janeiro 10, 2005

Riachos



Parou o carro, completamente perdida. Tinha andado horas, dias a fio, tinha perdido a noção do espaço e do tempo. Não parou para perguntar o caminho correcto, porque este não existia. Ou porque nenhum caminho lhe parecia correcto. O dia amanhecia, num daqueles momentos exactos em que não é ainda de dia mas também já não é de noite. Desligou o leitor de cd's e deixou-se envolver pelo silêncio, reconfortante para quem tem os pensamentos a girar a mil à hora dentro de si.
Fechou os olhos por breves momentos e pareceu-lhe ouvir o barulho de água a correr. Abriu os olhos. Não era imaginação sua, havia algures ali perto um curso de água.
Saiu do carro e caminhou por entre os arbustos densos, escuros ainda àquela hora matinal. E viu-o: um pequeno riacho corria por entre pedras e ramos, num gorgolejar reconfortante.
Tirou as botas e as meias, arregaçou as calças e sentou-se numa pedra lisa, ali na margem. Mergulhou os pés na água gelada e um súbito arrepio de frio atravessou-a. Mas deixou-se estar, com o sol que entretanto tinha nascido a brincar com os seus dedos no meio da água transparente. A corrente era fraca, mas suficiente para embater nos tornozelos e deixá-la salpicada.
No bolso das calças, o telemóvel começou a tocar... estranhamente, o toque tinha mudado e estava transformado num chilrear agradável, que em nada perturbava aquele momento.

Atendeu, olhando ainda o jogo de sedução que a água fazia com os seus dedos dos pés.
"Olá, bom dia. Estás boa? Passei a noite a sonhar contigo..."

Sorriu e mergulhou.

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