fevereiro 22, 2006


Sente-se envolvido por uma raiva súbita, inexplicável. Torce os dedos, as mãos revoltam-se num torcer nervoso.
O coração começa a bater descompassadamente, a visão fica-lhe turva.
Não sabe porquê, as crises surgem quando menos as espera.Sabe o que as provoca, mas normalmente não são motivos que justifiquem reacções tão fortes. Senta-se a um canto do quarto, no chão; tenta controlar a ansiedade, respira fundo enquanto fecha os olhos e tenta pensar em coisas agradáveis.
Em vão...
Crava as unhas nas palmas das mãos, sente o mundo fugir-lhe debaixo dos pés, o ar que inspira não lhe chega aos pulmões.
Levanta-se e, num acesso de raiva não contida e, num arremesso, atira pela janela do 7º andar tudo o que está ao alcance das mãos e que, seguramente, se partirá quando cair no chão.
Ri e chora ao mesmo tempo entre sentimentos contraditórios e, aos poucos, a raiva vai passando até apenas uma profunda tristeza se abate sobre si e só chora, então.
Olha para o telemóvel, portador das notícias que o deixaram naquele estado.
Numa suprema decisão pisa-o, esmigalha-o debaixo do sapato.
O simbolismo agrada-lhe. Sente que corta o elo com o stress.
Não comprará outro telemóvel. Há coisas que têm que ser ditas olhos nos olhos.

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