outubro 17, 2004

Cumplicidades

Desci a rua, apinhada de gente, misturada na multidão como sendo um deles. A tarde estava soalheira, convidativa ao passeio como que numa despedida dos últimos raios de sol e as pessoas andavam devagar, coisa rara numa grande cidade. Parecia que todos tinham percebido que era um dia puramente para passear, descontrair.


À minha frente seguia um casal perfeitamente vulgar; à primeira vista nada os diferenciava de tantos outros pares que passeavam naquele local. Mas eles seguiram diante de mim largo tempo e, enquanto caminhávamos apercebi-me da cumplicidade com que conversavam rua fora. As mãos, essas, tocavam-se amiúde e, por vezes, davam o braço;gestos casuais de quem tem anos de intimidade.
Durante algum tempo lá segui atrás deles, sem escutar no entanto uma palavra das que trocavam. Era desnecessário, provavelmente seria conversa de circunstância.

Ao fundo da rua despediram-se com um beijo, ele seguia em frente e ela virava à direita. Tive que parar atrás deles, não havia espaço para passar, a multidão continuava a passear. Ela deu dois ou três passos no seu pergurso e ele chamou-a:
-Isabel?
Ela olhou-o, interrogativa.
E as palavras saíram mudas da boca dele, apenas o gesto feito pelos lábios:
_Gosto de ti.
E sorriram ambos, seguindo cada um o seu caminho.


Esta história passou-se há cerca de um ano, mas hoje lembrei-me dela, nem sei porquê. Há coisas que inexplicavelmente nos marcam e nos levam a acreditar que os grandes amores são possíveis... e feitos de pequenas coisas.

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