abril 30, 2005

Devido a algumas dificuldades de ordem técnica, nos próximos tempos a minha presença aqui talvez não seja tão regular como desejaria.

O pc foi ao estaleiro e tenho que teclar do pc de um viciado de 14 anos (o pc é meu tens que pedir, mãe).

Mas a vingança é um prato que se serve frio e , por enquanto, isto aqui em casa ainda não é uma democracia!!!

abril 28, 2005



Os dedos uniram-se, entrelaçados uns nos outros. Assim ficaram enquanto puderam, queriam ficar para sempre com a sensação do toque um do outro; sabiam que não mais se voltariam a sentir.
Os dela, frágeis tocaram levemente a mão forte que os segurava. Acariciou-a, sentindo-lhe o calor e os pelos macios. Os sentidos de ambos estavam concentrados naquelas duas mãos, o resto dos corpos não existia. Como se o Mundo não existisse.
A mão dele apertou a dela com força, como se assim pudesse retê-la para sempre consigo.
Foi ela que deu o primeiro sinal. E, tão lentamente quanto puderam, as mãos deslizaram uma na outra e finalmente separaram-se.
Com os olhos murmuraram um adeus silencioso e, em simultâneo, caminharam para direcções opostas. Para vidas diferentes.

Querido diário:

Estou com uma dor de cabeça que não me larga desde que acordei e já esgotei a dose de paracetamol diária. Mesmo assim não passa, a estúpida. Além disso doem-me os pés e as pernas; trabalhei hoje que nem uma galega ( se é que os galegos trabalham assim tanto) e eu não estou propriamente todo o dia sentada, mas doem-me tanto que , com o calor, os pés mal cabiam nos sapatos ao fim do dia.

E, cada vez que isto me acontece, lembro-me sempre da história de uma amiga minha que tinha uma empregada indescritível. Eu disse tinha porque, um dia ao chegar a casa, a minha amiga tinha em cima da mesa da cozinha o seguinte bilhete:

Dótora Vanda:
Por motivos de me terem enxado os pés, levei uns sapatos seus.
Devolvo para a semana.
Obrigada.

abril 27, 2005

Os coisos

Os coisos são aqueles coletes reflectores que, por imposição do novo Código da Estrada, todos os condutores devem possuir.
No entanto, tenho algumas dúvidas em relação aos coisos que, se possível, gostava de ver esclarecidas:

1 - Não havia cores mais jeitozinhas para os coisos, não? Eu sei que as escolhidas são poderosamente reflectoras, mas temos que parecer um pirilampo original ou apaneleirado quando vestimos aquilo?

2 - Vai ser moda agora enfiar aquilo no banco do condutor e andar eternamente a conduzir com aquilo lá? É que já vi mais de uma dúzia de carros nessa fraca figura.

3 - Porque raios há quem chame ao coiso colete RETRO reflector? Só reflecte por trás?

4 - Acho que é de considerar a hipótese de o coiso passar a ser o uniforme das prostitutas de beira de estrada, substituindo assim o célebre saco de plástico pendurado na árvore. Até podiam escolher a cor do coiso segundo a sua....er...bem... especialidade. Mas isto sou já eu a divagar, é melhor ficar por aqui.

Post pessoal

Deitado no meu colo, puxaste-me para ti, beijaste-me o rosto e disseste-me:
_ Tenho muito orgulho em ti.

E fizeste-me sentir a melhor pessoa do mundo.

abril 26, 2005



Deixem-me errar, fazer grandes disparates, cometer os maiores erros.
Quero cair para me poder levantar.
Prefiro a amargura sofrida à redoma sufocante que não me deixa respirar.
Vou gritar bem alto, insultar quem passa, ofender quem se meter no meu caminho. Porque é o MEU caminho.
Não quero ajudas complacentes, falinhas mansas, mãos estendidas em meu auxílio.
Vou levantar-me sozinha e deixar para trás quem não percebe que isso tem que fazer parte do meu equilíbrio. Doa a quem doer. Nem que seja a mim mesma.
Orgulhosamente só.

