novembro 07, 2004

Para as Isabéis e Carolinas

Supermercado.
Domingo ao meio da tarde.
Semana sem ter tempo para quaisquer compras.
Fim de semana de emoções fortes a ser digerido mentalmente.
Corredores apinhados de gente, gente feia e anónima que eu ignorava, rostos que nem olhava enquanto me tentava apressar para voltar a casa. Tinha saudades da minha casa, apesar de só ter passado uma noite fora, detesto supermercados a qualquer hora do dia e queria estar sozinha no meio das minhas coisas.

Já na fila, quase na minha vez para pagar, sinto um toque nas costas. Virei-me e vi a Isabel, mãe dedicada da pequenita Carolina de 5 anos que tratei durante vários meses de uma grave doença de carácter regressivo, doença de Niemann-Pick; sempre conversámos muito enquanto decorriam as sessões, eu e a Isabel; mãe esclarecida e consciente da gravidade da situação consegui , acho, que naqueles momentos ela se sentisse compreendida e ajudada. Os tratamentos acabaram por internamento ( mais um ) da Carolina e eu perdi-lhes o rasto. Até hoje.

_Olá, Ana_ disse ela com aquele sorriso triste a que eu já estava habituada. Como está?
_Isabel, que prazer revê-la! ( Pausa, em que a olhei nos olhos) Como estão as coisas?
_Já não estão, Ana... Acabou tudo em Abril. O quadro agravou-se rapidamente e as complicações respiratórias foram fatais. Agora, vive-se como se pode.
E deu-me de novo aquele sorriso digno de quem sabe que através de um sorriso também se pode demonstrar toda uma tristeza.


Há coisas que, mesmo com quase vinte anos de profissão, não conseguimos digerir sem um grande nó no estômago. E que fazem os nossos problemas pessoais parecerem tão pequeninos...

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