novembro 30, 2004

E o Sampaio lá deu um chuto no Santana...

... e o país inteiro respira de alívio. Eu também, confesso.
Mas a euforia que se gerou preocupa-me. Já pensaram bem quem vai ser o próximo Prime Minister ? O Sócrates, pois é...


Ah, com que então já vos passou a vontade de rir!!!!!

Histórias de (de)sencantar ou A Princesa com o Coração de Pedra

Há muitos, muitos anos vivia num lindo castelo, uma bela princesa. A princesa vivia sozinha, afastanto tudo e todos com a sua altivez e mantendo à distância quaisquer príncipes que lhe quisessem conquistar o coração. Era, por isso, conhecida como a princesa com coração de pedra. Ela sabia disso e ria-se porque, de facto, sentia-se bem sozinha.

Percorria alegremente as estradas do reino, cavalgando um belo cavalo preto, distribuindo bens e sorrisos a quem deles necessitava. Só no seu castelo, no seu refúgio, nao permitia a entrada de ninguém excepto da criadagem fiel e silenciosa.


Mas um dia, enquando fazia o seu percurso diário, parou perto de um pequeno riacho para que o seu cavalo bebesse água, pois tinha-se invulgarmente afastado de casa e o animal denotava sinais de cansaço e sede. Na margem, meio escondido debaixo de um choupo, viu a figura de um homem. Não chorava, mas tinha os olhos mais tristes que ela jamais havia visto. Aproximou-se devagarinho e estendeu-lhe a mão. Sem dizer uma palavra, montaram os dois o cavalo da princesa que, instintivamente, se dirigiu para o castelo.


Ela cuidou dele, acarinhou-o, até aprendeu a rir com ele. E foi, dia após dia,descobrindo a história da tristeza dele:
Era um príncipe , de um reino longínquo do qual ela mal tinha ouvido falar. E tinha uma princesa, esse príncipe, com quem vivia muito feliz, julgando que era para sempre. Mas as histórias de encantar nem sempre têm finais felizes. E o príncipe partiu sem rumo, na esperança de se encontrar, de conseguir fazer com que os olhos rissem de novo.


A princesa (a nossa princesa, a do coração de pedra), deixou-se conquistar, aos poucos. Começou a ter saudades dele quando saía no seu cavalo, a pensar nele quando não estava ao seu lado. O príncípe, por seu lado, perdia um pouco do olhar triste quando estava com ela.E, um dia, olharam-se os olhos e beijaram-se. E tocaram-se. E amaram-se. Como só os amantes sedentos sabem fazer.


( Ok, agora aqui há um parêntises: a história pode ter dois finais e eu, não sabendo qual dos dois usar, publico ambos)


Final 1: Aprenderam a conhecer-se, aos poucos , entregando o corpo e a alma àquele sentimento novo , inesperado, mas que lhes sabia muito bem. Os fantasmas e as mágoas foram desaparecendo da vida do príncipe e ele reaprendeu a ser feliz. E o coração da princesa nunca mais foi de pedra, porque tinha aprendido a amar.


Final 2: Viveram um sonho bom durante uns tempos,mas o olhar do príncipe não perdia a tristeza. A princesa sabia o quanto ele apreciava a companhia dela, mas percebeu que nunca conseguiria que ele voltasse a sorrir. E isso doía-lhe, porque o queria inteiro; a ele e ao sorriso. Porque o amava e, mesmo nunca tendo amado ninguém, sabia que o Amor não era só aquilo. Até que tomou uma decisão. Resolveu dar-lhe a prova suprema de amor: Chamou a fada madrinha e pediu-lhe que o transformasse num pombo. Depois, subiu à torre mais alta do castelo, beijou-o e , de lágrimas nos olhos disse-lhe:_ Vai... porque sei que não me pertences.E ficou ali, até que ele desapareceu na longínqua linha do horizonte, rumo de novo ao seu amor verdadeiro. Desceu as escadas da torre , montou o seu corcel e, dignamente, assumiu de novo o coração de pedra. Pedra partida.