E, quando finalmente deitar a cabeça no teu ombro, vou saber que te mereço e que estou pronta para ti.

abril 25, 2005


"Toc, toc, toc..."
Os saltos altos ecoavam no chão de pedra da Casa vazia, em passos lentos.
Não havia mobília e restavam apenas nas paredes algumas fotografias de memórias que lhe eram familiares. Dolorosamente familiares.
Avançava a medo, apesar de conhecer a olhos fechados o chão que pisava. Por entre as frestas das portadas fechadas, alguns raios de luz iluminavam o interior da Casa o suficiente para não ter que abrir quaisquer janelas, apesar do ar bafiento que se fazia sentir. Não queria luz na Casa. A penumbra era o suficiente para o que ia fazer.

Descalçou-se, para que o silêncio tomasse conta de si e tirou o casaco, deixando-o caído no chão. Percorreu-a um arrepio de frio, mas não se importou. Entrou num dos quartos e o chão da Casa, apesar de pedra, parecia ranger ao ritmo dos seus passos. Aproximou-se do Recanto onde outrora tinha a cómoda, móvel de secredos ocultos aos olhares de terceiros. Olhou em redor e resolveu abrir as janelas. O ar da rua invadiu-a, inebriante, obrigando-a a respirar fundo algumas vezes.

Ajoelhou-se e tocou com a ponta dos dedos algumas das pedras do Recanto, mais para as sentir do que para ter a certeza da que procurava, visto saber exactamente qual era.

A Pedra era exactamente como as outras. Percorreu-a com as duas mãos, uma de cada vez. Depois levantou-a e olhou para o buraco aberto. Tirou de lá uma Caixa pequena, de cartão, que pôs cuidadosamente a seu lado enquanto recolocava a Pedra no local.

Abriu a Caixa e olhou o que continha. Percorreu cada Objecto com o olhar, não se atrevendo a tocar-lhes. Toda a sua vida passada estava ali naquela Caixa e tocar no que continha seria reviver tudo. Não queria. Tirou do bolso uma caixa de fósforos e, como se de um ritual sagrado se tratasse, pegou fogo à Caixa e aos Objectos. Ficou ali até que tudo ardesse e não restasse mais que um monte de cinzas, ainda fumegantes.

Levantou-se e saiu da Casa, deixando para trás os sapatos e o casaco. Apodreceriam com as memórias queimadas.


Será possível...

...despirmo-nos de tudo e começar de novo?
Ser folha em branco , livro por escrever, projecto por idealizar.
Despirmos todas as roupas e ficarmos nús, expostos, vulneráveis mas também imaculados.
Despojarmo-nos de todas as cargas emocionais, de todos os ódios, recriminações, cobranças, expectativas, amores, saudades, de tudo o que há dentro de cada um de nós.

Ser nada. E ser tudo, simultaneamente.

Reconstruir devagar, sem pressas, cada pedaço de nós próprios; refazer o puzzle emocional de forma a que as peças não se atropelem umas às outras, que não se tentem encaixar peças no lugar que não lhes pertence.
Esquecer todas as explicações teóricas, todas as vertentes filosóficas e racionais que conhecemos e deixar fluir, gota a gota, as emoções; mas de forma a que não nos magoem, quando se fundem com o nosso ser. As fusões perfeitas são assim, no produto final não se reconhece o que pertencia a qual componente anterior. Gera-se algo completamente novo. E melhor.

Deixem-me juntar os meus novos "Eus" sem culpas nem cobranças, ser alguém que nunca me deixaram ser, poder gritar que não gosto daquilo que sou. Que não quero magoar ninguém , que não quero ser censurada, que vou ter a coragem de seguir em frente sem sentimentos de culpa; porque tenho o direito de gostar de mim.

Começar de novo.

abril 24, 2005

Tudo o que é bom acaba depressa...

Mas deu para descansar.
E para pôr algumas ideias em ordem.
E para sentir saudades de quem cá ficou.
E para sentir já saudades de quem foi.
E para iniciar outro ciclo.
E para voltar ao real world.
De forma diferente, espero.

Beijos, I'm back.

abril 17, 2005

Férias

Estou oficialmente de férias desde as 18 horas de sexta-feira. Dantes, assim que despia a bata sentia-me logo mais leve.
Hoje é domingo e ainda tenho a sensação de que amanhã vou trabalhar. Custa a descomprimir, desta vez. Uma coisa é certa: Isto vai-me acontecer para a semana


Por isso, deixem aqui beijinhos e abraços que eu gosto.
Até mais.

