Subiu ao sótão, local de arrumos de objectos e memórias.
A velha árvore lá estava, à sua espera, misturada com triciclos e bonecos antigos, cuidadosamente encaixotada desde o ano anterior, no final das Festas. Os enfeites estavam dentro da mesma caixa de sempre; não precisou de a abrir para saber o que continha: os anjos de pano, as bolas douradas e brancas, a rede de verga pintada, tudo se mantinha igual.
Lembrou-se de como tinha o coração apertado a última vez que tinha tocado aqueles objectos enquanto os percorria com os dedos, devagar, um a um.
Suspirou e evitou que os olhos se marejassem de lágrimas. Tinha que as guardar para mais tarde, quando estivesse só. Lá em baixo, duas crianças esperavam aquele momento, ansiosas por colaborar e cheias de alegria pelo ritual que, ao longo dos anos, se ia repetindo.
Montaram a árvore na sala, no sítio do costume. Cada bola dourada era uma lágrima, as brancas eram a alegria dos catraios; os anjos eram a tristeza que contrastava com o brilho dos olhos deles. A rede mostrava como sentimentos diversos se entrelaçam de forma ambígua, contraditória, quando se tem um acto de tanto significado. A árvore iluminou-se de mil luzinhas brancas e uma mais forte, bem lá no cimo, parecia que sorria.
Descobriu que, por muito triste que se sinta, por muita vontade tenha de adormecer e acordar no fim de Janeiro, bastam 2 sorrisos e um sonho para que seja Natal.
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