novembro 28, 2004

Contra factos não há argumentos



Descaradamente roubado da a funda São

Medicamentos genéricos

Tenho que voltar de novo a este tema. Vi, esta semana, um spot que não me sai da cabeça. Deixou-me muito, muito zangada, porque não gosto de ser manipulada, principalmente de forma descarada e por organismos oficiais.
Ora vamos lá a isto: RTP2 - uma velhinha numa farmácia, diz para quem a atende:
- Ai, mas hoje parece que pago muito menos.
- Ah, responde o farmacêutico_ mas isso é porque o seu médico, desta vez, lhe receitou genéricos. Ele é muito seu amigo.
- Eu sei, diz a velhinha de sorriso cada vez maior, na próxima consulta tenho que lhe agradecer , ele gosta tanto de mim.

As palavras podem não ser exactamente estas porque só vi o spot uma vez, mas a ideia está lá. Quanto a mim, isto tem um nome: MANIPULAÇÃO.
Não conseguindo o governo o que pretendia, ou seja, a colaboração da classe médica para a introdução massiva dos genéricos nos mercado, virou-se para outro alvo: os doentes; que façam pressão para que lhes sejam prescritos genéricos. Que os peçam especificamente aos médicos.

Ide-vos catar, ó senhores. Que eu não sou sequer médica e isto ofende-me. Desculpem lá, mas não me deixo assim influenciar.



novembro 25, 2004

A próxima vez que alguém me ouvir dizer que conheço bem uma pessoa, autorizo a que me dê dois bofetões bem assentes nas trombas!
Porra!

A estação

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A noite, cerrada, não deixava sequer ver as estrelas . Previa-se longa, como todas as noites que sabemos ir passar em claro. Estranho isto, de chamar " passar em claro" a algo tão escuro como a noite.
E passar a noite numa estação de comboios não era, de todo, algo que lhe agradasse. Mas tinha perdido o último e agora, só perto das 6 da manhã haveria outro que a levasse dali para fora.
Estava nervosa mas, pelo menos ali, na sala de espera, o frio não era muito. Abotoou o casaco e apertou a carteira junto ao peito. O pouco dinheiro que lhe restava estava ali todo, dava à justa para o bilhete e um qualquer pequeno almoço frugal.

Respirou o ar quente e húmido , a cheirar a gasóleo e sentiu-se suja. Por fora e por dentro.
Reviu mentalmente os últimos dias, as últimas horas, a discussão definitiva, o sair de casa intempestivamente apenas com a roupa que tinha no corpo. Afinal, precisava de pensar, de respirar e tinha acabado ali depois de ter deambulado pela cidade, a pé. Até a cidade a oprimia; pequena, toda a gente sabia quem ela era, não podia caminhar de forma anónima para pôr os pensamentos em ordem, tomar as decisões correctas. Acabou ali, naquele banco de estação, sozinha, onde até os comboios se recusavam a colaborar. Ou estaria apenas a começar? Uma coisa era certa: não voltaria atrás.

Sabia que seria censurada, criticada, caluniada, ofendida; o meio era propício; mesquinho, feito de mentalidades comezinhas, uma sociedade fechada numa pequena cidade de interior. Mas sabia que tinha que tomar aquela decisão. Afinal, apenas queria ser amada . Sentir que era importante, querida , desejada, ponto principal na vida dele. Não apenas o ponto de apoio nas horas difíceis, a bengala emocional dos momentos maus. Porque era da sua própria fragilidade que se tratava. Os seus sonhos. A sua vida. Havia demasiadas emoções em causa. Mas agora era tarde demais. Pelo menos para ele. Porque ela ia começar a gostar de si mesma.

Sentou-se no banco e sacudiu os cabelos com as mãos. Levantou-se. Afinal não esperaria pelo comboio. Ia a pé. Porque há caminhos que têm que se percorrer sentindo o chão que se pisa.


novembro 24, 2004

Raispartamisto

Há dois cinemas cá na santa terrinha. Um está a passar
Exorcist: The Beginning
. O outro passa
Resident Evil: Apocalypse
.
Eu mereço isto?
Hoje fiz uma manobra de Heimlich pela segunda vez na vida.
Um miúdo surdo mudo engasgado com uma bolacha.
Às vezes estamos no local certo à hora certa.
E eu já posso ir para o céu porque sou muito boazinha e tal.

