agosto 03, 2006

Acordou cedo. Vestiu as mesmas roupas de sempre, escuras como o seu interior.
Pegou no saco, já preparado de véspera e, aos primeiros raios de sol, saiu para a rua. Tinha destino marcado, sabia exactamente para onde se dirigir.
Descalça, foi-lhe difícil percorrer o caminho campestre, sinuoso, mas seguiu decidida o seu caminho. Tinha que o fazer...
Finalmente, chegou à beira do precipício, que parecia que a esperava. O sol, acabado de nascer, seria a sua testemunha.
Despiu-se lentamente, tirando as roupas uma a uma e atirando-as no abismo; ficou totalmente nua e as roupas atiradas, mais leves do que o vento, dançavam à sua frente num desafio assustador.
Riu, riu como uma louca!
Aproximou-se da beira e gritou, o mais alto que pode:
_ Bom dia, Vida!!!
As vestes negras agitavam-se cada vez mais, memória atiradas do passado até que, vencidas, caíram bem lá no fundo.
Do saco, tirou as roupas novas, de cores vivas, compradas na véspera.
Vestiu-se cuidadosamente e fez o caminho de volta, com um sorriso nos lábios; deu os bons dias a todos, os conhecidos e os desconhecidos que, à sua passagem, respondiam timidamente.
Enfrentou o dia como nunca o tinha feito e, a partir daí, nunca mais vestiu de preto.

11 Comentários:

Blogger Sandra disse...

Olá Ana!
Gostei muito da maneira que começaste e como de repente inverteste a situação!
O memso deviamos fazer com a tristeza.

Beijinhos

1:04 da manhã  
Blogger Ana disse...

A ideia é mesmo essa, Sandra :-)

1:10 da manhã  
Blogger Madalena disse...

Mas nem todos têm essa coragem! Sim, é preciso coragem para mudar, para querer mudar!

Se dantes vestia roupas escuras como o seu interior, esperemos que agora ao vestir roupas de cores vivas, alegres o seu interior seja também assim... Porque há mudanças que nunca são completas, mas isso já é outra história e eu sei que, neste texto, escrito por quem o escreveu, a personagem sente-se livre e com vontade de aprender a ser feliz... as roupas são apenas o seu reflexo.

Beijo, Ana e parabéns pelo texto. Adorei! :-)*

10:30 da manhã  
Blogger anamoris disse...

Maravilhosa e cheia de esperança. Bonito, muito bonito. senti-me bem quando li. Beijos, muitos beijos.

10:44 da manhã  
Blogger mayda disse...

Texto forte este teu Ana...um começo arrepiante um fim cheio de esperança...é assim que deveria fazer...ser apenas feliz..adorei...

jocas

11:37 da manhã  
Blogger ... disse...

"Vestiu as mesmas roupas de sempre, escuras como o seu interior." - EXELENTE

11:49 da manhã  
Blogger Ana disse...

Madalena as mudanças nunca são completas; mas um texto curto peca, por vezes, pelo minimalismo :-)

Muitos beijos, anamoris... gosto de te ver sorrir :-)

Obrigada, mayda

amazing. " escura por fora e por dentro" :-)

12:31 da tarde  
Blogger calvin disse...

Apesar de ser um texto simbólico, continuo a achar que o preto não é sinónimo de tristeza ou de ausência de vida. Não somos o que vestimos, embora seja um reflexo do nosso interior.
Mas gostei do texto. Tem um rasgo de cor.
Beijinhos

10:08 da tarde  
Blogger João Barbosa disse...

Estou com Calvin! O negro é lindo!

11:09 da tarde  
Blogger Ana disse...

Eu também gosto muito de preto,mas aproveitei o simbolismo da cor.

12:13 da manhã  
Blogger AnaP disse...

Um dia temos de escolher entre seguir em frente com a vida ou saltar esse precípicio. Tem graça que desde há algum tempo que visto cores mais alegres... :)) Beijo! (adorei o texto!)

12:31 da tarde  

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