junho 30, 2005



Gostei tanto desta imagem que me apeteceu pô-la aqui.
O texto que escrevi para a acompanhar é que não saiu lá grande coisa. Demasiado lamechas. Vai para os rascunhos ( ou drafts, como dizem os finos) fazer companhia a muitos outros. Era sobre dedos a percorrerem cabelo, cabeças aninhadas em colos, cheiros que se fundem como líquidos , sei lá mais o quê.
Lamechice a mais faz mal. Nem eu aguento.

junho 26, 2005

Palavras sem nexo que saltam dos dedos como se de pensamentos soltos se tratassem.
Ninguém sabe porque surgem e para onde vão. Existem apenas enquanto no nosso consciente, como um turbilhão de ideias que varre as emoções. Invadem-nos sem pedir licença, condicionam o nosso dia-a-dia.

Deixo os dedos percorrerem as teclas ao acaso, solto a imaginação e aguço os sentidos; quase fecho os olhos.

E invade-me uma Paz como não sinto há muito. Até que enfim...

junho 23, 2005



Não lhe valia de nada abrir e fechar os olhos, a escuridão era total. Para ela, era sempre noite. Vivia num mundo monocromático, a preto. Sabia que era preto porque, há já muito tempo, o seu mundo era igual ao dos outros, cheio de cores, matizes e luzes.

Tacteou cautelosamente o espaço que a rodeava. Sentia-se sempre insegura em locais estranhos.
De repente, sentiu a sua Mão envolvida por outra quente, protectora ,aconchegante... Uma voz desconhecida murmurou-lhe ao ouvido: Não tenhas medo...
E não teve. Dia após dia, as barreiras foram caindo e, sem saber como nem quando, um pequeno ponto branco foi aparecendo no seu campo de visão, como que uma promessa de luz. A mão estava sempre lá e a segurança foi voltando. Até o sorriso voltou. Já não se lembrava de como era bom sorrir, de tal maneira que, a primeira vez que o fez, doeram-lhe os músculos da cara.

Um dia, de repente, acordou e a escuridão tinha voltado: abriu e fechou os olhos várias vezes; chorou de raiva, de tristeza. Estendeu o braço em busca da Mão. Não estava lá.

Só a mim...

Tenho um doente há já bastante tempo que sofre de paralisia cerebral, a qual lhe afectou o hemicorpo direito, usando até uma bota adaptada para poder andar. A mãe, analfabeta, vende nas feiras e mercados e usa aqueles aventais típicos cheios de fechos para esconder as notas. A semana passada, ligou-me a dizer que o filho não iria essa semana à Fisioterapia porque ela ia ser operada aos olhos; tranquilizei-a porque, afinal, naquele caso interromper uma semana os tratamentos não é coisa relevante.


Hoje telefonou-me:
_ Ó dona Ana ,é pra dezere que o Serginho, esta semana que esteve em casa, caiu e magoou o pé que a senhora lhe trata...
_Hoje não é dia do tratamento dele e isto está complicado mas traga-mo cá, dona Alda, que eu vejo-o e trato isso.
_ Ah, isso é que não pode ser! Sabe o pé começou a inchar e eu levei-o logo ao endireita. Ele pôs aquilo no lugar, mas disse que ele tem que estar uns dias sem fazer Fisioterapia. Só estou a ligar para avisar que ele não vai ainda esta semana...

junho 14, 2005

A vantagem de se ter um blog passa por só se escrever quando nos apetece. Não há uma obrigatoriedade na escrita, nem sequer perante nós mesmos.
O blog flui consoante a nossa vontade. E a minha, ultimamente, não é nenhuma.
Estado de preguicite aguda. Mas o blog não acabou, apenas está em férias, em inércia, naquilo que lhe quiserem chamar. Até amanhã ou até daqui a umas semanas, nem eu sei. E é tão bom não saber...

junho 07, 2005

Fragmentos



Respira fundo enquanto coloca o cinto de segurança. O avião, prestes a descolar, tornou-se há algum tempo uma rotina entre duas vidas distintas e os aeroportos são as fronteiras que as separam. Faz aquela viagem sempre dividida pela saudade quem fica para trás e a felicidade de que vai encontrar à sua espera. Até o medo de voar fica relegado para segundo plano, as centenas de horas de voo dão-lhe a tranquilidade das rotinas instaladas.

Já no ar, espreita pela janela. Sempre gostou de a cidade tornar-se, gradualmente, peça de um jogo de crianças cada vez mais pequeno até se tornar num puzzle de tal forma minúsculo que perde totalmente o nexo e a possibilidade de se completar. Formam-se retalhos de cores diferentes na paisagem, fragmentos de vidas anónimas.

Por cima das nuvens, fecha os olhos. O ruído surdo e constante dos motores embala-a. Apesar de saber que não conseguirá dormir, o apelo da introspecção que lhe é oferecida pelo simples acto de fechar os olhos atrai-a e fá-la perder-se em análises às quais sabe só o tempo oferecer resposta. Reabre-os no preciso momento em que o aviso de colocação do conto de segurança aparece, sinal de que a viagem está a terminar.

É das primeiras pessoas a sair do avião; transporta consigo a exígua bagagem de tantas e tantas viagens, reduzida ao mínimo por prática e experiência.
Atravessa o corredor da chegada sem olhar para os lados e passa indiferente no meio das centenas de pessoas que olham a porta de saída, expectantes. Não precisa de procurar, sabe que nesta viagem ninguém está à sua espera; quando chegar a casa, aí sim, será envolvida em beijocas e mimos.

Mas, quando fizer o percurso contrário e o aeroporto da partida se tornar o da chegada, sabe que ele estará à sua espera e dirá, baixinho, enquanto o abraça: Tinha tantas saudades tuas...

Fragmentos de duas vidas diferentes, duplos sentidos, dualidades que magoam.
O sonho de, um dia, transportar uma das vidas consigo no avião e juntá-la à outra.

E sentir-se completa.

Não se faz...

Uma e meia da tarde. O termómetro do carro marca 39ºC. O fogo em Tomar deixa o céu carregado de preto.
Vou a caminho do emprego e que vejo?
Um auto tanque dos bombeiros... a regar a relva de uma das novas rotundas!
A minha vontade foi parar o carro e insultá-los, mas provavelmente os coitados só cumpriam ordens.
Se relva é uma das prioridades do país em tempo de seca, então que a reguem durante a noite, que com este calor a água evapora-se toda. E façam mais peditórios para comprar novas viaturas que eu ofereço-lhes um aspersor...

junho 01, 2005

Um ano

Lembrei-me, durante a tarde, que este blog faz hoje um ano.
Sem análises, balanços ou rectrospetivas, apenas a constatação do facto.