Acabei de constatar que o blog visto numa definição 800x600 fica todo desconfigurado.

Como eu sou uma moça arrumadinha, aviso já que a culpa não é daqui, mas sim dos vossos monitores. Tungas!!
A palavra de ordem de hoje é:

DES-DRA-MA-TI-ZAR

O dia está lindo, a vida é bela e o resto que se lixe.

Ah, e não me esquecer de tomar os comprimidos.

novembro 23, 2004

Memórias

Lisboa, Maio de 1985

Circular enviada pela Embaixada de Angola para o Hospital Curry Cabral, pedindo fisioterapeutas.

Vencimento base 100.000$00 com carro, casa e alimentação à disposição.
Cada vez me questiono mais o que teria sido a minha vida se tivesse aceite.


God, que vontade de me mandar daqui para fora!!!!!

novembro 22, 2004

Por quem foi que me trocaram
Quando estava a olhar pra ti?
Pousa a tua mão na minha
E, sem me olhares, sorri.

Sorri do teu pensamento
Porque eu só quero pensar
Que é de mim que ele está feito
É que tens para mo dar.
Depois aperta-me a mão

E vira os olhos a mim...
Por quem foi que me trocaram
Quando estás a olhar-me assim?
Fernando Pessoa

novembro 21, 2004


Já com a chave na mão,subiu os três degraus que a separavam da porta. Pesada, de madeira escura, aspecto sólido. Como todo o restante edifício, parecia abandonada apesar de o tempo tinha sido meiga com ela. No entanto a chave rodou silenciosa e facilmente na fechadura, como se tivesse sido oleada de véspera.
O interruptor da luz não respondeu e a escuridão que grassava no hall manteve-se. Não se sentiu incomodada, o espaço era-lhe de tal maneira familiar que sabia conseguir mover-se nele tão facilmente como se estivesse bem iluminado.
Apesar de não entrar naquele espaço há muitos anos, o à vontade com que começou a percorrer os compridos corredores denotava que os conhecia bem e que levava um objectivo definido. O cheiro a pó entrava-lhe nas narinas de forma desagradável e, misturado com o frio que sentia , provocou-lhe um arrepio. Ou talvez fossem os grandes e pesados móveis que, tapados com lençóis brancos, davam uma visão fantasmagórica a todo o cenário.

Acelerou o passo e dirigiu-se ao seu objectivo. No pequeno quarto, abriu a janela como tantas vezes tinha feito , há muitos anos atrás. O sol jorrou, inundando a divisão de luz, fazendo com que ela piscasse os olhos, já habituados à escuridão.
Destapou a mobília lentamente, peça a peça, desnudando um quarto de menina com todos os brinquedos arrumados nos seus lugares como se a empregada tivesse acabado a limpeza diária. Apenas os lençóis brancos, em monte no chão, denunciavam a situação. Assim como um objecto que ela ainda não tinha tido coragem de destapar. Sentada na beira da cama, olhou-o e respirou fundo. Lentamente levantou-se, fechou os olhos e destapou-o. Viu a sua imagem reflectida no espelho em frente ao qual tantas vezes se tinha mirado. Sorriu.

Mas, de repente, todos os brinquedos em seu redor começaram a envelhecer; as bonecas encheram-se de rugas, os peluches perderam o toque macio, os livros viram-se manchados da humidade e do tempo. Toda a casa começou a ceder, a dar mostras súbitas dos anos de abandono sofridos. Os móveis rangiam, as paredes abriam brechas, o chão parecia ceder a qualquer momento.

Apenas ela permanecia imutável, a sorrir perante o espelho, como se nada se estivesse a passar ao seu redor. Percorreu o caminho até à saída devagar, sem demonstrar sequer medo de ser engolida por todo aquele animismo.
Fechou a porta , meteu a chave na fechadura e trancou-a.
E, naquele momento, toda a casa se desmoronou, enquanto ela seguia o seu caminho.
É tão giro receber visitas no fim de semana, a merda do esquentador lembrar-se de avariar e andarmos todos badalhocos com panelinhas de água quente para a casa de banho, não é?

