setembro 05, 2004

Amores eternos



Hoje fui passear com os pequenitos. Gosto de fazer passeios com histórias pelo meio e, enquanto conduzia, falei-lhes de reis e rainhas, tempos idos de casamentos lícitos e amores ilícitos.

Contei-lhes a história de D. Inês de Castro e D. Pedro, expliquei-lhes as pressões das conveniências, da corte, da época em que tudo aconteceu; e eles falaram da força do amor. Que não deveria ser assim,que se deveria poder estar com quem se gosta. Mas falaram entre sorrisos, um ar muito entendido demonstrativo que , para eles, aquilo foram coisas passadas há já muito tempo e que hoje os sentimentos reinam nas escolhas que se fazem, sem contratempos.

Mas, deliberadamente, omiti duas coisas: o destino do nosso passeio e o final da história de amor. Parei no assassinato de Dona Inês.

E rumei a Alcobaça, onde o mosteiro nos esperava, imponente, mas rodeado por obras intermináveis.

Quando entrámos no mosteiro , entre muitos turistas, fizémos a visita por todas as salas e deixei propositadamente a nave central para o fim.
Atravessando a imponente igreja, em silêncio, intimidados com tamanha grandeza, deparámo-nos com os dois túmulos dos amantes intemporais. Levei-os a ler a identificação de quem se encontrava ali sepultado. Arregalaram os olhos, os dois. Sentámo-nos num banco , junto ao altar principal e, em surdina, acabei de contar a história. Atónitos, olhavam de túmulo em túmulo e a pequenita pediu: Podemos ficar aqui só mais um bocadinho, mãe?

Agradeci-lhe, intimamente. Porque me apetecia ficar ali e partilhar aquela história. Porque é preciso acreditar que há amores que são eternos...

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