agosto 31, 2006

Acabou...

... o Verão.
Digam os calendários o que disserem, para mim o Verão acaba sempre no último dia de férias.
As noites estão mais frescas, os dias são bastante mais pequenos e, pouco a pouco, a Natureza vai tomando o tom alaranjado do Outono.
A partir de amanhã, os dias de calmaria acabaram e o ritmo vai voltar a ser o que era: infernal. E cada vez pior. Ou melhor, quando o trabalho não nos deixa tempo para pensar em mais nada e os dias passam rápidos, uns atrás dos outros.
Não vou ter muito tempo para vir aqui. Muitos textos vão ficar por postar, muita coisa boa vai ficar por ler ou comentar. Mas as prioridades actuais são outras e, sempre que tiver um bocadinho, reentro na blogosfera como na minha casa; não tanto como gostaria, mas não se pode ter tudo.
Até amanhã, ou até sempre.

agosto 29, 2006

Apanho pedaços do chão, fragmentos dispersos de ti e de mim; memórias que se soltam em frases entrecortadas por sorrisos e olhares que falam sem necessitarem de palavras.
As saudades ficam: dos beijos que não foram trocados, das carícias que não se soltaram.
E tanto que ficou por dizer, por fazer...
Há momentos que são irrepetíveis pela magia que criaram mas outros haverá, necessariamente diferentes e não menos intensos, talvez.

Colo os pedaços, um a um, saboreando o que me trazem. Reconstruo um abraço. De despedida? De boas-vindas? Não importa.
Sigo com o olhar e percorro o meu caminho. Não igual ao teu, mas paralelo...

agosto 27, 2006

Percorro-lhe as ruelas cinzentas que sobem e descem de forma aparentemente desordenada, sinto-lhe o cheiro e tomo-lhe a alma.
Porto. Faz-me lembrar Dickens.
A sua luz tímida e difusa, quase envergonhada por nos iluminar.
E depois há as pessoas. Extrovertidas, simpáticas. Prazenteiras. Que gostam da sua terra e gostam que os outros gostem. Que rolam os érres como só as gentes do Norte, adoçam a língua quando nos falam.
E há o Douro. Azul, límpido, a namorar as margens por debaixo de pontes sem fim, onde as crianças que se refrescam sem medo.

* foto tirada ontem, da Ribeira de Gaia


*Praia do Senhor da Pedra, ontem.

Deram as mãos quando saíram do carro e, em silêncio, atravessaram a passadeira de velhas traves de madeira, corroídas pelo sal e pelo vento, que os conduziu à praia já deserta a esta hora.
A lua, num crescente mentiroso, foi cúmplice dos primeiros beijos que trocaram, tímidos, a medo.
- Porque me trouxeste aqui?, perguntou-lhe ela ao ouvido, baixinho.
Ele olhou-a nos olhos.
- Vês este mar? _ perguntou. Foi aqui, nesta praia, que vivi a minha infância, que cresci. Quero que ele seja testemunha do que te quero pedir.
Pegou-lhe no rosto com as duas mãos, encostou-a a si e envolveu-a num abraço tal que se tornaram um só. Depois perguntou-lhe:
- Queres casar comigo?
Subitamente, o sol que já se tinha deitado levantou-se, o mar começou a dançar em ondas de espuma e a areia quente desenhou quadros felizes.
Ela respondeu apenas com os olhos e ofereceu-lhe os lábios e o corpo.
Selaram ali mesmo o amor que os unia.


agosto 25, 2006

Ventos soltos


Rasgo-te.
Disseco-te.
Rio-me do que encontro: fragmentos dispersos de memórias boas e más.
Atiro-as ao vento. As boas brincam com o ar, rodopiam e partem em danças livres.
As más caem no chão. Pesadas, inertes. Afundam-se no pó da estrada. E afundam-se para sempre.

O vento pára.

A calmaria instala-se como se tivesse estado sempre ali.
Sacudo despojos e restos.
Cantarolo baixinho e sigo viagem.

