Teresa ouve o telefone a tocar enquanto fecha a porta de casa à chave. Hesita, mas decide não voltar atrás para atender. Quatro voltas à chave, saco de viagem com meia dúzia de roupas para lá atiradas ao acaso, senta-se ao volante e suspira enquanto o carro arranca. Há coisas que têm que ser feitas, decisões adiadas que têm de ser tomadas, pensa, ao sabor da estrada que o carro parece galgar. Gosta de conduzir e concentra-se na estrada para evitar pensar no que a perturba. O telemóvel de vez em quando toca mas Teresa nem o olha. Decidida, viaja todo o dia e o sol já quase se pôs quando, finalmente, estaciona. Respira fundo.
Francisco pousa o telefone sem que o atendam, mais uma vez. Mete os dedos no cabelo num gesto que, quem o conhece, sabe denunciar angústia. Tanta coisa que ficou por dizer, tanto por explicar. Quem costuma guardar para si mesmo o que o incomoda é, neste momento, quem sente a necessidade de clarificar tudo. Sente-se inseguro nesta nova situação, principalmente por não a conseguir resolver depressa. Achava que o que tinham era precioso demais para acabar assim mas, pelos vistos, estava enganado. Pegou de novo no telefone e jurou a si mesmo que era a última vez. Foi interrompido pela campainha da porta e esboçou um esgar de contrariedade. Não lhe apetecia ver ninguém, mas abriu.
_ Teresa? Tentei ligar-te todo o dia e não me atendeste!
_ Não. Há coisas que se resolvem olhos nos olhos e…
(Não conseguiu acabar. Um beijo calou-a)
Foto de Frederic Giacomaggi