Vou ali entrar em estado de hibernação e, quando for a minha vez de ter um bocadinho de sorte nesta coisa a que chamam vida, acordem-me. Pode ser que doa menos.

5000

Cinco mil visitas desde Junho até agora! Isto é uma coisa que me escapa completamente.
Obrigada a todos os que perdem um bocadinho de tempo para virem espreitar as barbaridades que aqui vou postando.
Beijos e abraços.

novembro 20, 2004

Sol de frio



Gosto de dias assim.

Muito sol, sem ponta de vento ou nuvens no céu e, no entanto, o ar é gelado.
Nestes dias, visto um bom agasalho, pego nuns óculos de sol , saio para a rua e ando sem destino.
O frio agudiza-me o raciocínio e toda aquela luminosidade aclara-me as ideias.
Saí de manhã cedo e fui tomar o pequeno almoço numa esplanada protegida à beira rio, com a companhia do Miguel Sousa Tavares. Não em pessoa, claro ... Levei o livro novo dele, para viajar um bocadinho. Mas nem o abri. Entre duas dentadas na torrada e um golo de galão, fechei os olhos e viajei dentro de mim, ao sabor do sol que me aquecia e do acaso a que o meu pensamento me levava. Quando abri os olhos o livro continuava onde o tinha deixado, com a contra capa virada para cima. A primeira coisa que li foi" Mas há momentos mágicos que suspendem o tempo e o mundo, como o deste crepúsculo. Como no Out of Africa, quando Meryl Streep diz para Robert Redford: Tudo o que disseres agora, eu acredito."
Deitei a cabeça para trás e ri-me baixinho...

Referendo

"Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?"

Perguntam logo se concordo? E se eu achar pergunta manipulativa?
E se eu não perceber pevide do que perguntam?
E se nem me interessar perceber?
E se eu achar que lhes interessa que eu não perceba?
E se eu por acaso até perceber mas não estiver interessada em que o percebam?
E se me apetecer mandá-los plantar urtigas ( e isto é um eufemismo, entenda-se) e não vou referendar não porque não os percebo , mas sim porque me irrita que me passem um atestado de estupidez ?
É que só sou estúpida quando me apetece, não quando me referendam.
Magnífico pirete para vós, políticos em geral e parlamentares em particular.

Let´s go party

Rir.
É tão bom rir.
Sem a preocupação se te observam, se estás bem ou mal. Rir apenas porque te apetece, porque quem está a teu lado disse a maior barbaridade socialmente incorrecta e te apetece rir perdidamente.
Rir da vida, do mundo, do ridículo.
Rir de ti, rir de mim.
Let's go party, let's go party, untz, untz...

novembro 18, 2004

Passagens e paixões

_ Ó Ana...
_ Diz.
_ Posso fazer-te uma pergunta pessoal?
_ Podes, desde que eu me possa reservar o direito a não responder. Dispara...
_ Tu já alguma vez viveste uma paixão continuada?
_ Não percebo. Continuada como?
_ Assim do tipo perceberes que estás apaixonada e poderes estar com essa pessoa todos os dias, de forma a que essa paixão possa crescer de forma equilibrada?
_ Mas que raio de pergunta... Porque te veio isso agora à cabeça?
_ É que acabei de perceber que isso nunca aconteceu comigo. Ao fim destes anos, todas as relações sérias que tive foram vividas à distância. Aquele momento de fascínio em que apetece estar todos os dias, todos os momentos ao pé da outra pessoa ficou reduzido a encontros de fim-de-semana em que se tentava recuperar o tempo perdido, viver de forma intensa todos os momentos bons.
_ E isso é mau?
_ É, na medida em que não se tem uma relação afectiva e emocional de forma continuada. E depois, ou não se passa sequer à fase seguinte por não se aguentar a saudade e acaba por surgir o cansaço ou, quando se passa a uma relação mais estável, percebe-se que não se conhece verdadeiramente a pessoa e as coisas acabam dolorosamente. Deve ser por isso que ainda estou sozinha até hoje...