Top of the world


The view from here's breathtaking
My visions all surrounding
The humans look like insects
There is only one way down
But it's cold and lonely in this stratosphere
Gliding through the darkness
Where is my craft leading to
Am I damned or blessed?
Don't let go on top of the world
Don't let go on top of the world
Will my good friends desert me
Or will they prove themselves?
Are my demands all greedy
Or are they what I need?
If I will not be faithful
I must accept betrayal
When your turn comes to leave me
Will my free ways have failed?
Don't let go on top of the world
Don't let go on top of the world
I'll meet you inside this hollow world
I'll meet you inside
Hollow world, hollow world
It's a long way down
It's a long way down
And I'm so cold


Se alguém me souber explicar como é que eu ponho isto a tocar só carregando no play agradecia. Já pus "false" em tudo quanto era sítio e nada...

agosto 24, 2006

I'm a big, big girl...

You Are 71% Grown Up, 29% Kid

Congratulations, you are definitely quite emotionally mature.
Although you have your moments of moodiness, you're usually stable and level headed.

agosto 22, 2006


Marta desceu do avião e uma aragem fria fez tremer o seu corpo franzino. Tentou, em vão, aconchegar-se no fino casaco de linha que vestia. Caminhou em pequenos passos decididos para o autocarro que a conduziria à gare e fez todo o percurso que conhecia de cor sem olhar pelas janelas.
Não passou sequer pela sala das bagagens, trazia consigo apenas uma pequena mochila.
Quando saiu, deparou-se com dezenas de pessoas que esperavam por familiares e amigos, rostos expectantes, ansiosos de rever pessoas de qem gostavam. De novo, não olhou duas vezes; sabia que ninguém a esperava.
Entrou no táxi e deu-lhe o endereço, que leu de um pedaço de papel que trazia consigo.
Tinha sido um risco, aceitar assim um emprego num país desconhecido e partir à aventura.
Quando chegou ao destino olhou a casa, atónita. E riu, num riso solto que ecoou pelas redondezas.
Bem, pensou, pelo menos nunca estaria sozinha. Os fantasmas far-lhe-iam companhia.
Arregaçou as mangas e lançou mãos à obra. Era tempo de arranjar a casa e afastar os fantasmas.

Foto de Julho 2006 ( aqui bem perto)
Corrói.
Trepa pelas paredes, sobe aos poucos e vai tomando conta de tudo, desfigurando o aspecto exterior.
Torna-se dona e senhora dos sítios por onde passa, não sendo possível retirá-la sem que as marcas fiquem visíveis.
Dilacera.

Quando se limpa, o esqueleto mostra um entruncado de ramos e raminhos impossíveis de retirar por partes.

Há que limpar tudo e reconstruir.

agosto 21, 2006

Durmo.
Baixo os braços e desisto de lutar,deixo o tempo correr enquanto descanso.
Não me acordem!
Deixem passar as horas, os dias para que, quando eu despertar, a terra tenha girado o suficiente para que tudo esteja diferente.

Acordo.
As pessoas estão mais velhas ( dias? meses?). Mas continuam as mesmas. E eu continuo aqui prostrada, à espera. Sem esperança.

agosto 20, 2006

Indiano com dois pénis quer ser operado

Tanto gajo que pagava para isto e este vai cortar? Oh, céus...
Há o silêncio. Acolhedor, cúmplice. Não é preciso dizer nada e as palavras são, até, supérfulas. Quando duas pessoas se olham nos olhos e nada mais é importante senão quem está ali, mesmo à nossa frente, ao alcance de uma mão. O tempo pára, então; porque nos apetece ficar assim para sempre.

E depois há o silêncio. Constrangedor, intimidante. Completa ausência de sons que nos distraiam e nos levem a pensar noutra coisa senão a quietude que se gerou. Aqui, o tempo arrasta-se, um segundo parece uma hora. Não conseguimos falar, quebrar o desencanto incómodo. Os olhares desviam-se, a garganta seca. E queremos estar em todos os lugares menos ali.

agosto 19, 2006


Maria entra em casa e dirige-se à casa de banho, onde põe a água a correr.
Os sapatos voam, um para cada lado, enquanto se despe. Acende velas, ritual antigo de quando toma banhos demorados; deixa que um som de jazz invada a casa.
Dia cansativo, aquele. Como todos os anteriores, aliás. Mas sentia-se bem assim, bem sucedida, o tempo todo ocupado, sem grandes margens para pensamentos mais profundos. Agora importava viver o dia-a-dia e estava a gostar de cada momento.
Desliga o telemóvel de trabalho e pega no pessoal, que tinha ficado em casa. Não mistura as coisas.
Já dentro de água,deixa-se relaxar e percorre as chamadas que não atendeu ao longo do dia. Ri, à medida que vê os nomes... tão previsíveis!
Fecha os olhos e escolhe um nome ao acaso. Não importa qual, de quem,são todos iguais. Telefona de volta.
( Ok... jantar...pode ser... onde? Até já.)