Os olhos fechados, o corpo deitado, imóvel.
Ouvia a chuva a cair lá fora, mas não conseguiu perceber se tinha frio ou calor.
Pessoas à sua volta tinham, em surdina, conversas que ela,apesar de tudo, conseguia ouvir na perfeição.
Num canto distante da sala, soluços entrecortados por um choro baixo que lhe era familiar fez com que tentasse abrir os olhos. Em vão. Quis então levantar-se, mas não conseguiu mexer-se um milímetro que fosse. Estranhamente, isso não a incomodou. Sabia que tinha que ser assim.
Conhecia uma a uma as pessoas que se aproximavam dela,que lhe faziam festas no rosto, que a beijavam com lábios quentes, ao de leve. Tinham todas os lábios quentes, o que a fez perceber que estava fria.

Queria poder mostrar que estava ali , que os ouvia, que gostava deles, mas não sabia como. Começou a sentir-se prisioneira do seu próprio corpo e percebeu que tudo iria acabar ali.
Reviu mentalmente toda a sua vida, os erros que tinha cometido, as escolhas erradas que tinha feito, os anos e anos de uma vida vivida de forma passiva até que, ao aperceber-se de que tudo tinha sido feito de forma errada, se viu envolvida num turbilhão de emoções e sentimentos que não conseguiu controlar e tiveram como resultado aquele desfecho.

Queria muito começar tudo de novo, poder voltar atrás; mas sabia que isso era impossível. Que, se lhe fosse dada essa hipótese, provavelmente cometeria exactamente os mesmos erros. E que estava ali deitada, supostamente em paz. Mas paz era a única coisa que não sentia naquele momento. Tentou levantar-se, gritar, saltar , berrar a plenos pulmões: Eu estou aqui, não falem de mim como se não estivesse!!
Nada. Nem um músculo se moveu.

De repente, a chuva parou. Fez-se silêncio na sala. Ouviu passos a entrar, passos esses que ela conhecia tão bem. Duas pessoas, uma com passitos hesitantes, amedrontados de criança e outros mais pesados, mas igualmente assustados, de adolescente. Percebeu que choravam os dois, à medida que se aproximavam de si. Não queria os seus meninos a chorar, eles não podiam chorar, principalmente por sua causa. Quis desesperadamente abraçá-los mas percebeu mais uma vez que não iria conseguir.
Aproximaram-se e ela sentiu-os , um de cada lado, darem as mãos por cima do seu peito, como num abraço a três. Podem dar um beijo à mãe, se quiserem... disse uma voz também chorosa e perfeitamente familiar.

Sentiu as suas caritas aproximarem-se ao mesmo tempo do seu rosto. Tinha que ser agora. Eles tinham que sentir que ela não os tinha abandonado. Ao beijarem-na, as suas lágrimas, molharam o rosto dela. E foi então, com toda a força de que foi capaz, que duas lágrimas rolaram também dos seus olhos fechados. Eles ficaram a olhar, suspensos naquelas minúsculas gotas de água que lhe corriam pela face, até que se fundiram com as que eles lá tinham deixado.

E, no momento que as lágrimas se tornaram numa só, ela abriu os olhos e sorriu para eles.
A pequenita sorriu também e disse para o mais velho:
_ Estás a ver? Eu bem disse que a mãe estava só a dormir.

abril 16, 2005

Sem título

Dias que tinham tudo para ser perfeitos tornam-se extraordinariamente difíceis. Porque falta sempre uma ou várias pessoas.
E, muitas vezes, a nossa capacidade de suprir essa falta torna-se fundamental para que as coisas corram pelo melhor.

Lugares, cheiros, frases, saudades, tudo ajuda a que as horas se arrastem e se tornem em verdadeiros suplícios. Ver o mesmo nos olhos dos outros , fazer um teatro como se nada se passasse e a Vida continuasse na mesma. Continua, sim, mas necessariamente diferente. Acima de tudo, mais dolorosa e solitária.
A vontade de fugir de tudo e todos para nos refugiarmos no nosso cantinho torna-se insuportável. Deixa-nos agrestes, como as nortadas. Secam-nos até à alma.

E quando conseguimos fugir percebemos que, mesmo camuflada, a dor acompanha-nos. E queremos fugir de novo. Nem que seja de nós próprios.

abril 15, 2005


Persegues-me de forma impiedosa para todo o lado,mancha escura.
Não gosto de ti, reles imitação dos meus gestos, de todos os meus movimentos.
Não tens nada dentro de ti. És só duas dimensões, ausência de luz pela interposição do meu corpo.
Deve ser por isso que te agrilhoas aos meus pés e me arrastas no terreno, tornando imperfeito o contorno que apresentas de mim.
És feia.
És má.
Trazes a escuridão para o pé de mim.