Memo pessoal: Pensar bem nisto...

Jingobéle (1)

Ainda estamos em meados de Novembro e já escolhi o PIOR spot de Natal do ano:
O da Moviflor. Diabos me carreguem se alguma vez vou entrar numa loja daquelas ( a bem dizer, nunca entrei), depois de ver aquela nojeira. Numa TV perto de si, que só vendo. Aquilo é inenarrável.

E não me venham com histórias da população alvo e blá blá blá! É hor-ro-ro-so!


Viste, ó Steed, que já não digo anúncio, já aprendi a dizer spot?

Poste de gaja

Porque é que nunca está ninguém por perto quando precisamos de pôr creme naquele bocadinho das costas onde nunca conseguimos chegar?


novembro 16, 2004

AHHHHHHHHHHHHHHHHHHH!!!!!!!!!!

Merda de dia!

novembro 15, 2004

Para a Beatriz...

Segui este blog atentamente desde o seu início. Coisas de mãe galinha, que querem. Vivi as venturas e desventuras da gravidez da Sara e da ausência do Nelson de uma forma quase diária e descobri, muito recentemente, que somos quase vizinhas. Nem sei porque nunca coloquei o link ali ao lado.
E, finalmente, nasceu a Beatriz. Só hoje, com alguns dias de atraso, dei por isso.
Mas não quero deixar de dar um grande beijo de parabéns aos três. E sentir-me um pouco madrinha da pequenita, apesar de nem sequer os conhecer.
Sejam felizes :-)

novembro 14, 2004



Desligou o carro e tirou a chave da ignição.
Olhou para o relógio. Cerca de uma hora, pensou... boa média. A esta hora da manhã não há, de facto, muito trânsito e, apesar da noite em claro, só agora o cansaço começava a diminuir-lhe os reflexos.

Entrou no prédio e sentiu aquele cheiro familiar que só se sente depois de ter estado fora uns dias; cheiro a casa. Antes de abrir a porta, ligou o gás, na escada, como fazia sempre. Ansiava por um banho quente.
Quatro voltas à chave. Quatro trancas. Quatro seguranças.
Acendeu uma pequena luz de presença para poisar a bagagem.Não que precisasse, conhecia todos os cantos mesmo de olhos fechados. Depois, percorreu todas as divisões da casa , abrindo os estores bem até ao cimo para que a luz do sol jorrasse em todos os cantos, apesar do frio que se fazia sentir na rua. O click do ar condicionado assegurou-lhe que, dentro de poucos minutos, o ambiente seria certamente mais acolhedor.

Abriu as torneiras da banheira e, enquanto esperava que esta enchesse deitou-se em cima da cama, deixando que o ambiente a envolvesse como uma redoma invisível, um escudo protector. Sentia-se segura,em casa. Gostava da sensação de entrar em casa e ver os objectos, imutáveis, exactamente na mesma posição em que os tinha deixado. Tinha necessidade daquele momentos de absoluta solidão ,momentos só dela naquele lugar seguro, seu. Não a assustava viver sozinha. A tensão começou lentamente a desaparecer.

Despiu-se lentamente, em frente ao espelho; velho hábito. Sorriu, hoje um sorriso triste.

Deitou-se na banheira cheia de água quente e, à medida que a água lhe aquecia o corpo, começou a rever os momentos passados nas últimas horas. Lentamente, as lágrimas de raiva contidas misturaram-se com a água enquanto se lavava dos acontecimentos recentes. Não estava habituada a não controlar as situações e, estupidamente, tinha-se ido meter na boca do lobo. Não voltaria a acontecer, isso estava garantido.


Absorta nos pensamentos ,viu uma pequena aranha que passeava nos azulejos rentes à banheira. Não precisou de se mexer muito, sequer. Bastou tirar um pé da água e, com o dedo grande, esborrachou-a lentamente, sentindo-se enojada logo de seguida. Riu-se e mergulhou totalmente, até lhe faltar o ar.
E saiu da água de espírito novo, a cantar as time goes by...

novembro 13, 2004

Adoro...

