setembro 03, 2006

Feitiços e feiticeiros

Surgem não se sabe de onde, do nada. Quando nos apercebemos estão ao nosso lado, entranhados na nossa pele, fazem parte de nós.
Suaves.
Podem ser uma leve brisa que nos arrepia, um raio de sol que nos aquece a pele numa fria manhã de Outono, uns salpicos de onda quando passeamos na praia.
Também podem ser uma frase que se ouve de passagem, um sorriso de um desconhecido com quem nos cruzamos na rua, uma pele desconhecida que toca involuntariamente na nossa no meio de uma multidão anónima.

Mas marcam-nos.
Pensamos neles, cada vez mais, de dia para dia.
E o feitiço cresce, hiperboliza-se, toma conta de nós; é uma luz que nos envolve, de noite e de dia, na qual não conseguimos tocas mas sabemos que está lá, porque a vemos e porque a sentimos.

E é então que não resistimos mais, nos deixamos ir e desejamos que este seja um feitiço bom...

7 Comentários:

Blogger Miguel disse...

Ana,

"E é então que não resistimos mais, nos deixamos ir e desejamos que este seja um feitiço bom ..."

Esperamos todos ...!

Bjks da Matilde

12:42 da tarde  
Blogger Paulo Cunha Porto disse...

Querida Ana:
É que os feiticeiros somos nós e o maior feitiço é conferir a uma qualquer realidade mais ou menos anódina o estatuto mágico, em última análise o que age sobre a sensibilidade.
Beijo

2:29 da tarde  
Blogger José Pedro Viegas disse...

Olá.
Pois eu penso, que feitiços são estados de alma de doces feiticeiro(a)s que nos atacam com suas armas, que nos desarmam.

Mas melhor mesmo, é lermos Arthur de Távola, ele explica...
Um beijo para ti Caramela.

Gostar de Amar...

Talvez seja tão simples, tolo e natural que você nunca tenha parado para pensar: aprenda a fazer bonito o seu amor, ou fazer o seu amor ser ou ficar bonito. Aprenda, apenas, a tão difícil arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil, que ninguém aceita aprender!
Tenho visto muito amor por aí.
Amores mesmo, bravios, gigantescos, descomunais, profundos, sinceros, cheios de entrega, doação e dádiva, mas esbarram na dificuldade de se tornar bonito. Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados, tratados com carinho, cuidado e atenção. Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.
Aí, esses amores que são verdadeiros, eternos e descomunais, de repente se percebeu ameaçados apenas, e tão somente, porque não sabem ser bonitos: cobram; exigem; rotinizam; descuidam; reclamam; deixam de compreender; necessitam mais do que oferecem; precisam mais do que atendem; enchem-se de razões...
Sim, de razões.
Ter razão é o maior perigo no amor. Quem tem razão, sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar, de exigir justiça, equidade, equiparação, sem atinar que o que está sem razão talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão. Nem queira. Ter razão é um perigo: em geral enfeia o amor, pois é invocado com justiça mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência.
Você tem certeza que está fazendo o seu amor bonito? De que está tirando do gesto, da acção, da reacção, do olhar, da saudade, da alegria do encontro, da dor do desencontro, a maior beleza possível?
Talvez não.
Cheio ou cheia de razões, você espera do amor apenas aquilo que é exigido por suas partes necessitadas, quando talvez dele devesse pouco esperar, para valorizar melhor tudo de bom que de vez em quando ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso sofre, e sofrendo, deixa de amar bonito. Sofrendo, deixa de ser alegre, igual a criança...
E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo.
Derrube as cercas da opinião alheia. Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama. Saia cantando e olhe alegre.
Recomendam-se: encabulamentos; ser pego em flagrante gostando; não se cansar de olhar, e olhar; não atrapalhar a convivência com teorizações; adiar sempre, se possível com beijos, “aquela conversa importante que precisamos ter”; arquivar se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida...
Para quem ama toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção pode ser toda atenção possível. Quem ama bonito não gasta o tempo dessa atenção cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine, cheia de brinquedos dos nossos sonhos): não teorize sobre o amor...
Ame!
Siga o destino dos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exactamente de tudo o que você teme, como: a sinceridade; não dar certo; depois vir a sofrer (sofrerá de qualquer jeito); abrir o coração; contar a verdade do tamanho do amor que sente. Jogue pro alto todas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas, atitudes sabidamente eficazes (não é sábio ser sabido): seja apenas você no auge de sua emoção e carência, exactamente aquele você que a vida impede de ser; seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs; falando besteiras, mas criando sempre; gaguejando flores; sentindo o coração bater como no tempo do natal infantil; revivendo os carinhos que instruiu em criança...
Sem medo de dizer, eu quero, eu gosto, eu estou com vontade.
Talvez aí você consiga fazer o seu amor bonito, ou fazer bonito o seu amor, ou bonitar fazendo seu amor, ou amar fazendo o seu amor bonito (a ordem das frases não altera o produto), sempre que ele seja a mais verdadeira expressão de tudo o que você é e nunca, deixaram, conseguiu, soube, pôde, foi possível, ser.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma.
Cuide da voz.
Cuide da fala.
Cuide do cuidado.
Cuide do carinho.
Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz.

(Texto de: Arthur da Távola)

4:17 da tarde  
Blogger Ana disse...

Beijos prá Matilde, Miguel :-)

Paulo, sabes: o pior é quando o feitiço se vira contra o feiticeiro. Beijos

Pedro, é de facto muito simples... tão simples que a maior parte das vezes não se consegue.
Beijos, estrenço.

9:36 da tarde  
Blogger ruth ministro disse...

Também estou a precisar de um feitiço bom na minha vida... :) gostei muito do post.
Beijos

8:00 da tarde  
Blogger Diafragma disse...

Mas não há feitiços maus!

12:15 da manhã  
Blogger Miudaaa disse...

Fizeste-me lembrar uma canção do Andre Sardet, assim que acabei de ler-te... aqui fica a letra, se quiseres a musica, pede-me que eu envio, com todo o gosto.

Feitiço
Eu gostava de olhar para ti
E dizer-te que és uma luz
Que me acende a noite, me guia de dia e seduz...

Eu gostava de ser como tu
Não ter asas e poder voar
Ter o céu como fundo, ir ao fim do mundo e voltar...

Eu não sei o que me aconteceu...
Foi feitiço!
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém
Como tu...

Eu gostava que olhasses
para mim
E sentisses que sou o teu mar
Mergulhasses sem medo, um olhar em segredo, só para eu
Te abraçar...

Eu não sei o que me aconteceu...
Foi feitiço!
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém
Como tu...

O primeiro impulso é sempre mais justo, é mais verdadeiro...
E o primeiro susto dá voltas e voltas na volta redonda de um beijo profundo...

Eu...
Eu não sei o que me aconteceu...
Foi feitiço!
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém
Como tu...
Eu...
Não sei o que me aconteceu...
Foi feitiço!
O que é que me deu?
Para gostar tanto assim de alguém
Como tu...
Como tu...

7:28 da tarde  

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