Ou serei eu própria uma projecção tua? Existirás tu e serei eu apenas aquela que te persegue em busca de algo inatingível, numa constante corrida para te agarrar sem nunca o conseguir?
Nunca nos vamos fundir, tu e eu. Nunca seremos uma só.

Mas gostava de ser o lado da luz e poder ver-te como um complemento meu, que caminha comigo lado a lado, discreta mas presente.

Para nunca mais me sentir só.

abril 14, 2005

Post cínico

É estranho como, com o passar da idade, passamos a confiar cada vez menos nas coisas. E nas pessoas. Tornamo-nos desconfiados por natureza. A credibilidade vai assim desaparecendo com os anos; porquê?
Pelas decepções que vamos sofrendo ao longo da vida? Mas isso não pressupõe que a natureza humana seja cínica por natureza?
Gostava de encontrar uma pessoa que, ao envelhecer, confiasse mais nos outros; que, ao olhar alguém nos olhos, soubesse se falava verdade ou mentira. Porque é tão fácil mentir olhando nos olhos. Coisa que também se vai aprendendo, digam o que disserem.
Era bom saber que alguém estava ali só para nós , sem qualquer ponta de servilismo. Apenas de confiança total da nossa parte.

Teste

(Aqui a idiota ontem pensou que tinha posto aqui o texto e não foi verificar depois. Desligou esta coisa e foi namorar. Resultado: Só agora percebi que o blogger deu erro e já tinha avisado os destinatários seguintes. Sorte a minha que tinha isto gravado no word. As minhas desculpas.)


Fui peciscada num teste da blogosfera, mas não resisto a um desafio destes. Cá vai:

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro querias ser?
Só posso escolher um? Terá que ser "Le Petit Prince"...

Já algumas vezes ficaste apanhadinho(a) por uma personagem de ficção?
Nunca tinha pensado nisso, mas não. Aliás, nem tenho ídolos. Bolas, gaja enfadonha!

Qual o último livro que compraste ?

Comprei dois: " As Paixões de Júlia", do Somerset Maughman e " A Misteriosa Chama da Rainha Loana", do Umberto Eco.

Qual o último livro que leste?

Também foram dois simultaneamente: "Memória das minhas putas tristes", do García Marquez e "PS:Eu amo-te", da Cecelia Ahern.

Que livro estás a ler?
Estou a acabar " Uma história suja", do Sepúlveda. Decepcionante.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?

Cinco livros que nunca tivesse lido: um romance, um policial, um livro de poemas, um conto e uma biografia.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?

Ó pá, esta é a mais difícil: Escolho
TheOldMan
a laura
e o Alberto

abril 12, 2005



Sentou-se na cama, sobressaltada. O coração batia-lhe descompassadamente, parecendo querer saltar da caixa toráxica a cada batimento. Estava encharcada em suores frios, o que a fazia tremer de frio, para além do tremor de medo que com que batesse os dentes de forma incontrolada.
Puxou os joelhos para si e abraçou-os, começando a balançar-se para trás e para a frente numa tentativa de consolo que não vinha. Não conseguia fechar os olhos, porque as imagens , as sensações, os medos voltavam como se estivessem a ser vividos de novo.

Acendeu a luz e olhou para o relógio: três e vinte da manhã. Já sabia as horas, antes de para lá olhar. Diariamente, o ritual repetia-se: o sonho, o acordar sobressaltado, o não conseguir readormecer senão perto da madrugada, o acordar cheia de sono, o andar com as mesmas imagens todos os dias gravadas na memória. A dor que lhe causavam, ridiculamente, porque nunca tinham acontecido.
Mas aconteciam dentro dela e interferiam com a sua sensibilidade e bem estar.
Suspirou. Aquilo tinha que acabar um dia.
Tomou um comprido para dormir e deixou a caixa perto.
Quanto acordasse, tomaria outro. E depois outro.
Hoje não ia trabalhar. Tirava o dia para dormir. Ou para deixar chegar o pesadelo ao fim. Tinha que saber como o sonho acabava

abril 11, 2005

Isto de uma mulher sozinha ter que arranjar assuntos para escrever tem que se lhe diga. É que, para além de ter vadiado no fim-de-semana e não ter vindo aqui por isso, hoje não se me ocorre nada .
Ah, para a semana que vem estou de licença sem vencimento. Sim, porque os porcos do sítio onde trabalho só me deixam tirar férias em Agosto. E eu sou contra atestados médicos sem estar realmente doente,que querem?
Por isso, para a semana ( e antes que caia para o lado de cansaço), não faço na-di-cas e zarpo daqui para fora uns dias.

