abril 03, 2005


Domingo à tarde. Chovia copiosamente lá fora, o dia cinzento convidava a ver a chuva por detrás das vidraças.
Estavam enroscados um no outro, espreitando um qualquer filme que dava na televisão.
_ Apetece-te sair? - perguntou ele.
_ Sim, respondeu ela. Quero ir à praia. Estou farta de estar aqui.
_ Doidita, riu-se ele...enroscando-a ainda mais nos seus braços fortes, enquanto lhe beijava o cabelo.
_ Estou a falar a sério. Quero ir ver o mar.
_ Ok, vamos lá então...

Ele sabia exactamente onde a levar. A chuva fria caía em bátegas nos vidros do carro, contrastando com o calor que se fazia sentir lá dentro.O mar do Guincho, revolto, apareceu ao longe enquanto ele conduzia devagar pelo trilho de pedras;cinzento chumbo, da cor do céu, elevava-se em gigantescas ondas de espuma branca que rebentavam na areia com um ruído ensurdecedor, fazendo lembrar uma trovoada. A praia estava deserta, não se via nem um carro nas imediações
Ficaram alguns minutos ali, em silêncio.

De repente, ela tira as botas. E as meias. E arregaça as calças.
_Que estás tu a fazer? _ pergunta ele surpreendido.
_ Vou lá abaixo, já volto.

Ficou completamente encharcada assim que saiu do carro, mas continuou a caminhar na direcção do mar.
A areia colava-se-lhe aos pés e a roupa, molhada, provocou-lhe um arrepio de frio. Foi tirando o casaco, a t shirt e as calças que ia largando no chão até que, ao chegar à zona de rebentação, estava apenas de roupa interior. Sentou-se uns metros antes da zona onde o mar se espraiava na areia e ali se deixou ficar. Ela e o mar, em perfeita comunhão de sentidos. Os salpicos de água salgada misturavam-se no seu cabelo com a água doce da chuva.
Fechou os olhos, para melhor lhe sentir o cheiro, enchendo o peito daquele ar forte. Ficou assim alguns minutos até que se apercebeu de que algo tinha mudado.

Abriu os olhos. A chuva tinha parado e o sol espreitava , forte, por entre as nuvens escuras, provocando uma luminosidade que cegava. Pestanejou, para se habituar à nova luz, mas por pouco tempo. Alguém se colocava entre ela e o sol, protegendo-lhe os olhos.
Era ele, que se ajoelhou-se à sua frente, de costas para o mar.
_Tu és tão, mas tão doida... deve ser por isso que gosto tanto de ti_ sussurou-lhe ao ouvido enquanto a beijava devagarinho e a deitava na areia.
Possuíram-se ali mesmo, enquanto as gaivotas que entretanto tinham vindo espreitar gritavam lá no alto em círculos de Amor.

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