junho 19, 2004

Ela deitou-se, de olhos fechados, sentindo em toda a superfície do seu corpo o descanso merecido. Como o do guerreiro. Porque a vida, muitas vezes, é como se de uma guerra se tratasse.
Mas ali, naquele momento, baixou todas as defesas erguidas ao longo dos últimos tempos e deixou que a paz entrasse em si como não o fazia há muito.
Foi abandonando o corpo e deixou-se pairar, etereamente, sem nunca abandonar o espaço próximo.
E adormeceu, no sono tranquilo das decisões tomadas durante o dia. Só depois de estar num sono profundo uma lágrima teimou em aparecer, tímida, a contrastar com o sorriso que lhe pairava nos lábios. Porque o sono também é feito de contrastes. E abraçou a almofada como se fosse o corpo do homem que ama, num desespero de causas perdidas. E as lágrimas começaram a vencer o sorriso, em catadulpa, enquanto ela se foi enroscando sobre si mesma.
As decisões, essas, estavam firmemente tomadas.
E só a almofada teve direito à tomada de consciência da solidão porque, quando ela acordou, sacudiu o cabelo, lavou a cara com água fria e deixou os fantasmas na cama. Para sempre.

4 Comentários:

Anonymous Anónimo disse...

Adorei!

5:55 da tarde  
Blogger JC disse...

Muito agradável, concordo, esta descrição com que acabaste de nos presentear.
Tudo o que dissesse a mais do que isto, serviria unica e simplesmente para quebrar o encanto e a magia do mesmo. Dar os parabéns, não seria o mais correcto mas pedir-te para nos continuares a deleitar com artigos como estes, acho que posso, devo e quero... :kiss:

10:28 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Nem sempre os fantasmas desaparecem e/ou desistem de aparecer (ou ser) (ou estar) (ou acontecer). A não ser que o(s) fantasma(s) sejam (tenham sido) ofuscados por outro(s).
Mesmo que esse(s) novo(s) fantasma(s) tenha(m) aparecido, o(s) anteriore(s) fantasma(s) poderá(ão) jamais desaparecer.
E um dia, se reaparecer(em) já será tarde, porque um fantasma cavalheiro jamais admitirá entrepor-se na vida de outro fantasma.

6:38 da tarde  
Anonymous Anónimo disse...

Claro, até porque até um fantasma cornudo tem dignidade e não aceita voltar.

12:37 da manhã  

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