abril 10, 2005

Hoje apetecia-me pintar o blog de cor de rosa, mas isso dá muito trabalho e já sei que amanhã me iria arrepender, por isso fico é quieta.
Mas pode-se sonhar, não pode?
Boa semana a todos.

abril 08, 2005

Aviso à navegação

É o fim dum dia super merdoso de uma semana merdosa.
Não chateiem, tá?
Quero é mimos...

abril 07, 2005

E agora?

_ Olha aquela saia tão gira... e nada cara.
_ Vai experimentar...
.......................

_Eh pá, é um bocado curta!
_ Não é nada, fica-te bem... leva-a!
_ Hum... não é mesmo? Ok, eu levo.
.......................

_ Tina, passe esta saia a ferro, por favor e pendure.
_ Sim, minha senhora.
.......................

_Ó estúpida, eu bem te disse que a saia era curta demais!
_Porquê?
_Porque a minha empregada foi pendurá-la no roupeiro da minha filha, achando que era dela!!

abril 05, 2005

Dia na vida de uma Mulher...que Mulher? Que Vida?

8.45 h - Saio de casa para ir trabalhar.

9.10 h - Pedem-me um relatório anual de funcionamento para entregar amanhã. O trabalho com os miúdos que se lixe (acham eles), passo a manhã ao computador e trago o resto para fazer em casa.

10.30 h - Vou ao bar comer meia torrada e aturo uma gaja que me tenta convencer a acompanhar na 6ª feira um miúdo com o qual nem trabalho a uma consulta de Neurologia, com o pretexto de que não se sente capaz de conduzir 30 km de auto estrada por causa das lentes e eu a ver que ela não quer é levantar o cu da cama mais cedo do que o costume.

13 h - Almoço qualquer coisa à pressa no refeitório porque quero ir lavar o carro. A lavagem estava cheia.

13.50 h- Chego à Clínica. Tudo com cara de caso. Consultas no fim de semana: doentes marcados uns em cima dos outros, prescrições confusas, outras perfeitamente disparatadas, as auxiliares a pedir socorro, uma tarde que se avizinhava um caos.

14.30 - Depois de 20 min ao telefone com a médica ( e 4 doentes já à minha espera), oiço um : Olhe, eu no sábado não estava nada bem por causa daquilo que lhe contei na sexta. Faça como de costume, avalie os doentes e mude as prescrições como entender. Sabe que às vezes confio mais em si que em mim.

14.35 - Vou para o vestiário contar até 10 para não pegar no telefone e dizer que aquela merda é dela, que a confiança e competência nos empregos se paga,que amigos amigos negócios à parte e que lhe ofereço o aumento que recebi este ano para ela tomar um café.

18.00 - Saio porta fora depois de uma tarde do caraças sem a menor ideia do que vou dar de jantar aos filhotes, passo no supermercado e compro qualquer coisa, vou buscar a pequena a casa da minha mãe que me olha com aqueles olhos nunca te demoras mais que 5 minutos, deixas-me aqui sozinha com o meu sofrimento e não queres nem saber.

18.40 - Toca o telefone e o mais velho quer saber se me esqueci de que tinha que o levar ao Instituto de línguas, saio a correr ainda a tempo de ouvir a recomendação não te esqueças que o teu irmão amanhã fazia anos e a missa é às sete e um quarto!
Apeteceu-me perguntar se a missa ia fazer com que ele voltasse, mas não me apeteceu. Disse que não estava esquecida, que ia à merda da missa, sim. ( A parte da merda só pensei, não disse).

18.45 - Apanho o puto à porta de casa à hora exacta que ele devia estar a entrar na sala de aula. Que se lixe, aquilo fica a 3 minutos de carro.

19.00 - Entro em casa quase 10 horas depois de ter saído. Vou fechar os estores. Cinza de cigarro no chão do quarto dele. Porra! Fico a pensar como vou abordar aquilo.