... Insónias!

novembro 12, 2004

Linhas de amor nunca escritas a um amor nunca sentido

Quero dar-te todo o tempo, todo o espaço que precisas.
Não quero correr depressa numa relação que pode ser para toda a vida. Porque há amores que precisam de ir assim, devagarinho. Mas apetece-me sufocar-te de amor, mesmo correndo o risco de ficar sem ti. Porque senão sufoco eu com a intensidade do que sinto.

Mas vou ficar aqui. Quieta. Serena. À tua espera. Até dares o sinal. Até lá, adormeço a pensar em ti e acordo contigo no pensamento. Faço de ti a minha companhia diária, nos mais pequenos gestos rotineiros, nas músicas que oiço, nas viagens que faço.

E se o sinal não vier, seguirei o meu caminho com a dignidade que me resta. Porque essa, eu sei que nada nem ninguém ma tira. Porque gosto muito de mim.

Expectativas

Sentada na beirinha do sofá esperava, impaciente, a chegada dele. Tinham combinado para as três da tarde e já eram três e um quarto sem que a campainha da porta tocasse.
Tic, tac, tic, tac, fazia o relógio da sala ; cada segundo que passava parecia-lhe uma eternidade.
Afinal, era a primeira vez que iam estar juntos em casa dela. Até tinha arrumado o quarto e tudo...
Três e vinte! Raios! Que se teria passado? Ele não costumava falhar e ainda ontem, enquanto partilhavam o lanche, tinham combinado os pormenores. Ele tinha-lhe pegado na mão e tudo... e ela gostou .
Quase três e meia!!! Tinha acontecido alguma coisa, tinha agora a certeza. Ia telefonar para casa dele.
Trimm...Trimmmmmmm _ a campainha da porta tocou finalmente e ela,veloz, correu a abri-la.
_ Estava a ver que não vinhas_ disse ela, já com o atraso perdoado e um sorriso de orelha a orelha.
_ Desculpa, pá, mas quando a minha mãe estava a meter a bicicleta no carro vimos que tinha um furo. Tivemos que parar ainda no Sr. João, para o remendar! Onde está a tua?
_ Está ali, no pátio. Buga?
_Buga!
_Manel, venho-te buscar às seis!_ disse a mãe dele.
_ Venha quando quiser,disse a mãe dela... E acrescentou, com um sorriso cúmplice:Sabe, eu acho que os nossos filhos são namorados...

Apelo

Pede-se a qualquer pai ou mãe que saiba onde o raio dos catraios têm o botão que diz PAUSE, o favor de me contactarem o mais urgentemente possível.

novembro 11, 2004


Os gatafunhos de hoje ficam eternamente em rascunho, sorry.

novembro 10, 2004

Narcisismos

Hoje disseram-me isto:

"Tu és , para mim, tipo aquelas árvores antigas que estão sempre no mesmo sítio, no mesmo lugar para nos ouvirem e para nos indicarem os bons ventos... "

E eu gostei de ouvir :-)

Maria

Maria nasceu por acaso.
Aliás, nem era para ter nascido, não fora a mãe ter dado conta da gravidez tarde demais para a deitar pia abaixo.
Passou fome. Passou frio. Passou medo.
E aprendeu a guardar nos sonhos uma vida paralela. Na enxerga suja em que dormia todos os dias, sonhava não com coisas materiais que não conhecia, mas sim com sorrisos e afectos.

Maria cresceu entre trabalhos forçados e sovas regulares, na ignorância das letras e do corpo. Fez-se Mulher achando que aquele sangue era o resultado de uma sova paternal mais violenta; o corpo, aos poucos, foi ganhando formas e, estranhamente, as marcas da vida não ficaram nele.

Maria foi-se apercebendo que era objecto do desejo dos homens e da inveja das mulheres quando passava nas ruas .Achou que a sorte ia mudar, que ia ser acarinhada, mimada, senhora de atenções. Deu o corpo ao padeiro do bairro,aos catorze anos, porque ele lhe disse que tinha uns olhos lindos enquanto lhe amassava o peito como se amassa o pão do dia. Os restos do pão que ele lhe dava, às vezes.

