julho 19, 2006

Teresa ouve o telefone a tocar enquanto fecha a porta de casa à chave. Hesita, mas decide não voltar atrás para atender. Quatro voltas à chave, saco de viagem com meia dúzia de roupas para lá atiradas ao acaso, senta-se ao volante e suspira enquanto o carro arranca. Há coisas que têm que ser feitas, decisões adiadas que têm de ser tomadas, pensa, ao sabor da estrada que o carro parece galgar. Gosta de conduzir e concentra-se na estrada para evitar pensar no que a perturba. O telemóvel de vez em quando toca mas Teresa nem o olha. Decidida, viaja todo o dia e o sol já quase se pôs quando, finalmente, estaciona. Respira fundo.

Francisco pousa o telefone sem que o atendam, mais uma vez. Mete os dedos no cabelo num gesto que, quem o conhece, sabe denunciar angústia. Tanta coisa que ficou por dizer, tanto por explicar. Quem costuma guardar para si mesmo o que o incomoda é, neste momento, quem sente a necessidade de clarificar tudo. Sente-se inseguro nesta nova situação, principalmente por não a conseguir resolver depressa. Achava que o que tinham era precioso demais para acabar assim mas, pelos vistos, estava enganado. Pegou de novo no telefone e jurou a si mesmo que era a última vez. Foi interrompido pela campainha da porta e esboçou um esgar de contrariedade. Não lhe apetecia ver ninguém, mas abriu.
_ Teresa? Tentei ligar-te todo o dia e não me atendeste!

_ Não. Há coisas que se resolvem olhos nos olhos e…

(Não conseguiu acabar. Um beijo calou-a)

Foto de Frederic Giacomaggi



18 Comentários:

Blogger ruth ministro disse...

Este post está fantástico. Consegues induzir-nos em erro, fazendo-nos acreditar no desencontro, quando na verdade não foi o fim, mas apenas um recomeço. Gostei :)

7:19 da tarde  
Blogger  disse...

Gostei...gostava de ser a Teresa:P
Por vezes há coisas que pensamos que estão dadas como terminadas mas enganamo-nos quando nos confrontamos olhos nos olhos, ai é que se sente!E que maneira:P

10:01 da tarde  
Blogger Unknown disse...

Li-te num ápice. Dum fôlego. E escreves tão bem! Tens uma linguagem que atrai. Tipo filme de suspense. E o final inesperado e cheio de mistério.. deixa água na boca. Vou voltar... Posso?

daniel

11:02 da tarde  
Blogger Ana disse...

Obrigada, utzi :-)

Quem não gostava, Sofia? Beijos...

Podes e deves, Daniel. Quem escreve como tu e sempre bem-vindo. Um beijo.

A ideia era essa,alfazema ;)

11:41 da tarde  
Blogger mixtu disse...

um beijo...
o final surpreendeu-me e por isso gostei ainda mais...
besitos

12:34 da manhã  
Blogger Som do Silêncio disse...

Ahhhh minha amiga, esta foi de mestre!
Gostei imenso. Acho que todas nós temos uma Teresa dentro de nós, só que algumas não conseguem ir até ao fim....e acabam por perder o que pode ser tão bom.
O recomeço... :-)

1:06 da manhã  
Blogger Carla Jesus disse...

Quando os sentimentos são mútuos, as dúvidas ficam desfeitas...

O sorriso!

2:15 da manhã  
Blogger Marco Magalhães disse...

Excelente...

2:26 da manhã  
Blogger Ana Cristina Pinto disse...

Um excelente texto.parabéns. Ainda bem que encontrei o teu blog.Dá gosto ficar por aqui.Continua.
Hei-de voltar.

4:27 da manhã  
Blogger José Leite disse...

Bom texto1 Parabéns!

11:43 da manhã  
Blogger Sandra disse...

Adorei o texto!!!
Fez-me cair um lágrima... :(
Gostava de ser a Teresa! Às vezes um gesto vale mais que mil palavras...

Beijos

12:05 da tarde  
Blogger mayda disse...

Adoro um happy end e tenho a certeza que foi este o caso...

jocas

1:09 da tarde  
Blogger anamoris disse...

Quando se gosta de alguém não podem existir mal entendidos. Um olhar, um toque, um cheiro, fazem milagres.
De dia para dia melhoras a tua escrita, estou a gostar.
Ando a arranjar coragem para publicar no meu blog as pequenas estórias que tenho. Durante as férias quando tenho mais tempo, vou-me aplicar.
Beijos

2:58 da tarde  
Blogger Atlantys disse...

Como sempre, em quase todas as histórias, tem que ser a gaija a ter tomates...

;-)***

3:16 da tarde  
Blogger Ana disse...

Parece que ainda há histórias que acabam bem...

9:33 da tarde  
Blogger Ana disse...

Todos gostamos de estórias de finais felizes.
Se, por um lado, Teresa teve a iniciativa de procurar João por outro lado ele soube esperá-la.

Beijos a todos. :-)

10:14 da tarde  
Blogger Klatuu o embuçado disse...

Tenho dores nos braços... JAJAJAJA!!!!

2:23 da manhã  
Blogger Ana Fonseca disse...

Muito, gostei muito! Vim retribuir a visita e já fiquei com a certeza de voltar! que agradável surpresa, encontrar este blog!

Só uma nota: no teu último comment chamas João à personagem... Não era Francisco? Terá sido um deslise que deixe adivinhar que a estória não é ficção?

Fica muito bem!

7:13 da tarde  

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