janeiro 24, 2005

Abraço


A campaínha tocou , assustando-a e tirando-a da letargia em que se encontrava. Arrastou-se para a porta e, sem ver quem era, abriu-a de par em par.
Olhou-o nos olhos, em busca do consolo desejado.
Ele abriu os braços, envolvendo-a num abraço apertado, enquanto lhe beijava os cabelos e lhe fazia festas no rosto.
_"Estou aqui...",dizia-lhe baixinho ao ouvido, enquanto a levava para dentro de casa. "Pronto, eu estou aqui..."
Ela deixou cair todas as barreiras, todas as defesas que tinha erguido ao longo dos últimos dias. Porque tinha que ser forte. Mas, com ele, não precisava de mostrar força. E expôs-se como ainda não o tinha feito. Não chorou, porque não tinha mais lágrimas para chorar. Enroscou-se no colo dele e deixou-se ficar de olhos fechados com a certeza de que, com ele ali, nada mais de mal lhe iria acontecer. Sentiu-se protegida e segura e, finalmente, adormeceu naquele abraço.

Quando acordou, estava sozinha novamente. A lareira, entretanto apagada, tinha deixado entrar o frio gélido da noite que entretanto tinha chegado. Sentiu um arrepio que lhe atravessou o corpo e sentiu-se atordoada, perdida no tempo. Achou que tudo não tinha passado de um sonho, que tinha estado sempre sozinha. Tapou-se ainda mais com a manta que tinha sobre si. Manta? Mas ela não se tinha tapado, tinha a certeza! Bem desperta, agora, lembrou-se que nem a lareira tinha acendido; mas as brasas brasas ainda quentes estavam lá, prova de que alguém lhe tinha mexido.

Sentou-se, confusa e viu um bilhete ao lado da almofada,a dois palmos da sua cara.
" Fui comprar comida para jantarmos. Levo as tuas chaves, para o caso de estares ainda a dormir quando chegar. Amo-te..."

O barulho familiar das chaves a rodar na fechadura trouxeram-lhe a realidade de volta. Porque a vida real também tem coisas boas.

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