Sai do banho e, enquanto se veste, revê mentalmente a agenda do dia seguinte. A tolha fica abandonada em cima da cama, os sapatos que descalçou quando entrou ficam abandonados no local onde caíram. Quarto desarrumado, aquele. Não faz mal. Hoje, decidiu, vai dormir sozinha.
Já dormes quando, finalmente, me deito.
A tua respiração, compassada, mostra que tens um sono tranquilo. Olho-te sem pressas, as pestanas enormes, a boca tão bem desenhada, o cabelo que me apetece afagar. Não o faço, tenho medo que acordes e quero que descanses. Desenho no teu rosto uma carícia leve e fico ali, a ver-te dormir enquanto me deito.
Pressentes-te na cama e imediatamente o teu corpo se vem enroscar no meu ventre. Eu deixo, abraço-te então e apago a luz. Não antes sem que entreabras os olhos, vês-me ali e balbucias: " Mamã...".
E adormeces de novo.

agosto 17, 2006

Joviana Benedito

Sou suspeita a falar desta Senhora, porque é minha amiga.
Mas depois de publicar uns livros sobre os meandros da internet, agora deu em escrever no Expresso.
Lê-se muito bem, a Joviana. Literatura leve, d'uma assentada só . Experimentem. :-)

Mulher sem rosto


Passa na rua indiferente ao que a rodeia.
Mulher sem rosto, uma entre muitas.
História única para contar, guarda-a para si no silêncio a que se remete.
Passos seguros, sabe qual é o seu caminho na estrada, na vida. Chega de hesitações. O destino está marcado e é ela que o decide.
Atrasos? Mais que muitos.
Contrariedades? Algumas.
Ingenuidades? Nunca mais.
Já perdeu demasiado tempo, está atrasada, sente-se o Chapeleiro Louco da sua própria vida! Tudo passa a correr, não pode parar, há muito a fazer.
Sorri com os lábios, não com os olhos. Isso ficará para depois. Ou não sorrirá mais, não importa. De nada vale sorrir, abraçar, amar, para o fim que quer alcançar.
Quando o alcançar poderá fechar os olhos e, finalmente, dormir.

Que o vento que sinto seja resultado da viagem que quero fazer, turbilhão de velocidade para destino desconhecido, mas não o meu. Não aqui. Não assim.
Necessariamente não igual, diferenças que não está nas minhas mãos poder mudar.
Estarão?
Não podem.
Porque me canso de lutar, lutar sempre contra uma maré que é mais forte que eu.
Não me posso deixar ir, seria deixar partir os sonhos. E esses não podem morrer.
Vou tentar guiar a corrente e, quem sabe, aterrar num destino diferente...

agosto 16, 2006

MEC


O Miguel Esteves Cardoso não é pessoa de meias medidas. Ou se ama ou se odeia.
E eu sempre gostei da forma directa como se expressa,bem como do seu cáustico sentido de humor.
Só o lê quem quer, por isso, aqui fica o link do seu novo blog.
Pela minha parte, teve entrada directa ali na coluna da direita.


Descoberto no Contra Capa
Caem grossas gotículas do céu, molhando-lhe a pele que se arrepia num agradável espasmo.
Está quente, um calor que se desprende do solo ao mesmo tempo que o cheiro único a terra molhada lhe invade as narinas.
Aos poucos, a roupa cola-se-lhe ao corpo, encharcada com a chuva que , entretanto, se solta nas negras nuvens que quase tocam o telhado das casas.
As pessoas que passam correm a abrigar-se mas ela continua, dançando com a água, com o vento, parceiros de uma coreografia espontânea que faz com que a olhem de soslaio até que, exausta, se deita na terra, terra que não se fez lama, até que a chuva pára e deixa vir o sol que a enxuga enquanto adormece...

agosto 15, 2006

Já nem na minha casa mando!
Queria repimpar-me na minha cadeira e escrevinhar aqui umas coisas, mas já estava ocupada...
Este menino acha-se dono e senhor cá da casa, ah pois acha!
Tenho que pôr ordem nisto, senão qualquer dia estou a dormir no gatil.



