Xadrez
Era tudo estranho, visto lá do alto. As pessoas que sempre tinha conhecido, amado, com quem tinha partilhado uma vida, tornavam-se peças autónomas de um tabuleiro de xadrez e ela assistia ao jogo, impotente para lhe mudar o resultado.
Estava habituada a fazer parte de tudo o que via, agora, avançar sem ela. Percebeu então a relatividade de se ser insubstituível. Ninguém o é. Nunca. As engrenagens continuam a girar ,mesmo faltando algumas peças e resultado final é necessariamente diferente, mas não menos eficaz, nalguns casos.
Viu quem conhecia continuar rotinas anteriores, iniciar algumas novas e dar o fim necessário a outras.
Percebeu que quem amava continuava vivo e a levantar-se da cama da mesma forma, a ir trabalhar às mesmas horas e a seguir em frente, dando a sensação quenada tinha mudado. Pelo menos visto lá de cima.
Desceu e misturou-se com eles, tentou mostrar que continuava ali, que ainda amava, que conseguia rir e chorar. Em vão. Ninguém parecia vê-la. Percebeu então que já não pertencia ali. Elevou-se, devagarinho, lançando um último olhar àqueles que tanto amava. Atirou-lhes um beijo e acenou em despedida. E seguiu o seu caminho, chorando. As lágrimas transformaram-se em chuva e ela viu-os a olhar para cima, espantados. Tinha conseguido finalmente mostrar-se?
Logo abriram os guarda chuvas, para se protegerem...
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