20.00 - O puto chega a casa. Chamo-o ao quarto e peço-lhe que, sem mentiras, me diga o que é aquilo. A gaguejar, lá confessou que tinha experimentado fumar um cigarro mas que tinha tossido tanto que a cinza devia ter caído e ele não se apercebeu. Que era a segunda vez que experimentava, a primeira tinha sido o ano passado. Tem 14 anos, ele. A idade com que comecei a fumar. Disse-lho. Da melhor forma que sei, tentei mostrar-lhe o mal que faria a ele próprio se se tornasse fumador. Que toda a gente começa a experimentar e que nunca se gosta,mas todos os anos surgem novos fumadores. Que ser adulto é marcar a diferença, não fazer aquilo que não se gosta apenas porque os outros fazem. Que eu tinha deixado de fumar porque ele mo tinha pedido. E que eu lhe estava agora a fazer o mesmo pedido, mas a escolha seria sempre dele. Não sei se o convenci.

20.30 - Alinhavei o jantar e lá comemos.

21.15 - Venho para aqui acabar o relatório para amanhã. Ligo o MSN e percebo que uma das pessoas mais importantes da minha vida está tristíssima por uma situação que também já vivi. Retrocedo uns anos e isso não me faz nada bem.

21.40 - Largo a porra do relatório e cago nesta merda toda!Amanhã acabo-o que não me pagam horas estraordinárias.


Pode-se dizer FODA-SE? Where is the twilight zone?

abril 03, 2005


Pronto, confesso: O post anterior foi pura imaginação.
Mas a esplanada de onde acabo de chegar deu-me esta paisagem... relaxante.

Domingo à tarde. Chovia copiosamente lá fora, o dia cinzento convidava a ver a chuva por detrás das vidraças.
Estavam enroscados um no outro, espreitando um qualquer filme que dava na televisão.
_ Apetece-te sair? - perguntou ele.
_ Sim, respondeu ela. Quero ir à praia. Estou farta de estar aqui.
_ Doidita, riu-se ele...enroscando-a ainda mais nos seus braços fortes, enquanto lhe beijava o cabelo.
_ Estou a falar a sério. Quero ir ver o mar.
_ Ok, vamos lá então...

Ele sabia exactamente onde a levar. A chuva fria caía em bátegas nos vidros do carro, contrastando com o calor que se fazia sentir lá dentro.O mar do Guincho, revolto, apareceu ao longe enquanto ele conduzia devagar pelo trilho de pedras;cinzento chumbo, da cor do céu, elevava-se em gigantescas ondas de espuma branca que rebentavam na areia com um ruído ensurdecedor, fazendo lembrar uma trovoada. A praia estava deserta, não se via nem um carro nas imediações
Ficaram alguns minutos ali, em silêncio.

De repente, ela tira as botas. E as meias. E arregaça as calças.
_Que estás tu a fazer? _ pergunta ele surpreendido.
_ Vou lá abaixo, já volto.

Ficou completamente encharcada assim que saiu do carro, mas continuou a caminhar na direcção do mar.
A areia colava-se-lhe aos pés e a roupa, molhada, provocou-lhe um arrepio de frio. Foi tirando o casaco, a t shirt e as calças que ia largando no chão até que, ao chegar à zona de rebentação, estava apenas de roupa interior. Sentou-se uns metros antes da zona onde o mar se espraiava na areia e ali se deixou ficar. Ela e o mar, em perfeita comunhão de sentidos. Os salpicos de água salgada misturavam-se no seu cabelo com a água doce da chuva.
Fechou os olhos, para melhor lhe sentir o cheiro, enchendo o peito daquele ar forte. Ficou assim alguns minutos até que se apercebeu de que algo tinha mudado.

Abriu os olhos. A chuva tinha parado e o sol espreitava , forte, por entre as nuvens escuras, provocando uma luminosidade que cegava. Pestanejou, para se habituar à nova luz, mas por pouco tempo. Alguém se colocava entre ela e o sol, protegendo-lhe os olhos.
Era ele, que se ajoelhou-se à sua frente, de costas para o mar.
_Tu és tão, mas tão doida... deve ser por isso que gosto tanto de ti_ sussurou-lhe ao ouvido enquanto a beijava devagarinho e a deitava na areia.
Possuíram-se ali mesmo, enquanto as gaivotas que entretanto tinham vindo espreitar gritavam lá no alto em círculos de Amor.

Cala-te, boca!