E Maria foi-se dando pela vida fora,achando que algum daqueles que a possuíam um dia a ohariam com olhos de ver. Vendeu-se pelos sonhos que tinha.

Tonta que és, Maria, que abres as pernas à espera de seres feliz!
Maria, mulher desonrada, puta de esquina, objecto de prazer de quem não sabe que és gente. E que um dia sonhaste.

novembro 09, 2004



Inaugurei hoje a minha época oficial de lareira.
Pois, por cá o frio à noite já é bastante há alguns dias mas, o botão do ar condicionado faz milagres e e eu sou uma preguiçosa inata.
Mas hoje apeteceu-me o calorzinho do fogo, sentir o cheiro da lenha seca a queimar, ouvir o crepitar do lume enquanto aquece a sala.
Vou-me sentar ali no chão, continuar a leitura do livro de agora ao som dos Barclay James Harvest* e deixar-me envolver por aquele calorzinho bom.
E depois vou pegar no telefone e tra la la...



*Não é nada ao som dos Barclay, isto agora foi uma private joke, desculpem.

Barulho, barulho e mais barulho

Vim a casa entre um pé e outro, na hora de almoço.O vizinho do lado ouvia qualquer coisa parecida com música e a vibração dos móveis aqui na sala e o untz , untz altíssimo, que vinha lá do quarto dele, tornavam o ambiente insuportável cá deste lado.
Ok, pensei, isto é só agora , o puto pensa que não está ninguém aqui em casa e eu até já estou de saída... Apesar de o barulho se ouvir seguramente no prédio todo!
Voltei a entrar em casa já depois das 7 da noite e a brincadeira continua. Ultimamente, isto tem sido assim de forma quase diária até à hora de jantar.
Eu trabalho.
Eu chego a casa exausta.
Eu tenho o direito à minha paz e sossego dentro da minha própria casa,pelo menos.
A próxima reunião de condomínio não vai ser nada pacífica, garanto. A senhora doutora mamã esquizofrénica do imberbe vai ter que engolir umas palavrinhas nada meigas. E o imbecilóide, na próxima vez que o encontrar nas escadas, vai ver o meu dedo encostado ao narizinho dele. Porque não o torno a avisar de forma educada.

Não, não estou nada bem disposta, so what?

E aos meus amigos que consideraram a hipótese de irmos hoje ver Rammstein, só digo: vão, vão, divirtam-se ... eu já tenho a minha dose de barulho por hoje.


novembro 07, 2004

Para as Isabéis e Carolinas

Supermercado.
Domingo ao meio da tarde.
Semana sem ter tempo para quaisquer compras.
Fim de semana de emoções fortes a ser digerido mentalmente.
Corredores apinhados de gente, gente feia e anónima que eu ignorava, rostos que nem olhava enquanto me tentava apressar para voltar a casa. Tinha saudades da minha casa, apesar de só ter passado uma noite fora, detesto supermercados a qualquer hora do dia e queria estar sozinha no meio das minhas coisas.

Já na fila, quase na minha vez para pagar, sinto um toque nas costas. Virei-me e vi a Isabel, mãe dedicada da pequenita Carolina de 5 anos que tratei durante vários meses de uma grave doença de carácter regressivo, doença de Niemann-Pick; sempre conversámos muito enquanto decorriam as sessões, eu e a Isabel; mãe esclarecida e consciente da gravidade da situação consegui , acho, que naqueles momentos ela se sentisse compreendida e ajudada. Os tratamentos acabaram por internamento ( mais um ) da Carolina e eu perdi-lhes o rasto. Até hoje.

_Olá, Ana_ disse ela com aquele sorriso triste a que eu já estava habituada. Como está?
_Isabel, que prazer revê-la! ( Pausa, em que a olhei nos olhos) Como estão as coisas?
_Já não estão, Ana... Acabou tudo em Abril. O quadro agravou-se rapidamente e as complicações respiratórias foram fatais. Agora, vive-se como se pode.
E deu-me de novo aquele sorriso digno de quem sabe que através de um sorriso também se pode demonstrar toda uma tristeza.


