fevereiro 02, 2006

Degraus


Sobe até onde a consciência o leva, para um local onde não existe nada nem ninguém, apenas um vazio onde não há lugar sequer para memórias.
Escuro.
Negro.
De olhos fechados ou abertos, o que vê é apenas a total ausência de cor. Ou não vê.
Procura nos próprios membros o aconchego de um abraço e o que lhe chega são apenas sensações solitárias.
Olha para baixo.
As pessoas, os momentos felizes que esperava recordar, desapareceram. Resta o preto omnipresente, sufocante. Solta na garganta um grito silencioso e fecha-se sobre si, qual feto solitário em ventre materno à procura do calor reconfortante do corpo alheio. Em vão. Só então percebe que os degraus continuam a subida e que, lá muito em cima, uma luz trémula quebra o breu. Continua a subida sem rede, num percurso cada vez mais desconhecido mas, quem sabe, talvez mais iluminado...
Não importa saber. Importa sim continuar a subir.

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