_ Terapeuta, chegou o doente novo.
_Qual doente novo?
_O sr. António...
_Quem?
_Aquele senhor que tem Dupuytren.
_ Ah! ( Isto de conhecer os doentes pelos diagnósticos é muito feio, mas é assim na realidade).
Mas vem com hora e meia de atraso... Bom, mande entrar.

Alto, perto de 1,90 m.
40 anos bem conservados.
Corpo de quem pratica desporto regularmente.
_ Bolas, ri-me eu, para dentro.... e só tenho que lhe tratar a mão.

Lá expliquei ao senhor, enquanto o tratava, a importância de chegar a horas ao tratamento.
_ Mas eu venho de Castelo Branco, disse ele.
_Ora, mas agora com a A23 isso fica a meia hora daqui!
_ Hum... mas isso é se ninguém nos vir, respondeu ele com um brilho nos olhos.

O meu sexto sentido aconselhou-me a mudar de assunto e o resto do tratamento lá decorreu normalmente.
Quando ele saiu, chamei a recepcionista e disse-lhe:
_Fernanda, vá ao ficheiro deste doente e verifique a profissão dele, por favor.
_ Com certeza, Terapeuta. Só um minuto... Já está. É da Brigada de Trânsito.





abril 02, 2005

ATENÇÃO: Este poste pode eventualmente ter frases chocantes

Isto vai ser complicado, porque me vão cair em cima. Mas tem que ser dito.
Tive uma educação católica. Fui batizada, andei na catequese, fiz a comunhão, casei pela igreja. Enfim, um percurso normal de uma mulher de 40 anos em Portugal. Sem concordar com a maioria dos dogmas religiosos, aceitava-os passivamente.
A partir da idade adulta, o meu lado científico começou a questionar a questão da Fé e da Igreja, tendo-me tornado agnóstica. Há uns anos a esta parte, o Ateísmo tornou-se a minha forma de estar perante as " questões de deus".

Dada esta explicação, espero que aquilo que vou dizer seja compreendido de forma imparcial.
Não gosto do papa. Não tenho nada contra ele como ser humano, mas não gosto daquilo que ele representa. Enoja-me o luxo ostentatório do Vaticano quando há tanta pobreza no Terceiro Mundo. Ou a Igreja só toma conta da pobreza de espírito?

O senhor está velho, cansado, acabado. Teve uma vida cheia, a missão teoricamente cumprida.Tem o direito de morrer em paz, sem tanto mediatismo à sua volta.
Os cardeais a esfregar as mãos ,pensando será desta a minha vez?, com a sede de poder que tanto condenam nos outros, guardando-a ciosamente dentro de si.

E, egoisticamente, estou FARTA de ver papa hóstias a rezar o terço na TV, como se chorassem a morte de um familiar querido.

Já chega de palhaçada, não? O senho que faça um favor a todos, inclusivé a si próprio. Que morra depressa. Com a pouca dignidade que lhe resta.

abril 01, 2005


Parou o carro.
O silêncio era quase total, entrecortado muito ao longe pelo vaivém contínuo das ondas de um mar que não conseguia ver.
Descalçou os sapatos antes de sair e, ao colocar os pés no chão, sentiu a aspereza do solo na planta dos pés. Agradou-lhe a sensação e caminhou descalça ao longo do trilho, por cima de pedras pontiagudas misturadas com seixos rolados. Reparou em pequenos pormenores, como uma lagartixa que fugia à sua passagem ou uma frágil flor abrigada à sombra de uma rocha mais alta.
O calor húmido que se fazia sentir começou a deixar-lhe a roupa colada ao corpo e, à medida que ia andando, foi-se libertando dos trajes; despojos que foram ficando para trás, por um caminho que ela sabia não ter retorno.

Chegou ao alto de penhasco apenas de roupa interior e viu pela primeira vez o mar em toda a sua plenitude. Encheu os pulmões de ar, diversas vezes. O vento era forte, ajudava a que se sentisse penetrada pelas forças da Natureza com quem queria partilhar-se.
Lá em baixo, após um caminho íngreme , estava o areal. Desceu com cuidado para não deslocar uma pedra que fosse e assim perturbar o equilíbrio natural do espaço.
O mar estava agora à sua frente;imenso, poderoso. Entro nele, lentamente, deixando a espuma cobrir-lhe o corpo nú.Como se de um amante se tratasse.
Mergulhou, cada vez mais fundo.
Deixou então que as lágrimas lhe corressem no rosto. Porque o mar também é salgado e iria perceber.