Há coisas que, mesmo com quase vinte anos de profissão, não conseguimos digerir sem um grande nó no estômago. E que fazem os nossos problemas pessoais parecerem tão pequeninos...

novembro 06, 2004

Arafat

Estou aqui cheia de pena do senhor; pena, peninha. Tanta pena que nem durmo desde que ele está doente. Coitadinho, tão boa pessoa ... Até ganhou um Nobel da Paz e tudo. Tsc, tsc...

novembro 05, 2004

Maus feitios

Palavras escritas à pressa numa hora de almoço sem fome, num dia cinzento .
Frio que entra por nós adentro como se de nós próprios se tratasse, numa invasão interior que nos gela as emoções e faz com que pensemos qual é o nosso lugar.

Pega-me ao colo e leva-me devagarinho para um recanto só nosso, faz-me acreditar que é possível ser feliz. E choremos os dois, abraçados, um só, até que o bicho mau se vá embora e o céu fique azul novamente.

novembro 04, 2004

Conselhos

Nunca, mas nunca mesmo, digam que conhecem perfeitamente uma pessoa.
E, já agora, nunca se mostrem totalmente. Guardem sempre um bocadinho só para vós.
Poupam muitos dissabores, aborrecimentos , raivas e desprezos, garanto-vos.
Porra!
Isto é um conselho que alguém que é óptimo a resolver os problemas de terceiros com muito bom senso, mas sente uma vontade enorme de resolver os próprios ao estaladão!!!

novembro 03, 2004

Eleições americanas

Pronto, lá ganhou o coiso outra vez.
Estamos lixados.

novembro 02, 2004


Comecei a ouvi-lo a medo, confesso. As poucas críticas que li não foram muito favoráveis: que era um disco de escuta difícil, que não entrava à primeira no ouvido, que não era para grandes públicos...
Lá meti o cd no carro e, aos poucos, fui-me envolvendo naquela sonoridade. Há muitos anos que não me apaixonava assim por um disco. Faixa após faixa, fui relaxando ao som da música.
Posso estar a dizer um tremendo disparate mas, ao ouvir este álbum, lembrei-me dos Barclay James Harvest.
E vou lá estar dia 7 de Janeiro, para cantar com eles. Porque este cd vai andar umas boas semanas a tocar no carro.

novembro 01, 2004

Noite das bruxas, dia de todos os santos e outras porcarias que tais

Não, não falei neles de propósito.
A noite das bruxas foi importada directamente dos EUA, para que as discotecas e bares tenham uma receita um pouco mais choruda nessa noite. E lá vai meio país para a rua com vestimentas e pinturas faciais imbecis porque está na moda, é fashion. Eu até gosto de sair e beber uns copos, mas não preciso de Carnavais, obrigada.


O outro, o dia dos santinhos, sempre me irritou profundamente. E quando digo sempre é desde criança, mesmo. Cá na terra há o terrível hábito de, logo pela manhã, as crianças pegarem num saco e, em grupo, tocarem a todas as campaínhas que apanham pelo caminho e gritarem: Bolinhos, bolinhos, à porta dos santinhos...
E os pobres desgraçados que estão a tentar dormir até um pouco mais tarde porque é feriado, lá se levantam estremunhados e dão qualquer coisa ( leia-se porcaria) aos querubins que, porque o que querem é umas moeditas ou chocolates , deitam fora as ofertas ao virar da primeira esquina.
Além de que nunca gostei de pedir nada a ninguém e porque raio ia andar a pedir coisas que tenho em casa a gente estranha?


E depois vem o Natal, mas disso falarei em altura própria. Mas não vai ser nada bonito.

Telefone

Toca.
Anda, toca lá...
Nem que seja um bip bip de SMS. ( Porcaria esta coisa das SMS, fica tanto por dizer. E depois não se ouve a voz, aquela voz de quem sentimos saudade).


Silêncio.


Toca, estúpido!
Pronto, ok, não toques. Sei que não podes agora. Mas sei que logo, logo, vou poder dizer-te o quanto gosto de ti.


Trimmm...
Trimmmmmmm...

Estou?
Olá... estava cheia de saudades tuas...