Teresa ouve o telefone a tocar enquanto fecha a porta de casa à chave. Hesita, mas decide não voltar atrás para atender. Quatro voltas à chave, saco de viagem com meia dúzia de roupas para lá atiradas ao acaso, senta-se ao volante e suspira enquanto o carro arranca. Há coisas que têm que ser feitas, decisões adiadas que têm de ser tomadas, pensa, ao sabor da estrada que o carro parece galgar. Gosta de conduzir e concentra-se na estrada para evitar pensar no que a perturba. O telemóvel de vez em quando toca mas Teresa nem o olha. Decidida, viaja todo o dia e o sol já quase se pôs quando, finalmente, estaciona. Respira fundo.
Francisco pousa o telefone sem que o atendam, mais uma vez. Mete os dedos no cabelo num gesto que, quem o conhece, sabe denunciar angústia. Tanta coisa que ficou por dizer, tanto por explicar. Quem costuma guardar para si mesmo o que o incomoda é, neste momento, quem sente a necessidade de clarificar tudo. Sente-se inseguro nesta nova situação, principalmente por não a conseguir resolver depressa. Achava que o que tinham era precioso demais para acabar assim mas, pelos vistos, estava enganado. Pegou de novo no telefone e jurou a si mesmo que era a última vez. Foi interrompido pela campainha da porta e esboçou um esgar de contrariedade. Não lhe apetecia ver ninguém, mas abriu.
_ Teresa? Tentei ligar-te todo o dia e não me atendeste!
_ Não. Há coisas que se resolvem olhos nos olhos e…
(Não conseguiu acabar. Um beijo calou-a)
Foto de Frederic Giacomaggi
18 Comentários:
Este post está fantástico. Consegues induzir-nos em erro, fazendo-nos acreditar no desencontro, quando na verdade não foi o fim, mas apenas um recomeço. Gostei :)
Gostei...gostava de ser a Teresa:P
Por vezes há coisas que pensamos que estão dadas como terminadas mas enganamo-nos quando nos confrontamos olhos nos olhos, ai é que se sente!E que maneira:P
Li-te num ápice. Dum fôlego. E escreves tão bem! Tens uma linguagem que atrai. Tipo filme de suspense. E o final inesperado e cheio de mistério.. deixa água na boca. Vou voltar... Posso?
daniel
Obrigada, utzi :-)
Quem não gostava, Sofia? Beijos...
Podes e deves, Daniel. Quem escreve como tu e sempre bem-vindo. Um beijo.
A ideia era essa,alfazema ;)
um beijo...
o final surpreendeu-me e por isso gostei ainda mais...
besitos
Ahhhh minha amiga, esta foi de mestre!
Gostei imenso. Acho que todas nós temos uma Teresa dentro de nós, só que algumas não conseguem ir até ao fim....e acabam por perder o que pode ser tão bom.
O recomeço... :-)
Quando os sentimentos são mútuos, as dúvidas ficam desfeitas...
O sorriso!
Excelente...
Um excelente texto.parabéns. Ainda bem que encontrei o teu blog.Dá gosto ficar por aqui.Continua.
Hei-de voltar.
Bom texto1 Parabéns!
Adorei o texto!!!
Fez-me cair um lágrima... :(
Gostava de ser a Teresa! Às vezes um gesto vale mais que mil palavras...
Beijos
Adoro um happy end e tenho a certeza que foi este o caso...
jocas
Quando se gosta de alguém não podem existir mal entendidos. Um olhar, um toque, um cheiro, fazem milagres.
De dia para dia melhoras a tua escrita, estou a gostar.
Ando a arranjar coragem para publicar no meu blog as pequenas estórias que tenho. Durante as férias quando tenho mais tempo, vou-me aplicar.
Beijos
Como sempre, em quase todas as histórias, tem que ser a gaija a ter tomates...
;-)***
Parece que ainda há histórias que acabam bem...
Todos gostamos de estórias de finais felizes.
Se, por um lado, Teresa teve a iniciativa de procurar João por outro lado ele soube esperá-la.
Beijos a todos. :-)
Tenho dores nos braços... JAJAJAJA!!!!
Muito, gostei muito! Vim retribuir a visita e já fiquei com a certeza de voltar! que agradável surpresa, encontrar este blog!
Só uma nota: no teu último comment chamas João à personagem... Não era Francisco? Terá sido um deslise que deixe adivinhar que a estória não é ficção?
Fica muito bem!
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