É bonita, a cidade à chuva... as pequenas gotículas de água dançam com as luzes dos carros que passam, uma valsa de sentidos que passa despercebida à urbe indiferente .
Deixa-se levar por pequenos rios nas bermas das ruas, águas que correm debaixo dos meus olhos enquanto o carro desliza, fazendo saltar a chuva que cai a jorros das nuvens carregadas, escuras.
E continuam as luzes brilhantes, coloridas, num movimento irregular, num jogo de escondidas em que cintilam aqui e ali.
Saio do carro.
Deixo que me molhe.
Quero fazer parte delas, não ter destino,
nem eira nem beira,
molhar-me,
lavar-me,
despir-me de tudo e de todos.
Vou dar a cara à água, deixar que me fustigue
o rosto,
o corpo,
a vida.
E, mesmo que entre nas sarjetas, nos esgotos, nas condutas de dejectos, sei que mais cedo ou mais tarde encontrarei o mar e serei livre.