outubro 05, 2006


Abriu os olhos.
Estava num quarto que não era o seu, numa cama que não era a sua. Estranho, tinha-se deitado na noite anterior, como sempre, na cama que lhe albergava os sonhos há anos.
Pestanejou. A luz branca, demasiado clara, feria-lhe os olhos. Aos poucos, foi-se habituando à luminosidade e percebeu que não estava sozinha; rostos ansiosos, a adivinhar um sorriso, aproximavam-se de si.
Sentiu-se incomodada. Não conhecia nenhuma daquelas pessoas, apesar de alguns rostos lhe serem vagamente familiares.
Com lágrimas a bailarem nos olhos, um jovem olhou-a nos olhos e disse-lhe: Mãe?
Sentiu um choque!
Aos poucos, foi olhando de novo em redor. Reconheceu de imediato os filhos; mais velhos, já não eram os adolescentes a quem tinha dado um beijo de boa noite e aconchegado a roupa, no dia anterior. O indivíduo careca e com uma barriga incipiente era o marido, tal como ela o imaginava dali a uns ano. À si frente. Aos outros não reconheceu, percebeu serem pessoal hospitalar, Percebeu-o também quando viu a cama e o quarto com outros olhos.
Encheu-se de suores frios, não percebia o que se passava. A filha chorava copiosamente de mão dada com ela. Mãe, mãe...!
Explicaram-lhe que tinha entrado em coma há sete anos atrás, inexplicavelmente.
Assim como não tinham explicação para o facto de, agora, ter saído dele.
Teve uma sensação de desmaio, como se o cérebro não conseguise absorver a imensidade do que lhe diziam.
Sete anos!?
Tinha perdido tanta coisa, tudo...
Tentou sair da cama, levantar-se e, aos poucos, conseguiu.
Ao canto do quarto, um espelho colocado discretamente devolveu-lhe a imagem que procurava: a sua.
E percebeu que, mesmo que não se viva conscientemente, os anos deixam-nos, inexoravelmente, a sua marca.

9 Comentários:

Blogger CIDE disse...

As carecas, as rugas e as barrigas salientes são marcas do tempo.
Damos por isso, especialmente quando observamos as fotos dos tempos de escola.
Mas permanecemos nós mesmos, no essencial, mias ricos, com o que a vida nos deu ou tirou.
Por isso, vale a pena.
Digo eu, não sei!
Ass. Dialógico

12:59 da manhã  
Blogger Miguel disse...

A vida e o tempo não para ...!
Há que aproveitar todos os seus momentos correndo o risco de perder toda a sua riqueza ...!

Um Bom Feriado!
Bjks da Matilde

3:40 da tarde  
Blogger Diafragma disse...

Independentemente de todas as considerações que se podem tecer sobre o tempo, as carecas, as barrigas e as rugas, o que de facto me intriga é como te foste lembrar desta história.
Vá-se lá adivinhar...

9:33 da tarde  
Blogger Ana disse...

Sabes, sabes, Dialógico :-)

Tens razão, Miguel...

Nem eu sei, Diafragma! eh eh he

10:28 da tarde  
Blogger mixtu disse...

ummmmm....
texto denso...
vida...
espelhos... imagem

besitos

11:55 da tarde  
Blogger eudesaltosaltos disse...

Mas onde é q tu foste desencatar esta historia?!
Mas sim, o tempo deixa em nós as suas marcas... exteriores e interiores. bj

12:32 da manhã  
Blogger Sendyourlove disse...

Em 7 anos não perdeu tudo. Se os seus lá estavam não se tinha perdido nada...apenas tempo...coisa sem importancia...
Quantos não perdem anos de vida sem estarem em coma?

10:05 da manhã  
Blogger Maria Liberdade disse...

Os anos não perdoam. Temos que viver enquanto podemos e não apenas vivermos como se estivessemos em coma.

1:36 da tarde  
Blogger Unknown disse...

Concordo com a (l)oca, ela só perdeu o tempo, o passar dos relógios e do calendário. Muitos à que perdem muito mais da vida enquanto vêem esses mesmos relógios a andar.

9:19 da tarde  

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