junho 23, 2005



Não lhe valia de nada abrir e fechar os olhos, a escuridão era total. Para ela, era sempre noite. Vivia num mundo monocromático, a preto. Sabia que era preto porque, há já muito tempo, o seu mundo era igual ao dos outros, cheio de cores, matizes e luzes.

Tacteou cautelosamente o espaço que a rodeava. Sentia-se sempre insegura em locais estranhos.
De repente, sentiu a sua Mão envolvida por outra quente, protectora ,aconchegante... Uma voz desconhecida murmurou-lhe ao ouvido: Não tenhas medo...
E não teve. Dia após dia, as barreiras foram caindo e, sem saber como nem quando, um pequeno ponto branco foi aparecendo no seu campo de visão, como que uma promessa de luz. A mão estava sempre lá e a segurança foi voltando. Até o sorriso voltou. Já não se lembrava de como era bom sorrir, de tal maneira que, a primeira vez que o fez, doeram-lhe os músculos da cara.

Um dia, de repente, acordou e a escuridão tinha voltado: abriu e fechou os olhos várias vezes; chorou de raiva, de tristeza. Estendeu o braço em busca da Mão. Não estava lá.

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