março 14, 2006

Desligou o telemóvel e olhou para ele, como se o interlocutor com quem estivera a falar pudesse, a qualquer instante, sair lá de dentro.
Suspirou. A conversa, curta, soava-lhe ainda insistentemente ao ouvido enquanto se metia no carro e vagueava sem destino no meio da cidade apinhada de gente em hora de ponta. Andou perdida no tráfego, sem destino, completamente à toa com o que tinha percebido num segundo, depois de andar meses atordoada, adormecida.
Estacionou à porta e descarregou a mala do carro.
Entrou, carregada de sacos.
Lentamente, começou a arrumar escovas de cabelos, roupa interior,cremes, papéis esquecidos, tudo quanto andava no carro há meses.
Finalmente deitou fora os sacos.
Tudo nos seus lugares.
Não percebeu porque continuava sem se sentir em casa.
Suspirou e seguiu o caminho de sempre.
Apátrida, homeless, o que lhe quisessem chamar.
Estaria sozinha.

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