maio 24, 2005



Começou devagar, sem se dar por ele. Uma suave brisa fazia ondular a cortina do quarto onde tentava descansar, sem sucesso. Sentiu um arrepio de frio; não gostava de vento, deixava-a com os nervos à flor da pele. Acabou por fechar a janela e aninhou-se de novo na cama, adormecendo de seguida.

Acordou sem a menor noção do tempo passado, não sabia se tinha dormido horas ou apenas minutos. O vento, em fúria, abanava o caixilho de madeira da janela antiga, já com algumas folgas, ameaçando entrar a qualquer momento e invadir-lhe o espaço e o pensamento. Levantou-se amedrontada e espreitou a rua: as árvores pareciam gemer, curvadas perante a tempestade, folhas secas giravam no ar e as raras pessoas que passavam pareciam andar sem que os pés tocassem o chão. Fechou rapidamente as portadas interiores; em vão. A ventania assobiava por entre frestas como que numa tentativa de entrar e envolvê-la na luta entre os elementos da Natureza.
Meteu-se na cama e tapou-se totalmente à espera que tudo acabasse. Aos poucos, o vendaval foi acalmando até que os pássaros anunciaram, chilreando, o fim da ventania. Saiu, a medo, do abrigo e tudo recomeçou: o vento, os assobios, a instabilidade do clima.
Até que percebeu que a tempestade estava dentro dela e não na rua.

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