-me. É verdade, mano, a maior refilona das redondezas,que não guardava nada cá dentro, aprendeu a calar-se. Pelo menos até arrumar o meu interior e conseguir voltar a ser a pessoa lúcida que sempre me considerei. E sei que vou conseguir. Um dia.

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