Despoja-se de roupas, pertences e haveres e mostra-se apenas como é. Inteira, revela o que lhe vai na alma sem subterfúgios ou mentiras.
Quem passa ri-se, apenas vê uma Mulher nua na beira da estrada.
Oferecem-lhe esmola, tomam-na por pedinte e recuam perante a altivez do seu olhar. Estava ali para dar, não para receber. Para se dar.
Esconde o rosto, por vergonha, e tenta camuflar-se por detrás de um ramo de jarros brancos.
Nunca mais se dará...

Caça

Reabre hoje a época de caça e lá vão eles, masculinidade em riste, espingardas em vez de falos, esses impotentes e por isso ignorados e escondidos. Cada tiro é uma erecção que não conseguem e cada animal morto é uma ejaculação orgásmica mal explodida. Que explosões, esses senhores só conseguem dando tirinhos aqui e ali muito contentes, a testosterona ao rubro e a potência no auge.

Com licença, que vou ali vomitar e já volto!

agosto 14, 2006

Respiro-te nos poros enquanto durmo.
Sinto-te a meu lado, a tua coxa colada na minha, a respiração compassada de quem, profundamente, abraça o mundo dos sonhos.
Acordo e olho-te. Não te conheço, quem és? Que fazes na minha cama, na minha intimidade?
Tenho o teu cheiro na minha pele e, no entanto, não me lembro de ter sido tua.
Fecho e reabro os olhos.
Desapareceste. Tudo volta ao normal na minha cama e reato o sono.
Parece que os sistemas de comentários não estão a funcionar muito bem. Eu recebo um mail de notificação cada vez que aqui comentam e posso garantir-vos que, quando aqui entro, leio os comentários todos. Mas há quem não consiga ler o que comenta...
Agradeço feedback desta informação, ou aqui ou preferencialmente para o mail ali ao lado.

Thank's :-)

( Eu logo vi que isto ficar a funcionar bem logo à primeira depois de uma mudança tão grande era muita fruta)

agosto 13, 2006


Quebro amarras, desfaço nós, solto laços.
Cambaleio sem controle, caio e levanto-me, tropeço e quase caio de novo.
Equilibro-me.
Inicio passos hesitantes rumo a destino desconhecido, solitário. Quem sabe?
(Re)aprendo a caminhar sem ajudas, auxílios, bengalas.
Aos poucos, a segurança volta aos meus pés e corro; corro veloz não importa para onde, pelo prazer de correr.
Solto-me quando te solto e te deixo ir.

agosto 11, 2006

Não resisto...



Esta foto arrancou-me a gargalhada da semana...

Roubada à Cátia

Ufa!!!

Helàs, o template novo está pronto...
Digam de vossa justiça.
Os dois sistemas de comentários continuam a existir em simultâneo, pelo sim, pelo não.

:-)

agosto 10, 2006


Transparências do que fui e não sou mais, reflexos de ti em mim.
Agito a água. Tudo muda, transformas-te em anéis que vão para longe, em suaves ondulações.
Quando a quietude volta, apenas eu me revejo no lago.
Mergulho bem fundo reabsorvendo a minha essência. Nado horas sem fim, saio revigorada e, enquanto enxugo a pele, digo-te adeus.

Foto de Pauline Corgini
"E uma vontade de rir
Nasce no fundo do ser
E uma vontade de ir
Correr o mundo e partir
A vida é sempre a perder"

Estes gajos são uns senhores.

agosto 09, 2006

Olhóstestes!

Qual é o teu grau de distracção?

Votre niveau de distraction

Pas de problème de mémoire, j'imprime. La mécanique est parfaite, vous fonctionnez avec la précision d'une horloge suisse et la fiabilité d'un ordinateur. Vous êtes toujours là ou il faut , quand il faut et avec ce qu'il faut. Essayez quand même de vous laisser aller de temps en temps, votre infaillibilité peut éventuellement énerver votre entourage, c'est pas drôle quelqu'un qui n'oublie jamais rien et puis ce petit coté mécanique, ça refroidit parfois les rapports humains. Normal, vous êtes déjà tombé(e) amoureux(se) d'un ordinateur vous ?





