abril 01, 2005


Parou o carro.
O silêncio era quase total, entrecortado muito ao longe pelo vaivém contínuo das ondas de um mar que não conseguia ver.
Descalçou os sapatos antes de sair e, ao colocar os pés no chão, sentiu a aspereza do solo na planta dos pés. Agradou-lhe a sensação e caminhou descalça ao longo do trilho, por cima de pedras pontiagudas misturadas com seixos rolados. Reparou em pequenos pormenores, como uma lagartixa que fugia à sua passagem ou uma frágil flor abrigada à sombra de uma rocha mais alta.
O calor húmido que se fazia sentir começou a deixar-lhe a roupa colada ao corpo e, à medida que ia andando, foi-se libertando dos trajes; despojos que foram ficando para trás, por um caminho que ela sabia não ter retorno.

Chegou ao alto de penhasco apenas de roupa interior e viu pela primeira vez o mar em toda a sua plenitude. Encheu os pulmões de ar, diversas vezes. O vento era forte, ajudava a que se sentisse penetrada pelas forças da Natureza com quem queria partilhar-se.
Lá em baixo, após um caminho íngreme , estava o areal. Desceu com cuidado para não deslocar uma pedra que fosse e assim perturbar o equilíbrio natural do espaço.
O mar estava agora à sua frente;imenso, poderoso. Entro nele, lentamente, deixando a espuma cobrir-lhe o corpo nú.Como se de um amante se tratasse.
Mergulhou, cada vez mais fundo.
Deixou então que as lágrimas lhe corressem no rosto. Porque o mar também é salgado e iria perceber.

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