março 30, 2005


Acordou, sobressaltada, com umas mãos húmidas e frias que a fizeram arrepiar. Detestava mãos húmidas. Arrepiou-se com desagrado enquando as Mãos lhe diziam: Vamos, levanta-te. Está na hora.
Levantou-se, ainda atordoada e desconheceu o sítio onde estava.Aquele local não era o seu quarto, não estava a sair da sua cama, não tinha o seu pijama vestido.
Estava numa camarata suja, exígua, onde dezenas de pessoas se levantavam de enxergas imundas, fazendo filas indianas com quem saía de outras camaratas iguais. Seriam, agora, umas centenas.
Sentiu cada vez mais que não pertencia ali, que não devia estar ali, que aquele lugar não era o dela mas, estranhamente e à medida que a fila ia avançando não sabia para onde, foi-se sentindo parte daquela engrenagem absurda. A sensação de frio foi aumentando à medida que caminhava e deu consigo a tiritar, coisa que parecia não incomodar os restantes colegas de marcha.
Aliás, olhando-lhes os rostos inexpressivos pareceu-lhe que se tratavam de robots programados com um fim definido.

( Ora bem, aqui estou lixada porque na minha cabeça surgem dois finais e não consigo definir qual dos dois encaixa melhor. Escolham vocês aquele que vos apetecer mais).

1- Sentiu que tinha que fazer alguma coisa. Não podia continuar ali, num local que não conhecia, com uma identidade que não era a dela, com um final de viagem desconhecido. Deu um passo para o lado e saiu da fila. Parou, enquanto todos os outros continuaram, imperturbáveis à sua saída durante uns segundos. Mas, de repente, tudo aconteceu. A fila inteira começou a desmoronar-se, a separar-se em fragmentos, as pessoas a caírem com gritos de ajuda que a deixaram em pânico, tentando de novo integrar-se na fila para que tudo voltasse ao estado ordeiro. Em vão. Nada restava senão um amontoado de corpos inertes. Tentou abraçá-los a todos, numa tentativa de desculpa, mas era tarde demais. As Mãos fizeram-se sentir de novo, empurrando-a firmemente para lá da própria memória, onde ainda está até hoje. Ainda aperta as próprias mãos uma na outra, húmidas e frias elas agora, também. Talvez um dia chegue a sua vez de ir acordar alguém.

2- Deixou-se guiar por eles,amedrontada, percebendo que eles sabiam o caminho a seguir. Foi ficando cada vez mais escuro, até que deixou de ver totalmente e se deixou guiar apenas pelos passos de quem seguia imediatamente à sua frente.
Subitamente, o chão desapareceu-lhe debaixo dos pés, caindo num buraco escuro que parecia nunca mais acabar. Tentou gritar, em vão, já que nenhum som lhe saía da garganta, ao mesmo tempo que se debatia na queda numa tentativa infrutífera de contrariar as leis da gravidade.
Estranho era que o que começou a sentir aos poucos lhe começou a agradar. O frio foi sendo substituído por uma agradável sensação de calor, de aconchego, como se uns braços fortes a envolvessem e a protegessem da queda, travando-a progressivamente.
_ Acorda, tontinha... Estás a ter outro pesadelo? Psiu... pronto, já passou. Eu estou aqui.

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