O ministro da Saúde, Correia Campos, afirmou em entrevista ao Jornal de Notícias deste domingo que: «nunca vou a um SAP, nem nunca irei!».

Ó sr. Ministro: Se faz favor diga lá para onde é que eu mando depois a conta. É que, a partir de agora, estou solidária consigo.

agosto 08, 2006

Dia D

Acordei estremunhada com o telemóvel a tocar. Olhei para o relógio: 8:45 h. Às apalpadelas lá o achei entre os lençóis; era a minha filhota: "Parabéns, mamã! Um beijinho. Gosto tanto de ti..." Entre muitos mais beijos, combinámos o que iríamos fazer à tarde, quando ela estivesse comigo. A minha pequenita, que nunca se esquece de mim. O mais velho ligou mais tarde, quando acordou ( bem mais tarde, afinal ter 15 anos tem destas coisas).

Pouco passava das 9 h ligou a S. Somos amigas há mais de 35 anos; vivemos geograficamente afastadas, mas tanto podemos estar meses sem falar uma com a outra como ligar várias vezes numa semana. A conversa, essa, fica sempre em dia. É das poucas pessoas a quem chamo Amiga.

Perto da hora de almoço ligou o V. Faz anos hoje também e, religiosamente, liga-me todos os anos para "nos darmos" parabéns. Vivemos na mesma cidade, mas muito raramente nos cruzamos. É a única vez no ano que falamos, banalidades, mas ele está lá. Sempre. No ano que não ligar, sei que é porque alguma coisa má lhe aconteceu.

Durante todo dia o telefone não parou, recebi até mensagens de pessoas com quem iria estar horas depois.

Não me importando nada com datas, é muito bom saber que há pessoas que pensam e que gostam de nós. Acabaram por transformar aquilo que seria um dia de trabalho banal num dia muito especial.

Sei que a esmagadora maioria nunca lerá estas palavras mas, a todos: muito obrigada. :-)


agosto 07, 2006

Matilde pôs mãos à obra. Já o deveria ter feito há muito tempo, mas só agora arranjou coragem.
Despejou gavetas de sonhos e esvaziou armários de memórias. Deteve-se nalguns por mais algum tempo, antes de os arrumar.
Com uns esboçou sorrisos, com outros soltou uma lágrima.
Mas todos, sem excepção, foram acondicionados em caixas, cuidadosamente preservados para que não se estragassem e enviados para lá, onde as memórias são intemporais.
No fim,sacudiu as mãos, olhou em volta e disse:
_ Boa, tenho uma casa vazia para encher!

Voltei a ser crente! Recuperei a fé!

Cheguei a casa há coisa de meia hora e o termómetro do carro marcava 28º C. Lá dentro: 22ºC.
Dentro de casa, o ar quente e abafado depressa ficou fresco com um simples click no comando.

Se S. Ar Condicionado não me valesse, não sei o que seria de mim hoje...

agosto 05, 2006

Busco en la muerte la vida,
salud en la enfermedad,
en la prisión libertad,
en lo cerrado salida
y en el traidor lealtad.

Pero mi suerte, de quien
jamás espero algún bien,
con el cielo ha estatuido,
que, pues lo imposible pido,
lo posible aún no me den.

Cervantes


Uma porta que se fecha; outras se abrirão.


A girl got to do what a girl got to do.

agosto 04, 2006

Abre as cercas, derruba os muros, baixa os braços.
Uma a uma, sem medo do que possa vir.
Descobre como é bom um campo sem obstáculos,onde não há perigo, que não tem que ter medos, receios infundados. Não é plano, o caminho,nem assim o esperava, mas percebe como é bom subir e descer os trilhos que a esperam.
Observa agora de perto os objectos que via pelas frestas das cercas. Toca-lhes. E gosta de sentir as diferentes texturas, cheirar os diferentes odores.
Dança sobre os despojos que derrubou, diz-lhes um último adeus e, sem olhar para trás, corre a céu aberto com o sol como companheiro.

