março 24, 2006

Chuva

Espreita pela janela que a afasta do mundo e a protege. Sente-se segura ali, onde a água não chega.

Água de chuva e de lágrimas que não chora porque já as não tem para verter.

Com um só dedo, abre sulcos nas gotículas que percorrem o vidro e desenha letras ao acaso. As palavras vão surgindo sem que se aperceba delas, escritas em espelho. Na rua, passam vidas que, sem olhar, se cruzam com a mensagem que se lê naqueles vidros, um pedido de atenção que é ignorado. Mais um, entre muitos.
Dentro de pouco tempo o sol virá e secará as gotas lágrimas. E a mensagem perder-se-à para sempre.

Lá dentro, no escuro, ela morrerá mais um pouco.

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