* foto tirada algures, Junho 2006

agosto 03, 2006

Acordou cedo. Vestiu as mesmas roupas de sempre, escuras como o seu interior.
Pegou no saco, já preparado de véspera e, aos primeiros raios de sol, saiu para a rua. Tinha destino marcado, sabia exactamente para onde se dirigir.
Descalça, foi-lhe difícil percorrer o caminho campestre, sinuoso, mas seguiu decidida o seu caminho. Tinha que o fazer...
Finalmente, chegou à beira do precipício, que parecia que a esperava. O sol, acabado de nascer, seria a sua testemunha.
Despiu-se lentamente, tirando as roupas uma a uma e atirando-as no abismo; ficou totalmente nua e as roupas atiradas, mais leves do que o vento, dançavam à sua frente num desafio assustador.
Riu, riu como uma louca!
Aproximou-se da beira e gritou, o mais alto que pode:
_ Bom dia, Vida!!!
As vestes negras agitavam-se cada vez mais, memória atiradas do passado até que, vencidas, caíram bem lá no fundo.
Do saco, tirou as roupas novas, de cores vivas, compradas na véspera.
Vestiu-se cuidadosamente e fez o caminho de volta, com um sorriso nos lábios; deu os bons dias a todos, os conhecidos e os desconhecidos que, à sua passagem, respondiam timidamente.
Enfrentou o dia como nunca o tinha feito e, a partir daí, nunca mais vestiu de preto.

Está tudo explicado!!!

Ouvi hoje na rádio que o actor favorito de George W. Bush é Chuck Norris...
É uma das minhas praias favoritas, desde sempre. Gosto dela no Inverno, quando está deserta e é toda minha, inteira e eu posso passear nela com o vento, sempre agreste, a bater-me na cara e a fazer-me chorar enquanto enterro os pés na areia gelada. Sou egoísta, eu sei. Mas há coisas que gostaria de não ter que partilhar.

E depois há o mar. O mar que, ali, parece vir de todos os lados, envolvendo-me num abraço sem fim.
Tinha muitas saudades dele e ontem fui visitá-lo.
A praia estava cheia mas, quando nos olhámos, percebemos que estávamos ali apenas um para o outro. Entrei nele ( ou terá sido ele que entrou em mim?) e tocámo-nos, sentimo-nos; como dois seres que sabem que pertencem um ao outro.
Quando nos despedimos, saí já com saudades dele. Até outro instante... ( porque há relações que são eternas)

agosto 01, 2006

Margarida

Encontrei-a casualmente no supermercado. Chamou-me a atenção o lenço verde garrido que usava na cabeça. Sempre fora extravagante no vestir, reflexo da forma de estar na vida.
Mas, desta vez, o lenço queria dizer algo mais: Margarida estava totalmente sem cabelo, sinal da quimioterapia que lhe corria nas veias. Sem fechar os olhos consegui visualizá-la uns meses antes; sempre fora magra, cabelo loiro curto e olhos azuis .
_ Ana! Há quanto tempo não te via, menina! 'Tás boa?
_ Sabes que estou sempre boa, respondi-lhe entre risos e um beijo. E tu, como tens passado?

Fizemos uma pausa e olhámo-nos nos olhos, aqueles grandes olhos azuis a olharem para mim e eu só via a pequena Margarida que comigo andava de bicicleta.

_Deu uma gargalhada e disse: Eu? Olha, estou viva! E é tão bom... E saiu a correr atrás da filha, de 3 anos, que entretanto tinha fugido.

34 anos. Cancro da mama. Mastectomia total com esvaziamento ganglionar. Quimioterapia.
E um enorme sorriso!




Pequena bailarina de pés hesitantes, dança lá no alto sozinha para quem a quiser ver.
O espaço é exíguo, mas desempenha a sua arte o melhor que pode.
O que a levou ali?
Nem ela própria sabe.
Está ali desde que se lembra, dançando, dançando sem parar.
O mundo passa a seus pés, indiferente; são raros os que levantam a cabeça e a contemplam e mesmo desses, a maioria apenas se interroga porque estará ela ali. Mas outros, poucos, páram e sorriem-lhe, apreciando a sua arte. É para esses que dança, dança sempre...

Um dia, há muito tempo, apareceu um rapaz que lhe estendeu a mão e disse: " Vem dançar comigo..."
A pequena bailarina hesitou: O salto era muito grande, magoar-se-ia de certeza. Mas, se não saltasse, continuaria a dançar sozinha para sempre.

O final da história? A bailarina feriu-se. Se de corpo ou de alma, isso não é importante.